Olá pessoas espantosas que me lêem. Obrigada por perderem tempo das vossas vidas a fazê-lo. A sério. O vosso tempo é o vosso bem mais precioso e se mo dão, só me posso sentir abismada e entusiasmada.
Esta é a primeira das crónicas semanais que passarei a escrever, a partir de hoje, para a revista Umbigo. Obrigada também a eles por este espaço de antena. Grata e abismada, mais uma vez.
Esta crónica é uma extensão do meu blog Comer Amor, lugar onde debito as minhas receitas e peripécias em busca de uma vida mais saudável e balançada. Em completo estarrecimento pela dimensão do nosso Mundo e das possibilidades que este me oferece, aprendi que consigo ser feliz e ganhar dinheiro a fazer aquilo que mais gosto na vida: escrever, cozinhar e viajar. Não é idílico e se não vos conseguir passar mais nada, passo-vos a inocência dos clichés que nos mandam seguir os nossos sonhos. Mas não me odeiam já, passei 33 anos da minha vida a encontrar a solução para este enigma. Hoje, com quase 35, ainda nem acredito na sorte que consegui atrair mas vamos não falar muito sobre isso, diz que dá azar. Ou não, os Budistas mandam contar as benções e não os dramas. Contrário ao espírito abundante, tento a ver se resulta.
Nesta crónica, vou maioritariamente dar-vos receitas, alguma conversa e dicas sobre como podem ter uma alimentação mais saudável, levar uma vida mais sustentável e auto-suficiente, sem terem que, para isso, ganhar o euro-milhões. Gostava também de desmistificar que esta moda do vegetarianismo e veganismo é para os ricos que têm dinheiro para ir às compras ao Celeiro todas as semanas. Felizmente, não é nada assim. Vou levar-vos comigo às compras e mostrar-vos que, na verdade, vão conseguir até poupar na conta do super.
Mas comecemos pelos básicos. Uma das minhas actividades profissionais engloba o ensino. Dou bastantes workshops e alguns showcookings, tanto para adultos como para crianças e uma das perguntas que mais ouço é o clássico: “então se eu não comer carne, vou comer o quê?”.
Ao princípio, achava sempre esta pergunta descabida mas depois, ao ver como ela se repetia, comecei a pensar no porquê.
Não, estas pessoas não são todas ignorantes da alimentação. Não podem ser. Há aqui pessoas super informadas mas mesmo essas sentem-se completamente perdidas sobre como se podem alimentar e manter a saúde sem os produtos animais. Têm todo o tipo de dúvidas e se a minha arrogância ao principio as achava patetas, hoje aprendi que são bastante válidas e importantes. Porque nos fazem compreender a condicionante social, cultural e educativa de alguns dos problemas que hoje enfrentamos.
Então e a proteína, e o cálcio, e a Vitamina B12? Onde é que as vamos buscar? Perguntam-me todos em uníssono. Alheios ao cálcio das amêndoas, dos espinafres, da rúcula, do tomate seco ao sol. De tantos outros vegetais. É que nunca ninguém também lhes ensinou que há bastante proteína nos legumes e que feijões e lentilhas, por exemplo, são excelentes fontes de proteína da mais elevada qualidade. Quanto à B12, é um assunto que gera, ainda, bastante debate na comunidade cientifica. No entanto, é aceite que esta apenas se encontra em produtos de origem animal que, por sua vez, obtêm esta vitamina através de certas bactérias, quer directa ou indirectamente. E esta é a única suplementação que um vegan ou vegetariano precisa: B12. Tudo o resto, há na Natureza mas importa seguir um plano. Importa ser inteligente na alimentação e variedade é a palavra chave.
Não deixem que a B12 vos assuste. É super fáci obter suplementos de boa qualidade e basta tomar uma vez por semana para ter a dose necessária. Esta suplementação é aconselhável mesmo a não vegetarianos e há estudos bem fundamentados que sugerem que a carência da B12 está na base do surto de depressões do nosso século e do século passado.
Parece que é a Natureza a dizer-nos que temos que voltar a sujar as mãos, estar em contacto com a terra, não esterilizar em demasia as nossas vidas dentro de caixotes de cimento. É que muitas das bactérias de que nos defendemos, são, de facto, nossas amigas. Sem radicalismos, tomem esta informação com uma colher de chá de xarope de ácer. E acima de tudo, informem-se. Não acreditem em mim, busquem informação. Vão gostar do que vão descobrir.
E de volta à questão: então se eu não posso comer carne, como o quê?
Aaaaah e agora estás prestes a descobrir todo um novo mundo! De cores, sabores, cheiros, sensações. É entusiasmante e libertador.
Tu tens o controlo da tua vida, da tua saúde. Tens o controlo daquilo que ingeres e vais ver abrir-se à tua frente todo um leque de escolhas, de ingredientes que nunca sonhaste existir.
Não vais ter que abdicar de nada. No início, quando ainda precisares de sentir sabores parecidos aos da carne e dos ovos e dos queijos, há tanto substituto, tanto por onde escolher que vais desejar ter descoberto este admirável mundo novo mais cedo. Sem os condicionantes.
Há um arco-íris de legumes, frutas, verduras, especiarias, leguminosas, massas disto e daquilo, farinhas de trinta por uma linha. Não te vão faltar opções. E quando te fartares dos sabores nossos, tens o Mundo todo à tua frente. Países como a Índia, onde a população tem uma grande representação de vegetarianos, são inspiração. Repara que eles tiveram milhares de anos para desenvolver receitas fantásticas, cheias de sabor.
Pensa em panquecas de farinha de grão, leite de amêndoas, queijo de caju, bifes de tofu, burgers de batata doce. E não, por favor, não metam sequer na cabeça que a comida não vai saber a nada e que vos vai deixar com fome.
Preparem-se para seguir o coelho da Alice porque este mundo onde estão prestes a entrar tem mais maravilhas do que só ajudar o planeta, diminuir o impacto ambiental, aumentar a vossa esperança de vida e a vossa saúde. Mais do que isso, é um paraíso para quem gosta de comer. Quem diria?
Até já.