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“A minha pintura é uma impureza que tende para a luz.”
António Dacosta

O Centro de Arte Moderna da Gulbenkian apresenta a partir de dia 17 uma retrospectiva comemorativa do centenário do nascimento do pintor António Dacosta. Figura ímpar do surrealismo em Portugal, Dacosta nasceu em Angra, formou-se na Escola de Belas-Artes de Lisboa, radicando-se em Paris em 1947, cidade onde, numa carreira com algumas pausas, exerceu crítica literária e pintou até à sua morte, em 1990.

Com curadoria de José Luís Porfírio, esta mostra procura dar uma imagem abrangente da obra deste artista. No seu conjunto a exposição combina vários núcleos como o surrealista dos anos 40, ou os recomeços de 80, com outros em que diferentes tempos se cruzam.

A mostra principia e termina com uma evocação da obra mais visível do artista e que todos já certamente vimos, o Coelho da Alice no País das Maravilhas que ornamenta a estação do Metro do Cais do Sodré, em Lisboa. Para além de um painel de azulejo, será exibido um pequeno desenho que esteve na sua origem. Num espaço paralelo serão exibidas ilustrações, iconografia, bibliografia, bem como desenhos e alguns apontamentos.

O corpo principal da exposição está organizado em cinco momentos desiguais, entre eles estão:

Cena Aberta: este núcleo adoptou o título de uma das pinturas mais significativas de Dacosta, realizada em 1940, obra emblemática que ajuda a definir o universo surrealista para onde convergem as coisas possíveis e impossíveis, reais e imaginárias e as criaturas inclassificáveis, como é o caso de Diálogo (1939), Gasogénio (1939), O Usurário (1940), ou Antítese da Calma (1940).

A Festa: a partir de 1942 dá-se um abrandamento do ímpeto produtivo inicial, substituído por sucessivos exercícios de estilo. A Festa, desse mesmo ano, é o maior sinal dessa mudança. Duas mulheres (1944) faz parte de uma curta série marcada pela influência de um cubismo tornado uma das línguas francas do modernismo. As outras pinturas apresentadas neste núcleo, realizadas em Paris, são exercícios de câmara e apontam vários caminhos.

Sul: neste núcleo verificamos uma geografia sentimental que sempre existiu: primeiro, de Lisboa em relação aos Açores e, depois, de Paris em relação a um Sul real e mítico. O Sul é também memória e contínua presença das mulheres, que vão das Meninas (1942) a um raro Retrato de Miriam (1965), ou à Imagem Perdida (1984) de uma maternidade. Este núcleo é também o lugar dos bichos, que Bicho Bichial (1982) evoca a partir de uma cantiga infantil. Mas há obras que podem resumir todo este núcleo, como Dois Limões em Férias (1983) ou Pós de Perlimpimpim (1983).

Paralelamente à exposição é lançado o catálogo raisonné de António Dacosta, o primeiro catálogo digital de fundo dedicado a um artista português. Este projecto pioneiro resulta de um trabalho desenvolvido ao longo de quatro anos e que se traduziu no levantamento de todas as obras de produção plástica do pintor, acompanhadas de reproduções e documentação alargada, desde as características físicas e materiais à sua história, ou ainda à antologia crítica das obras. Com coordenação científica de Fernando Rosa Dias, o projecto envolveu equipas de investigação, de museografia e de fotografia do CAM.

Até 25 de Janeiro.

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