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Fotografias: António Néu.

É por detrás de uma enorme parede de azulejos cinzentos que se encontra o estúdio de Ai Weiwei. Colocada num portão verde-mar, a placa 258 Fake revela o nome do estúdio. No interior, um quintal relvado e um pátio com vários gatos encorajam Ai Weiwei a lutar contra o regime. É neste espaço que o artista digere as atrocidades do governo chinês e as regurgita sob a forma de arte.

Não se pode dizer que Ai Weiwei seja um artista comum, é sim um polvo que se mexe e direcciona em várias frentes de batalha. Contorce-se para repudiar um regime que abomina, expressando-se através de várias formas. O Governo não gosta, aprisiona-o, persegue-o e controla toda a sua individualidade. No entanto, o artista continua, esbraceja e mostra ao mundo o quão difícil é lutar contra um regime para o qual a liberdade tem um significado tão diferente.

Foi detido a 3 de Abril de 2011 permanecendo na prisão até ao dia 22 de Junho. Soltaram-no e posteriormente colocaram-no em prisão domiciliar. As acusações residiram em evasão fiscal e divulgação on-line de pornografia, uma retaliação política por ter criticado abertamente o regime. Em resposta a este aprisionamento com base em falsas acusações, o realizador dinamarquês Andreas Johnsen deu vida ao documentário The Fake Case. Um filme que retrata Ai Weiwei enquanto artista e a sua luta diária contra o regime que o sufoca não só a ele como aos amigos e conterrâneos.

Após a detenção, as autoridades recusaram-se a devolver-lhe o passaporte, o que torna impossível a sua ida ao estrangeiro para fazer exposições. Mesmo quando viaja no interior da China, os agentes são omnipresentes. Câmaras de vigilância e perseguição constante: “big brother is watching you”. Não se poupam a esforços para tornar insuportável a vida de Ai. Este ano já ordenaram que duas das suas peças fossem retiradas de uma exposição num museu público de Xangai. Em resposta Ai diz: "Se, enquanto artista, não defender a liberdade de expressão, é como um agricultor que não rega a sua terra, ou um operário fabril que destrói a sua máquina”. Assim faz, continuando a sua demanda e as suas exposições; a última no Brooklyn Museum intitulada Ai Weiwei: According to What na qual incluiu a instalação S.A.C.R.E.D., uma colecção de seis caixas em ferro que recriam ao mínimo detalhe a claustrofóbica cela de prisão na qual permaneceu injustamente encarcerado. Meses antes foi a vez do museu Martin-Gropius-Bau em Berlim receber o seu trabalho numa exposição que tivemos o prazer de ver. Intitulada Evidence foi a sua mais extensa exposição alguma vez apresentada, tendo escolhido Berlim para o fazer através de obras e instalações concebidas especialmente para o museu: 3000 metros quadrados divididos por 18 salas. Foi a primeira vez que o museu organizou uma exposição para um artista que está proibido de sair do seu país.

Ai Weiwei não se designa apenas como artista e fez questão de realçar a sua atitude política ao longo da exposição, através de textos e comentários que desvendam os seus princípios e reflexões sobre a China e a forma como o país dialoga com o mundo ocidental. Nada na sua obra é feito ao acaso, desde a instalação Very Yao concebida com inúmeras bicicletas, colocada no átrio do museu, até Stools disposta na sala principal. Nesta última reuniu 6000 bancos de madeira a fazer lembrar os que eram usados na zona rural chinesa durante centenas de anos desde a Dinastia Ming.

O Governo não pára de o atormentar e Ai não para de lutar, como se ambos puxassem uma corda com todas as suas forças para perceber quem cai primeiro. O Governo comete a sua atrocidade e Ai responde através da sua arte. Um dia o Governo decidiu multá-lo em 1.3 milhões de dólares. Em resposta, as pessoas atiraram sobre o seu pátio várias notas de dólar em forma de avião. A quantidade foi impressionante e Weiwei representou este momento na instalação que fez para a sua exposição em Berlim. Esta demonstra não só a sua popularidade bem como a solidariedade do povo chinês relativamente à sua causa. Todas estas lutas e comportamentos nos remetem para períodos complicados da história. Neste caso, Ai Weiwei simboliza a liberdade e com ele transporta esta bandeira tentando de forma sôfrega libertar o povo chinês da opressão. Será que unidos vencerão?

O último post publicado no seu site data de 13 de Novembro de 2013 e mostra-nos a poética obra Moon desenvolvida em conjunto com Olafur Eliasson. Ao clicar uma esfera cósmica explode em triliões de partículas desvendando a imensidão do universo. Em seguida um statement poético: “Transformar o nada em algo – faça um desenho, faça uma marca. Conecte-se com outras pessoas através deste espaço da imaginação. Olhe para os desenhos de outras pessoas e compartilhe-os com o mundo. Faça parte da comunidade crescente que comemora a forma como a expressão criativa transcende fronteiras externas e restrições internas. Estamos juntos neste mundo. Ideias, vento e ar, ninguém as pode parar”. Ai Weiwei e Olafur Eliasson.

Com este olhar sobre a arte, o mundo e a vida, o pensamento viaja até esta esfera que se amplia numa enorme lua onde lemos frases como: “A vida é agora”.

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