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Apelo à imaginação de objectos evocados

Recomendo vivamente uma visita à Exposição no Museu da Eletricidade, que irá ficar até ao mês de Setembro onde se encontra a mostra de uma colectiva de nove autores, seleccionados entre mais de 700 candidatos, o número mais elevado desde 2000.

Cada vez é mais complexo efectuar-se a selecção de novos artistas. Alguns dos parâmetros obedecem a um grau de exigência elevado, rigor, ao percurso pessoal, à originalidade, à forma de comunicar os conhecimentos sólidos num leque de temáticas abordadas. Existe um risco na escolha por existir também um grau de subjectividade, mas são estas as regras. O conjunto dos finalistas é formado por Mariana Silva, Joana Escoval, Pollyanna Freire, Manuel Caldeira, Teresa Braula Reis, Vasco Futscher, Marco Pires, João Grama e Nuno Vicente, qualquer deles nascidos entre 1975 e 1990, destacando-se com uma carreira recente nas artes visuais com formação e experiência internacional.

JoanaEscoval
Joana Escoval

A noção de criatividade parece não ter sido um factor determinante para a sua selecção; dando lugar à mestria, ao domínio da técnica dos materiais manuseados e à escolha de um assunto actual. Repensar o mundo para preservar o património artístico. Foi neste âmbito que a obra de Mariana Silva foi distinguida onde o Júri justificou a consistência do percurso e a pertinência das questões levantadas em torno da reflexão na área da preservação de objectos do património cultural, onde os monumentos se encontram em perigo. A maioria dos artistas trabalha em Portugal, com excepção de Joana Escoval (residente em Londres); Nuno Vicente (encontrando-se em Berlim) e Mariana Silva que vive em Nova Iorque. Não se encontra ali a desenvolver um trabalho artístico, mas tem um emprego como editora de conteúdos numa Revista on line.


João Grama

A área da instalação foi escolhida na maior parte dos autores com recurso a materiais da escultura às novas tecnologias, não deixando de existir projectos sob formatos no suporte do desenho ou da fotografia como em Marco Pires ou João Grama. Gostaria de definir o desenho como o domínio autónomo entre o visível e o pensamento, não se tratando de um objecto, mas de um território de acção, como diz Pollyanna. Verifica-se que grande parte destes autores tem uma formação em Pintura, aliás ela atravessa de uma forma transversal, oferecendo uma vitalidade expressiva na linha expositiva através do sentido cromático das peças e de uma relação da bi e tridimensionalidade.  Manuel Caldeira propõe esculturas entendidas como objectos mistos que não se filiam numa única disciplina; por sua vez, Mariana Silva levanta as mesmas preocupações mas através de monitores com animações digitais e um vídeo com projecções digitalizadas em 3D. As composições não têm que ser particularmente sedutoras do ponto de vista formal, onde a maioria dos projectos como de Escoval e Pollyanna são de reduzida volumetria, pequenos gestos que pontuam e ritmam o espaço. As obras são constituídas por esculturas e objectos reapropriados do quotidiano, colocados directamente no solo ou na parede, num exercício intuitivo no qual surge uma certa semelhança com a linha de Ana Santos e mais remotamente no universo plástico de Ana Jotta.

As peças de cerâmica dispersas no solo, num jogo sem tabuleiro, funcionam como corpos numa coreografia estudada que falam por si, de Futscher. Na mais jovem autora Braula Reis, a arquitectura ganha uma presença especial no seu trabalho. Trata-se da configuração de uma casa que até ao final da exposição vai ruir, remetendo a obra para uma estética de ruína, elemento recorrente que tem fascinado os artistas. O seu material de eleição é o cimento, sinónimo de durabilidade. Mas aqui até esse é efémero, havendo uma contradição porque se associa o cimento à estabilidade e à solidez na construção. Os escombros ficam depositados no solo testemunhando um passado, numa alusão ao factor tempo.

TeresaBraulaReis
Teresa Braula Reis

Dada a subtileza das intervenções a função expositiva, torna-se cada vez mais importante, passando a desempenhar um papel crucial. As peças precisam cada vez mais de um espaço para habitar. Penso que neste caso não foi inteiramente conseguido. Os espaços que acolhem as obras estão demasiado abertos, gerando alguma perturbação visual. O artista não tem um espaço inteiramente definido, mais individualizado para a sua linha de criação, havendo uma partilha do lugar criada pela sua confluência. As obras de cada autor necessitam de respirar e esse aspecto não foi suficientemente acautelado. Em qualquer dos trabalhos impõe-se um discurso plástico coerente sob a forma de caminhos que só com persistência poderão prosseguir com firmeza e convicção.

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