PALCOS

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Fotografias: joaomakesphotos.com.

Mal vi que ia estar em cena A Casa de Bernarda Alba marquei logo na agenda, porque houve um dia em que também eu ensaiei esta peça apesar de não ter chegado a ir a cena, deixando por isso aquele sabor a pouco. Só muito mais tarde reparei que este espectáculo seria feito pelos alunos finalistas da Escola Superior de Tecnologias e Artes de Lisboa (ESTAL) e isto é relevante para tudo o que venha a ser escrito daqui em diante.

É uma peça complicada de manter interessante actualmente, creio, as cenas parecem-me muito clássicas e se não houver alguma inovação na encenação ou interpretações, vai ser só mais uma das milhentas Bernarda Albas feitas por todo o lado.

Aqui essa tentativa era visível nos figurinos das raparigas e na personagem da avó interpretada por um homem. As “cinco filhas feias” estavam nuas da cintura para cima, apenas com uns adesivos a esconder os objectos de desejo inaceitável, de volúpia e feminilidade, tudo o que Bernarda não queria que entrasse nas suas quatro paredes, e que no fim é solto por Adela como símbolo de revolta e liberdade. Foi mais ou menos como aquele antigo queimar de sutiãs.

Quanto a Maria Josefa, interpretada por Rodrigo Sousa Machado, foi uma boa ideia, engraçada, espevitando o público entre as partes mais sérias da peça.

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Nas interpretações é preciso distinguir a muito boa La Poncia de Daniela Serra. Não parece ter falhado um único tempo, uma entoação, muito activa e sempre com a energia certa, sempre presente, o que nem sempre acontecia com as restantes actrizes em palco.

Pareceu-me que um problema do espectáculo foi o ritmo. A passagem entre cenas e os silêncios mesmo dentro das cenas, mataram muitas vezes a energia, não havendo por vezes fluidez ou organicidade. Havia também discrepância na qualidade das interpretações, o que é legítimo tratando-se de uma turma de artes performativas e não de actores escolhidos um a um para o espectáculo. Talvez o cenário tivesse ajudado a preencher alguns vazios (havia apenas algumas cadeiras em palco).

Foi um bom espectáculo para olheiros, se é que ainda os há no teatro, se é que ainda se procuram novos actores quando se usam sempre os mesmo e, claro, são bons estes espectáculos para ver o que se anda por aí a estudar, a aprender, a experimentar.

A Casa de Bernarda Alba continua a ser um bom clássico para pensar as mulheres, a sociedade e a evolução de ambas. Ao ver este texto, aquelas cenas, é impossível não olhar com algum orgulho para o caminho que, apesar de ainda longe da meta, já percorremos.

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