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Domingo fui ao cinema ver o Ninfomaníaca, Vol.1, de Lars Von Trier.

Antes de entrar na sala, pressenti que queria escrever sobre o mesmo. Escrever e partilhar; sabendo lá eu com quem e/ou para quem. Que importa? A partilha é, nestas circunstâncias, sempre incontrolada.

Para que nos entendamos, espectadores ou não espectadores do filme, eis o que nos é apresentado como sinopse do filme: “Desde sempre que Joe se debate com um desejo sexual descontrolado e se vê a si própria como ninfomaníaca. Um dia, depois de um espancamento, é encontrada quase inconsciente por Seligman, um homem bondoso e celibatário que decide levá-la para casa, onde cuida dos seus ferimentos. Seligman acaba então por se tornar o confidente improvável desta mulher que decide contar-lhe a sua vida. Assim, em oito capítulos, ela recua à infância e faz uma retrospectiva dos 50 anos da sua existência através de histórias onde a tragédia se mistura constantemente com desejo, sexo e jogos de poder.”

Ressalve-se que estas palavras apresentam a totalidade do filme. Porém, e seguidamente só falarei do primeiro volume.

Sem estar influenciado pelo ruído estrepitante e tão expectável à volta do filme por esse mundo fora, mas também e sobretudo por terras lusas, importa dizer que, para esta pessoa que vos escreve, este não é um filme para se gostar ou para deixar de se gostar. É um filme que, ao tratar de um campo congénito do que é ser humano, me transporta para um lugar reflexivo, onde se descartam quaisquer comentários sobre os méritos ou os deméritos da realização ou, para avançarmos, se o filme é bom ou está bem feito, nem muito menos, assumindo a minha indisponibilidade para o fazer, se os actores são bons...

Não!

Ao visionar este filme, importa-me falar do impacto das suas imagens em movimento em mim. Ao longo do filme, dei por mim a pensar sobre a minha sexualidade e sobre a minha vida amorosa. Antes, conjugando tempos pretéritos verbais em todos os seus modos; agora, e sendo cada vez mais neste tempo em que me quero enraizar; e depois um futuro que é sabido que aí vem.

O filme inesperadamente abate as fronteiras jurisprudentes sobre aquilo que se convenciona ser uma vivência amorosa alinhada e uma sexualidade desamorosa, com base numa desentrega militante ao Outro.

Porém, e para que fique claro: não há vitoriosos, nem derrotados. O único momento de “competição” é apenas leitmotiv para um jogo entre duas personagens em iniciação sexual. Não se trata de ganhar porque se é melhor. Trata-se de ganhar porque se quer mostrar que se existe, sendo premiado por um saco de “Pintarolas aka Smarties”.

Apesar da apresentação narrativa e exposição sexual explícita das cenas – aspecto que Trier continua a não abdicar de compor e reproduzir – este filme fez-me embater com as concepções, acepções e contracepções sexuais, donde que foi e é um filme que me agita, perscruta e me impulsiona posicionamentos, assim como a todos os europeus, seja qual for a sua geografia.

Por agora, e admitindo que há certas ressonâncias carenciadas de uma pontualidade desejada, e não querendo abandonar a minha prosa, eis-me a querer fazer eco de frases ditas por personagens que registei, mas que não estou certo de ter conseguido identificar certeiramente.

Partilho-as para que possamos nelas habitar, em regime de time-sharing.

Frase 1

Joe: – Fui sempre uma pessoa que exigiu sempre mais do pôr-do-sol!

Frase 2

Joe: – “A sensação”, expressão que inventei quando subia à corda no ginásio e ficava lá em cima a senti-la!

Frase 3

Seligman: – O amor distorce as coisas! O amor é desejo acrescido de ciúme!

Frase 4

B – O ingrediente secreto do sexo é o amor!

Posto isto, este filme – de que falarei mais noutra altura –, agenciou-me esta frase de Robert Filliou há muito recalcada: “A Arte não é mais do que um meio para tornar a Vida mais interessante que a própria Arte.”

Desculpem. Tenho que entrar. Vou ver outra vez. A sessão começa às 22h15m e já são 22h17m e ainda não bebi café...

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