Ser poeta não é só ser escritor, é com uma caneta, papel e lágrimas conseguir desflorar um jardim inteiro. Assim era Florbela Espanca, e continua a ser, imortalizada, nos seus poemas intemporais.
Carregada de uma alma tão atribulada, Florbela passou metade da vida a amar e outra metade a escrever sobre o amor. Mulher de variadíssimas paixões, não encontrou em vida uma relação que a preenchesse, tendo sido casada três vezes.
As perdas da mãe, muito nova, e do irmão, num trágico acidente de avião, evidenciaram a dor que sempre retratou nos seus poemas e foi a morte deste último que levou a poetisa escrever o conjunto de contos As Máscaras do Destino, de onde é possível extrair estas palavras: "Este livro é o livro de um Morto, este livro é o livro do meu Morto. Tudo quanto nele vibra de subtil e profundo, tudo quanto nele é alado, tudo que nas suas páginas é luminosa e exaltante emoção, todo o sonho que lá lhe pus, toda a espiritualidade de que o enchi, a beleza dolorosa que, pobrezinho e humilde, o eleva acima de tudo, as almas que criei e que dentro dele são gritos e soluços e amor, tudo é d’Ele, tudo é do meu Morto!". Um ano mais tarde, tentou o suicídio pela primeira vez, morrendo aos 36 anos pelas suas mãos à terceira tentativa.
Autora de várias obras, é em Sonetos que se pode ler o essencial de Florbela; aqui, conseguimos perceber a sua escrita direcionada para o Eu e a necessidade que tinha de escrever, como que se fosse um meio de salvação, um refúgio, uma forma de gritar a impossibilidade de viver que tanto Florbela retrata nos seus poemas. Podemos ler essa ansiedade no soneto a seguir: "Eu... /Eu sou a que no mundo anda perdida, /Eu sou a que na vida não tem norte, /Sou a irmã do Sonho, /e desta sorte Sou a crucificada... a dolorida... /Sombra de névoa ténue e esvaecida, /E que o destino amargo, triste e forte, Impele brutalmente para a morte! /Alma de luto sempre incompreendida!... /Sou aquela que passa e ninguém vê... Sou a que chamam triste sem o ser... Sou a que chora sem saber porquê... Sou talvez a visão que Alguém sonhou, Alguém que veio ao mundo pra me ver, E que nunca na vida me encontrou!"
Melhor que ler este artigo escrito com uma mão esquerda carregada de prosa é ler o livro Sonetos, de Florbela, também eles escritos com uma mão esquerda carregada, mas esta com a mais bela poesia.
Podemos encontrar este livro à venda, online, aqui, e em variadas livrarias espalhadas pelo país.
O filme Florbela, de Vicente Alves do Ó, com Dalila Carmo, Albano Jerónimo, entre outros, retrata a vida da poetisa. Podemos ver o trailer aqui.
"Os portugueses parecem-me saturados de versos, e eu, francamente, um pouco saturada de os fazer…"