Fotografias: Miguel Silva Rocha.
Nesta primeira mesa redonda, o PFM sentou-se à conversa com um grupo de young designers, e fez a pergunta que está na cabeça de muitos sobre as estratégias que têm ou pensam adoptar de forma a implementar a suas marcas no mundo global da moda. Naquela manhã de sábado, atingimos o jackpot! Não aquele que responderá a todas as dúvidas que pairam no ar, mas antes o de conseguir juntar este grupo que se desmultiplica semanalmente em vários papéis nas suas marcas próprias. Eles são directores criativos, comerciais, administrativos, costureiros, designers gráficos, formadores, e muito mais. Tudo em prol de um sonho. O de fazer vingar o seu nome, a sua marca e a sua visão estética no mar de opções que pauta a indústria da moda.
A conversa começa quente, discutindo-se a falta de apoios e estruturas de auxílio à criação dos negócios destas pequenas marcas de autor. Depressa se reformula toda a conversa quando se questiona: "Qual o papel de estruturas como a ANJE ou o Portugal Fashion no auxílio dos seus projectos?". São rápidos a responder que mais do que outras, estas estruturas desempenham um papel fundamental no showcase das suas marcas/criações no panorama internacional. Exposições, feiras e desfiles são alguns dos moldes que estas organizações disponibilizam aos jovens designers, como forma de um pequeno grande empurrão na direcção da tão esperada internacionalização. Nenhum vê a sua marca enquadrada no cenário nacional. A sua visão colectiva de criação de marcas globais não é apenas um desejo, mas sim uma necessidade.
Rapidamente, a conversa volta ao início. À origem, ao porquê do nascimento das suas marcas. Aqui, o que importou deixar dito é que estas marcas não surgiram da necessidade de fazer crescer a sua visão estética, mas antes o seguimento de um caminho já estruturado no panorama da Moda nacional que os conduziu ao que são hoje. Concordam que a participação em concursos de promoção e divulgação de criação determinou esse caminho, o que os conduziu à entrada nesta indústria como marca própria.
À saída do curso de design de moda no Modatex (todos estudaram lá), foram conduzidos a participar em concursos que promoviam a criatividade. Desenharam as suas colecções e no momento de apresentação das suas candidaturas, a decisão óbvia foi a de escolher o seu nome para dar voz às suas criações. Foram bem sucedidos! A sua criatividade foi mais do que aplaudida. Aquando da apresentação de uma nova colecção, não tinha sobrado tempo para pensar no conceito de marca. O nome já estava associado às suas criações, já existia algo que tinha sido construído e que não poderia ser apagado. A verdade é que os formatos promovem o criativo, não uma marca. Quando se aperceberam, a marca já era o criativo e não havia volta atrás.
Da esquerda para a direita: Mafalda Fonseca, Carlos Couto, Carla Pontes e João Melo Costa
Hoje, querendo mais, fazem uma analogia entre este seu percurso e o da construção de uma casa sem alicerces. Aqui, dizem, o trabalho foi iniciado pelo exterior, pelo que é visível e passível de ser apreciado pelo olho humano, sem uma estrutura ou uma base de suporte. Sem arrependimentos e com elogios imensos, aplaudem o tipo de iniciativas em que participaram e que os promoveram e ajudaram a lançar-se. No entanto, questionam-se como poderão colmatar esta falha estrutural que abala os seus negócios.
Com alguma pena, comentam a não existência de um verdadeiro negócio de moda em Portugal. A falta de profissionais que cubram toda a cadeia de valor é um dos problemas que abala os seus frágeis andaimes no caminho da reconstrução. Tentam procurar alguém com quem possam partilhar a visão da sua marca, com competências na área do marketing, da gestão, etc.
As escolas de moda e os meios em que se movimentam não são capazes de lhes trazer estas pessoas em formato de resposta. Questionam-se sobre qual deverá ser o papel das suas escolas, das escolas de moda, na formação deste tipo de profissionais. Mas a verdade é só uma, sabem o que querem dos seus negócios e estão conscientes de que não o conseguem fazê-lo sozinhos.
Como qualquer jovem empreendedor, na criação da sua start-up, estes young designers procuram os parceiros ideais com quem possam partilhar além da sua visão, a sua futura rentabilidade, e quem sabe, um novo modelo de negócio. Modelo de negócio este que acreditam assentar no olhar o futuro-presente da indústria, rompendo com a visão passado-presente que crêem ser a actual. Olham a saturação do mercado como uma oportunidade para embarcar numa nova forma de fazer o negócio da moda e de lançar e fazer crescer as pequenas marcas de autor. Mas mais do que respostas, estes jovens criadores procuram um espaço onde todas as dúvidas e perguntas possam ser discutidas.
Acreditam que o pensamento colectivo e a possibilidade de um debate aberto sobre estas questões possa ser em breve lançado. Dizem que onde há partilha de informação, há oportunidade para surgirem as respostas a todas estas incertezas. Então aí será hora de agir em comunidade, garantindo o seu lugar no mundo global da moda.