ARTISTA ENTREVISTA ARTISTA

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Fotografias: PR (do livro photo-performance Systemic Observations)

Conheci a Natércia Caneira através do João Vilhena, e assim sendo esta entrevista é um pouco como um cacho de cerejas. Puxa um par e vem outro atrás. O importante é que sejam saborosas!

Em que estás a trabalhar neste momento?
Neste momento estou a trabalhar para uma nova exposição que irei inaugurar em Maio.

Vi uma única exposição tua, na Plataforma Revólver. Chama-se Morphogenesis – Placebo Effect and Binary Oppositions.
Trata-se de uma das minhas instalações site-specific que fiz em Março do ano passado. Baseava-se nas dicotomias do Homem contemporâneo face ao seu desejo de alcançar o supra-humano.

A parte mais agradável era comestível... e uma peça muito bonita, evanescente, que ganhava força própria quando nos era dito que a coisa comestível (múcua) era o fruto do embondeiro, uma árvore mítica africana. Como chegou esta espécie de pão da savana a Lisboa?
A múcua chegou por avião da Guiné Bissau e a escultura fundamentava-se na medicina tradicional indígena, que atribui à múcua um valor terapêutico. A múcua é um fruto que além do seu efeito placebo, tem propriedades comprovadamente benéficas para o ser humano.

A outra peça que me impressionou, mas pela negativa, foi a instalação com sangue, não por causa do sangue, que é de um encarnado bonito, sobretudo quando está fresco, mas porque vi naquele sistema circulatório, muito hospitalar, mais um sinal típico de alguma arte feminina, de onde parece suar uma relação convulsiva, dramática, auto-destrutiva com o corpo cuja morfologia, as suas pregnâncias, foram desenhadas pela evolução para agradar aos machos.
Falas do segundo núcleo da exposição e da obra em que abordo as transformações químicas por acção mecânica. Possivelmente, e uma vez que cresci entre atletas de várias modalidades mas sobretudo do ciclismo, a minha convivência com a superação  física permanece  nos  meus trabalhos. Neste núcleo, além do sistema circulatório, estavam expostos vários frascos de medicamentos intravenosos e seringas usadas. É uma peça que indicia o uso de doping no desporto. Falo aqui de recordes olímpicos que superaram limitações biofísicas e que estabeleceram ideais supra-humanos muito difíceis de transpor sem recorrer a induções artificiais.

Natercia-b

A discussão feminista, que adormeceu durante o pós-feminismo e sobretudo durante o sexismo protagonizado pelas fêmeas-espetáculo, parece estar a regressar, nomeadamente enquanto disputa territorial contra o predomínio cioso dos machoa da cultura. Como relacionas a ideia de fluidos corporais – muito frequentes na arte contemporânea de algumas artistas – com estas minhas inquietações teóricas?
Parece-me que tens inquietações teóricas situadas algures nos 70.

Por vezes parece-me que as artistas não conseguem dissociar a arte que fazem da sua cronologia sexual...
Aqui temos opiniões diferentes, pois eu acho que existe uma grande variedade de abordagens que não são de cariz sexual.

Como te vês a crescer na arena da arte contemporânea (molecular, corpórea, espacial) e na arena frenética da arte que chamo pós-contemporânea (hoje basicamente circunscrita aos écrans dos telemóveis)?
Definitivamente agrada-me a ideia de movimento frenético de que falas, isso torna mais excitante a nossa capacidade de adaptação a novas situações, por isso vejo-me a expandir o meu trabalho em vários suportes para além do écran de telemóvel e mais próximo de obras performativas.

Onde pensas estar daqui a um ano?
Estarei envolta em novos trabalhos.

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