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Na semana passada escolhi ir à Culturgest assistir ao espectáculo de André Godinho com a Companhia Cão Solteiro Day for Night. André Godinho está a realizar uma curta metragem e decidiu partilhar com o público as filmagens de algumas cenas no palco da Culturgest. Não se trata de apenas isto, pelo caminho há actores que parecem pertencer à equipa de produção e elementos da produção que se confundem com os actores. As luzes da sala estão acesas fazendo acreditar que não se trata de um espectáculo, mas sim um mero testemunhar de um cenário de filmagem, coisa de viagem de estudo. E isto até teria a sua piada durante pelo menos uma hora, para quem nunca viu este tipo de trabalho. Mas eu já tinha visto, portanto, esse elemento educativo para mim não existiu. Para outras pessoas deve ter existido. Bom, enquanto os actores no palco filmavam e repetiam cenas com a equipa de realização e produção, os bastidores simulados situavam-se na plateia, com peripécias, conversas e discussões típicas destas situações. Tudo a acontecer ao mesmo tempo, com múltiplas micro-narrativas em sobreposição, e o mecanismo parecia funcionar relativamente bem. Ao centro do palco, um monitor ia dando conta do possível resultado final de cada cena filmada.

O mecanismo montado é interessante e tem os seus méritos. Funciona. Ou pelo menos durante uma hora, não durante duas, como foi o caso. As narrativas de bastidores esgotam-se, as repetições das cenas, naturais eventualidades de um trabalho de filmagem, maçam o público. As piadas são feitas para os amigos e quem se ri são os amigos e colegas na plateia. Plateia essa que vai esmorecedo com o passar do tempo. Tudo vai perdendo interesse à medida que se percebe que este mecanismo deixa de ser alimentado a meio da peça. É apenas isso: um mecanismo. Interessante mas finito de possibilidades. A cena final, essa então, mata todo o espectáculo. Um texto chato e sem senso, uma cena velada por cortinas que nos obriga a olhar para o monitor (o que seria interessantíssimo se não estivéssemos já enfadados de morte) e várias repetições da mesma cena que nos matam tudo de positivo que este espectáculo tinha. O cruzamento e intersecção de teatro e cinema (o que é o quê?) falha por anorexia. Haveria muito por fazer, mais vida para levar a este dispositivo cénico, mas o resultado foi uma forma vazia de conteúdo e extenuantemente longa. Na semana passada escolhi ir à Culturgest assistir ao espectáculo de André Godinho com a Companhia Cão Solteiro Day for Night. Má escolha, podia ter ficado em casa.

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