Com o Portugal Fashion a assinalar os seus vinte anos, assistimos, como na edição anterior, a uma fragmentação dos locais dos desfiles, o que o aproxima cada vez mais a semana da moda do Porto dos grandes eventos de moda internacionais. Quanto aos locais escolhidos este ano, temos uma vez mais os repetentes Palácio dos Correios e o já habitué edifício da Alfândega com dois novos locais; o Palácio da Bolsa, realçando o meu destaque para o salão árabe, e a abertura das portas do ginásio da escola secundária Rodrigues de Freitas exclusivamente para o desfile de Luís Buchinho.
No primeiro dia do evento no Porto o destaque vai para os desfiles de Pedro Pedro, Mafalda Fonseca e João Melo Costa.
Mafalda Fonseca, que apresentou a sua colecção no âmbito do espaço BLOOM, conseguiu inovar novamente. Depois da colecção T na edição anterior, apresentou agora K - KEEP MOVING BOYS, inspirada mais uma vez nos rapazes da criadora, com uma associação à tecnologia e à consequente insuficiência que isso gera no Homem. Uma colecção claramente arrojada mas masculina, utilizando cores escuras como o preto e o cinza e pequenos brilhos; os materiais foram as lãs frias, as peles e os veludos. É notável o crescimento da estilista, apresentando uma colecção que se mostra madura apesar de ainda ser considerada uma jovem criadora em ascensão.
João Melo Costa também se apresentou no espaço BLOOM, com uma colecção feminina e clássica. Foi clara a dicotomia existente nas peças apresentadas, reflectindo-se no uso de cores frias como o preto e o cinzento e em contraste com cores vibrantes e quentes – o vermelho, o rosa e o azul.
A encerrar a noite, Pedro Pedro voltou ao evento oito anos depois da sua última apresentação no Portugal Fashion; gostámos e aplaudimos este regresso. Uma colecção inspirada na dança, mais propriamente no ballet, usando materiais opostos como a lã e as transparências que se conjugaram de forma harmoniosa e agradável, optando por cores como o amarelo mostarda e o preto.
A abrir o segundo dia, os desfiles deslocaram-se para o Palácio da Bolsa e ocorreram em dois locais distintos: a sala principal e o salão árabe. O destaque vai para MEAN by Ricardo Preto e Estelita Mendonça.
Ricardo Preto apresentou as suas propostas para o outono e inverno de 2015/2016, para homem e para mulher, com uma colecção bem conseguida, apesar de não surpreender, e um intuito claramente comercial em que a diversidade de cores esteve patente (desde o preto, ao laranja, ao verde), aliada a diversos tipos de materiais como a lã e o neoprene.
Estelita Mendonça consegue melhorar o seu trabalho temporada após temporada. A colecção aparece aos olhos do público cada vez mais consistente e madura, mas ao mesmo tempo misteriosa, baseada em tons escuros em que a vontade de criar se assumiu como a sua génese.
Quase a encerrar a noite, Diogo Miranda arrasa uma vez mais no que toca à moda feminina. O estilista continua a firmar os seus passos no mercado da moda, tanto a nível nacional como internacional, tendo com este propósito apresentado recentemente a sua colecção na semana da moda de Paris. A colecção vai de forma sublime “beber” inspiração aos filmes de ficção científica, traduzindo-se em rigidez: as cinturas são definidas e as ancas exageradas, mostrando desta forma o contorno do corpo feminino, e usando cores como o preto e o azul. Ficou dada mais uma prova do porquê de Diogo Miranda ser um dos estilistas mais esperados do público feminino e não só. Apresenta peças cativantes, um óptimo casting e não descura a banda sonora.
No último dia, duas entradas novas para o espaço BLOOM – Align with Kay e Atelier CTRL. Vicri e Dielmar voltaram apresentar as suas propostas mais clássicas para o público masculino, com a última a celebrar 50 anos de existência e a colocar 50 modelos na passerelle.
Mas a ovação foi para Fátima Lopes. Conseguiu inovar com um casting exímio e um trabalho bem mais interessante do que tem apresentado nos últimos anos, com criações femininas e também masculinas. A aposta da criadora centra-se, uma vez mais, em peças clássicas e elegantes, com uma predominância de preto e o uso de diferentes materiais.
O “saldo” da trigésima sexta edição do Portugal Fashion é muito positivo. O evento continua a “mexer”, há inovação, há vontade e, acima de tudo, muito trabalho que se reflecte (em sintonia com o tema desta edição – Reflector) na qualidade do evento que tantas críticas positivas lhe tem valido.