MÚSICA

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Fotografias: David Polido e Pedro Roque (Asimov)

Ode a dois pêssegos.

Momentos históricos? Sem dúvida, do tamanho de umas Colunas de Hércules universais, não nos esqueçamos que todas as hipérboles são permitidas. Hawkwind é desejo de caminhar pelo cosmos em pezinhos de lã, conduzir uma máquina prateada, ser senhor do universo, nem que o mesmo seja só teu, que te permita imaginar uma conversa com Mozart e mandá-lo calar porque eles estão a tocar; eles, os que editaram Warrior on the edge of time. É no limbo, entre o real e o imaginado, que nos deixamos abraçar pelos esqueletinhos saídos das projecções dos Hawkind e mergulhamos em The Black Angels. Uma massa sonora penetrante, executada com uma perfeição técnica arrebatadora. Desconfias estares no meio de um sonho, numa cama de rede e alpercatas, mas assumes que é real quando um gajo de Cádiz se vira e exclama – “De p*** madre”. E mesmo quando pensas que mais é impossível, lembras-te - estás no Reverence, pode ser o último dia (13 de Setembro de 2052), mas ainda há mais. Há sempre mais, e mais é tudo. É Moon Duo, Palco Sabotage, e outra frase batida – inesquecível. Assim tinha sido, naquela noite na Zdb, e desta vez, a mesma densidade, o preto e branco labiríntico e flutuante, e o mesmo companheiro de viagens Jibóia, este no Palco Rio, no momento em que a noite se apaga e o dia quer sair. Continuas lá, imerso na neblina daquele rio e entre sintetizadores errantes.

Do nevoeiro, não se espera regresso do Rei Encoberto, nem muito menos a regeneração do país, mas acredita-se num caminho diferente. Seja com os históricos Mão Morta, de Braga claro está, de situacionismo na ponta da faringe inchada de Adolfo Luxúria Canibal, com todas as letras, de soluções radicais ou porque já são horas de matar ou considerando como hipótese o suicídio. Com os seus quase conterrâneos também há caminho, os barcelenses Black Bombaim (Palco Rio – final do primeiro dia), marcadamente stoner, singularmente excepcionais e amantes dos temas longos. Baixo, bateria e guitarra sem a companhia de Rodrigo Amado, Isaiah Mitchell e Shela como no Milhões de Festa. E eis que o meu pequeno Freud se atreve – “Cada vez gostas mais de temas sem voz”. Algum dia contradiria Freud? Sim é possível, ouçam Asimov. Com eles tudo. Banda sem contrariedades, da liberdade de um campo aberto, das combustões inesgotáveis. Não será difícil imaginar maquinações várias entre Carlos Ferreira (guitarra/voz) e João Arsénio (bateria) com Nikola Tesla numa garagem qualquer da periferia. Sim, eles são do Cacém, como tão bem os apresentou Ana Farinha, e ao ouvi-los desconfiamos que ser do Cacém dá mais energia que um prato de cereais, devia ser pequeno-almoço obrigatório nas escolas do país, mesmo sabendo que Algures no mundo é noite e tema como On Through the Night exija que fiquemos a pedir – Mais! Mais! Mais!

The Thelescopes, The Oscillation, Bardo Pond, Red Fang, Graveyard e o Sabotage na noite de apresentação. Tanto para escrever. Teríamos de ficar ainda na Valada. E quem não quer continuar por lá?

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