Fotografias: Carmo Sousa.
A problemática da ambição desmesurada pelo poder não encontra um tempo nem um espaço na nossa história. Montesquieu, Maquiavel, Cervantes ou Fromm (só para dar alguns exemplos), todos eles a seu tempo sentiram necessidade de versar sobre esse anseio egoísta que permanece nas sociedades contemporâneas. Mas foi William Shakespeare muito provavelmente aquele que melhor conseguiu ilustrá-lo através da peça de teatro MacBeth. Dois séculos mais tarde, o compositor italiano Giuseppe Verdi não se perdeu na tradução e transformou a obra numa das óperas mais reproduzidas de sempre. Agora em cena no Teatro Nacional de São Carlos.
Com a Direção Musical a cabo de Domenico Longo, e Encenação de Elena Barbalich, a performance do TNSC não nos mostra apenas um general MacBeth confuso (Ángel Ódena), motivado por uma profecia e instigado pelos desejos sanguinários da sua esposa (Elisabete Matos). Faz muito mais do que isso. Recorrendo muitas vezes a um jogo de reflexos provocador, convida-nos a participar numa introspeção desoladora, onde somos levados a concluir que todos nós temos um pouco de MacBeth.
Acontece que o privilégio de poder jogar ao jogo das cadeiras sem adversários tem os seus custos. Neste caso, o protagonista descreve o preço a pagar como uma eterna vigília, assente em travesseiros de espinhos. Declara-se incapaz de lavar as mãos, ainda que com toda a água do oceano, e acaba por incorrer num estado progressivo de loucura imutável.