Imagens: Chili Com Carne, MMMNNNRRRG, Signal Rex.
O vértice que faltava para a conclusão do tríptico muito particular que a Umbigo engendrou para o lançamento da edição deste ano do Milhões de Festa. Na zona do Palco Taina prestem atenção à Necromancia Editorial – espaço dedicado às edições independentes. Saber o que se pretende com o mesmo, como se enquadra num Festival como o Milhões e no contexto mais vasto da cultura DIY (do it yourself) foram alguns dos temas abordados na conversa com um dos seus organizadores – Marcos Farrajota.
O que é a Necromancia?
Necromancia Editorial é um minimercado de edição independente no seio do Festival Milhões de Festa, oferecendo ao público a oportunidade de ler livros ao invés de tirar fotografias à comida para colocar no Instagram.
O que se pretende com a edição deste ano?
O de sempre, promover edição independente portuguesa num contexto de cultura musical urbana... apanhar desprevenido quem pensa que um festival de música não tenha outras componentes culturais a não ser t-shirts, decibéis e cerveja morta.
Quais as principais diferenças em relação aos anos anteriores?
Mais editores e um homem-salsicha!
Quantos editores vão participar e quais os critérios de aceitação dos mesmos?
Chili Com Carne, MMMNNNRRRG, Signal Rex e Xavier Almeida... O critério é que estes editores costumam estar no Milhões de Festa, gostam do ambiente e como tal querem partilhar o seu trabalho com o público.
Como surgiu o convite por parte do Milhões?
Terei de sacrificar um coelho numa cerimónia narco-especial porque já não me lembro como surgiu isto, talvez tenha sido o Fua que se lembrou de fazer uma parceria Milhões e Chili Com Carne... andámos uns anos a engonhar sem saber o que fazer ao certo até que há 2 anos arrancámos com o mercado no palco mais fixe do festival, o Taina.
Como se enquadra num contexto de festival de música uma feira deste tipo?
É perfeito. As bandas e a programação do festival é de música independente, a produção que oferecemos também o é por isso não há nenhum choque. Aliás, penso sempre como complemento, até porque como a Chili tem um catálogo sobretudo "gráfico" (BD, desenho, ilustração) alinha perfeitamente com a música que precisa sempre de imagens nos seus materiais promocionais e registos fonográficos!
Não tens receio que seja visto por muitos como mais uma feira de merchandising em que se vende de tudo um pouco?
Não, claro que não, não temos livros com as bandas que tocam lá nem estamos a fazer nenhuma espécie de concorrência. São produtos completamente fora do espectro mercantilista da organização e das bandas. São livros na essência, é raro uma banda ter livros e traze-los numa tour!
O que ficará da Necromancia para lá da data do Milhões? Haverá alguma edição específica? Um trabalho específico?
Nada, quando se morre é para sempre, só os cristãos é que têm a mania da ressurreição, um nojo, né? Imagina ressuscitar na mesma carne podre que te matou!
Já andas nisto há algum tempo. Como vês o panorama das edições independentes neste país? O que mudou e o que te causa ainda muita urticária?
Acho que está a crescer e amadurecer, cada vez há melhores projectos. E realmente é estranho que no passado estes projectos poderiam ter mais visibilidade nos mass-media do que nos dias de hoje, em que os produtos até são melhores e mais consistentes. Até diria que assim podemos ver que até a edição independente diz mais do estado da cultura comercial do que a comercial diz de si própria.
Num país quase paralisado em termos de crítica e onde muito dos ditos movimentos alternativos se aproximam do mainstream faz cada vez mais sentido a lógica do DIY? De que forma se podem construir caminhos alternativos?
Não vejo o sentido desta pergunta. Não vejo "alternativos" a aproximarem-se ao "mainstream"? Aonde? Quem? A lógica DIY continua a ser o melhor caminho se queres ser TU mesmo a controlar o teu trabalho a 100%. Fazes como achas que deve ser, lanças como tu queres e quando quiseres e fazes as parcerias com outras entidades que têm as mesmas afinidades estéticas e intelectuais; mais alternativo do que isto não conheço. Pelo facto da cultura DIY poder ser reproduzida por oportunistas, betos, publicitários e o sistema capitalista, em nada lhe tira o valor que tem. É que o DIY é ético não é apenas "faz tu mesmo" como o Ikea ou Leroy-Merlin; tem um espírito especial que quem o copia pela superfície é fácil de perceber que é uma treta. What?