No ano em que comemora o seu 11º aniversário, o IndieLisboa continua a apostar no que sempre definiu a sua identidade: apontar o caminho para o cinema que está no horizonte, a nível nacional e internacional.
Com início no passado dia 24, o festival abriu portas com uma secção dedicada às comemorações do 40º aniversário do 25 de Abril. 'República dos Cravos – 25 de Abril Sempre' albergou uma série de obras sobre as questões políticas e sociais ligadas à revolução e pós-revolução.
No entanto, até 4 de Maio, a presença do cinema português não fica por aqui. Ao todo, fazem parte da programação 44 obras nacionais, 21 das quais estão em competição oficial.
Após uma interrupção de dois anos, o IndieLisboa traz de volta a secção Herói Independente, desta vez dedicada à cineasta francesa Claire Simon. Entre outros, serão exibidos Géographie Humaine e Gare du Nord. O primeiro é um documentário sobre o dia-a-dia da estação parisiense da Gare du Nord e o segundo uma obra ficcional inspirada pelas histórias retratadas no documentário. Este intercâmbio entre a realidade e a ficção é a essência da obra de Simon que, desde a década de 90, tem caminhado entre um género e outro com igual profundidade.
É de assinalar também o 10º aniversário do IndieJúnior, uma ferramenta essencial para aquela que é uma das missões assumidas do festival: formar novos públicos. “O IndieJúnior tem crescido com o festival e é feito com os mesmos critérios de exigência que acompanham a selecção de filmes para qualquer outra secção do IndieLisboa – originalidade, criatividade, relevância temática – mas adaptados a faixas etárias específicas, compreendidas entre os 3 e os 15 anos. Temos a percepção que, 10 anos depois, os primeiros espectadores do IndieJúnior continuam a ser nossos espectadores, mas agora das secções 'adultas'”, diz Nuno Sena, um dos directores do festival.
Chamamos ainda a atenção para a secção IndieMusic e para o documentário True. Realizado por Paulo Segadães, esta obra acompanha o processo criativo e a gravação do último álbum de Legendary Tigerman.
Para finalizar, deixamos Nuno Sena em discurso directo para nos falar um pouco mais sobre esta edição e para nos deixar algumas sugestões sobre o que ainda há para ver no IndieLisboa.
O IndieLisboa comemora este ano onze anos. Qual é o balanço que fazem desta experiência? O que é se tornou mais fácil e mais difícil?
O IndieLisboa mostra ao público as novas vozes do cinema independente de todo o mundo, um voto que fizemos há onze anos e que temos cumprido ao longo de todas as edições. Pode parecer um paradoxo, mas o que muda todos os anos no festival também faz parte da sua base e da sua essência: a oportunidade de descobrir novos cineastas que serão o futuro do cinema português e internacional. Isso é o principal e continua a ser tão estimulante (nem mais fácil, nem mais difícil) como quando começámos. O IndieLisboa amadureceu, mas continuará sempre a trazer boas surpresas aos espectadores que o acompanham.
O início desta edição foi coincidente com as comemorações do 25 de Abril. De que forma integraram isto na programação?
Começando na véspera da madrugada mais importante da história portuguesa, o IndieLisboa não poderia deixar de assinalar o 40º aniversário da revolução democrática. A celebração é feita através de um programa especial constituído por três novas produções que revisitam de forma diferenciada o país que éramos até Abril de 74 e a sua profunda transformação pela energia, o optimismo e a esperança trazidos pela revolução dos cravos. Les grandes ondes, uma co-produção entre Suíça e Portugal, traz um ponto de vista inesperado sobre os acontecimentos de 1974. Em registo de comédia, uma equipa da televisão suíça aterra no Portugal aparentemente pachorrento do dia anterior à revolução e acorda no dia seguinte num país liberto e eufórico. Em Outra Forma de Luta, Carlos Antunes revisita o seu passado de militância combativa a partir de 13 perguntas que lhe foram colocadas pelo escritor Nuno Bragança. Mudar de Vida documenta a vida e a obra de José Mário Branco, as convicções da sua geração na luta contra o Estado Novo e a guerra colonial, a sua prisão, exílio e regresso a Portugal, tornado possível pelo 25 de Abril.
O IndieMusic é uma das secções mais "pequenas" do festival, mas também uma das que nos tem oferecido algumas das obras mais interessantes. O que destacas nesta edição?
O IndieMusic volta a apresentar um conjunto de filmes sobre grandes nomes da música pop/rock mas também propostas vindas de outros universos musicais (música electrónica, música africana), aliando interesses melómanos e cinéfilos, pois o interesse temático não deve dispensar estas obras de terem igualmente relevância cinematográfica. Entre os grandes destaques da secção este ano, refiro os documentários sobre figuras como Fela Kuti, Bruce Springstgeen e Willis Earl Beal.
Entre as várias actividades paralelas, é de realçar o IndieMovingImage, que estende a linguagem cinematográfica a espaços exteriores à sala de cinema. Fala-nos um pouco sobre isto.
O IndieMovingImage, secção do festival dedicada ao cruzamento do cinema com outras práticas artísticas, regressa em formato mais ambicioso e com novos e prestigiados parceiros, como o Centro de Arte Moderna da Gulbenkian, a ZDB e o Museu do Chiado. Algum do melhor cinema contemporâneo já não está limitado apenas às sala de cinema tradicionais, mas estendeu-se até aos espaços museológicos e expositivos. Perceber o que estes novos filmes trazem ao alargamento de fronteiras do cinema e à sua contaminação por outras linguagens artísticas é o objectivo do IndieMovingImage, que é já quase uma secção paralela do festival.
Queres deixar-nos com algumas sugestões pessoais? Especialmente para estes últimos dias do festival.
Gostaria de fazer três sugestões de filmes que não referi anteriormente. No âmbito da secção Director's Cut, vale a pena ver (porque é uma oportunidade rara) a versão 3D de Dial M for Murder de Alfred Hitchcock. Na regressada secção Herói Independente, que este ano homenageia a cineasta francesa Claire Simon, há um documentário extraordinário a descobrir intitulado Mimi, comovente retrato da vida de uma mulher. Por último, uma sugestão de um filme que desmente categoricamente o mito de que o cinema independente é sempre sisudo: a divertidíssima comédia romântica Obvious Child.
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IndieLisboa
25 Abril a 4 Maio
Sessões na Culturgest, Cinemateca, Cinema City Alvalade e Cinema S. Jorge