Fotografia de capa: Filipe Rebelo e Stick2target.
Conheci o Alexandre Farto em Janeiro de 2010, tinha ele 23 anos, apenas. Desde então, tornámo-nos amigos e parceiros noutros projectos de arte urbana tão visionários e desafiadores como o Crono ou a Underdogs. Para além de me ter rendido de imediato ao trabalho do Vhils, recordo ter ficado impressionada com a dimensão do seu talento e genialidade, proporcionais à serenidade, simplicidade e humildade, que hoje continuam a distingui-lo.
A técnica que utiliza na sua arte caracteriza-se por não acumular camadas, optando por fazer o inverso: descascá-las, dissecá-las. À semelhança desta, seria redundante acrescentar mais adjectivos, mais imagens, mais códigos à grandeza do trabalho e da pessoa que pautam a dimensão do Alexandre. Hoje é um dia muito especial para ele, não apenas porque inaugura Dissecção, mas pelo que representa para o Alexandre partilhar o que o move no seu processo, através do que faz e por quem é, em consequência da sua reflexão sobre a identidade e sobre a realidade urbana e humana que procura dissecar.
Mais do que uma exposição, esta é uma incursão pela reprodução interpretativa de Vhils sobre os ritmos das cidades, através dos emblemáticos rostos que nelas vem inscrevendo em paredes, em suportes de madeira, em papel ou em ferro, e na memória de todos nós, que nos deparamos com a sua arte, local e global, pelo mundo fora.
É com um incomensuravel orgulho que aqui partilho a imagem de uma instalação em esferovite, que reproduz uma das obras mais impactantes da exposição, e que só consegue ser descodificada visualmente, no sentido de ser perspectivada na íntegra, quando se sobe as escadas do andaime construído para o efeito. No caso do Vhils, não é preciso subir mais nenhum patamar para se percepcionar a dimensão da poesia visual que constrói através dos seus processo destrutivos, à escala da imensidão criativa e humana do artista que é o Alexandre – o Grande –, com apenas 27 anos.
Um abraço muito sentido para o Alexandre e para a Pauline Foessel, grande cúmplice desta aventura, num dia tão especial quanto o de hoje. A não perder, Vhils / Dissecação, Fundação EDP, Lisboa – Inauguração, 4 julho, 19h00 (exposição patente até 5 de Outubro).