Fotografia: Cristovão.
Antónia Rosa contribui desde sempre para a realização da ModaLisboa com um elemento que por vezes talvez passe despercedido mas que é essencial: a maquilhagem. Os rostos que desfilam na passerele têm a sua assinatura. Antónia foi uma pioneira da maquilhagem mais inovadora em Portugal, contribuindo para a evolução desta actividade até aos dias de hoje.
Antónia Rosa trabalha com a ModaLisboa desde a sua primeira edição. Em 2002, quando surgiu a Umbigo, a ModaLisboa estava a meio caminho da viagem que tem percorrido até agora. Fala-me da tua experiência como maquilhadora na ModaLisboa e como é que a tua profissão foi sendo vista desde então.
A ModaLisboa abriu-me muitas portas. Quando eu cheguei cá, o meu trabalho era muito diferente, em comparação com as outras maquilhadoras que trabalhavam neste mercado. E sabes como é, tudo o que é diferente demora mais tempo a ser aceite. Mesmo antes da ModaLisboa, demorei dez anos até conseguir com que as pessoas reconhecessem o meu trabalho como original e agora já tenho 30 anos de carreira. O meu trabalho era olhado como uma coisa esquisita. Eu era muito à frente e como não havia muitos materiais, eu fazia as minhas misturas.
Os próprios produtos de maquilhagem evoluíram ao longo desse tempo?
Muito, mesmo. Mas há 12 anos atrás eu já trabalhava como trabalho hoje, com produtos biológicos. A ModaLisboa trabalha sempre em exclusivo com uma marca que actualmente é a Shiseido, é bastante boa e tem tudo o que eu necessito. Mas a título pessoal, ao longo dos anos comecei a ficar farta das texturas dos produtos convencionais. A pele ficava sempre muito congestionada e os clientes nas maquilhagens que eu fazia no seu dia-a-dia não gostavam de se ver ao espelho. Comecei a fazer pesquisa e achei uma marca sueca que trabalha com ceras de abelhas e frutos, com novas cores e trabalhando cor contra cor. O meu trabalho entretanto começou a ser assim também. Eu não camuflo, não faço um trabalho linear em toda a superfície da pele. Corrijo em cor contra cor e neste momento estamos ao nível internacional, tenho muito orgulho nisso.
Ao longo destes 12 anos tens visto uma evolução do teu trabalho, do reconhecimento que tens na moda em Portugal?
Sim. Cada seis meses eu vejo isso, para já porque os estilistas têm cada vez mais confiança em mim. Numa das últimas edições eu fiz pelo menos dez conceitos, o que é raro, nunca faço tantos. Normalmente enviam-me uma imagem e pedem para eu fazer igual. Agora já conheço tão bem os designers e as suas colecções que eles me deixam opinar. Consigo aconselhar consoante a mulher que eles vestem. Eles confiam cegamente nas minhas decisões.
Isso dá-te uma liberdade enorme. É muito bom e notei muito isso no ano passado.
Não sei porquê, talvez porque os estilistas têm cada vez mais preocupações e mais coisas para fazer. Acho que eles vêm em mim uma pessoa em quem podem confiar.
Com que antecedência começas a trabalhar os looks de maquilhagem para os desfiles?
Uma semana. Isso não é muito... É muito pouco. Essa semana é de loucos,ando sempre com as malas atrás a percorrer os ateliers dos estilistas todos. Só com a Alexandra Moura, que faz sempre coisas tão elaboradas, é que eu tenho uma reunião duas semanas antes.
O teu trabalho durante os dias da ModaLisboa é muito difícil, com o stress e toda a pressão?
Eu sou muito exigente comigo própria, primeiro, para depois poder ser exigente com os outros. O meu trabalho não é difícil porque eu sou extremamente organizada. Antes da ModaLisboa eu dou formação extra aos meus profissionais e deixo-os errarem à vontade para depois não voltarem a fazer o mesmo. Na ModaLisboa estou sempre em cima deles mas num ambiente relaxado. Somos 40 maquilhadores e 40 manequins nos bastidores, mas sempre num ambiente muito tranquilo.
O teu trabalho na ModaLisboa é reconhecido ou passa despercebido?
É normal que às vezes passe despercebido... Acho que sou bastante reconhecida no que faço e já ganhei muitos prémios.
Como é que vês o estado actual da ModaLisboa e como perspectivas o futuro?
Eu agora já estou a ver as coisas com uma melhor perspectiva. Houve uma altura em que eu pensei que iríamos ter uma paragem como aconteceu há uns anos, pois financeiramente é insustentável. Mas tal não aconteceu, eles portaram-se muito bem na gestão e agora ganhamos muito menos, mas continua a ser a ModaLisboa. Continua a ajudar os portugueses a terem uma boa imagem lá fora, o que é excelente. A ModaLisboa tem mesmo de continuar, apesar dos problemas financeiros. Com cada vez menos dinheiro conseguimos fazer tudo na mesma. A ModaLisboa é boa para os maquilhadores se poderem mostrar, é boa para mostrar os manequins... Temos que pensar no nosso trabalho e naquilo que conseguimos fazer com as nossas ideias. Não há dinheiro que pague isso.
Ao longo destes 12 anos tens acompanhado a Umbigo. Qual é a tua opinião?
Para mim vocês foram sempre diferentes das outras revistas. Vocês dão a volta aos conceitos e as vossas capas são geniais. Adoro. Leio muito a Flaunt e eu comparo muito a Umbigo à Flaunt. Cada vez que vem cá um estrangeiro e mostro a vossa revista para ele ver o que se faz cá em Portugal. Os estrangeiros adoram a Umbigo. É uma revista diferente. Vocês estruturam muito bem a revista e têm artigos muito bons.