Fotografias: Vera Marmelo.
Vera Marmelo, Raquel Lains, João Paulo Feliciano, Luís Nunes (Walter Benjamin) enumerados pausadamente e, cada um, com determinação e orgulho. Ao aproximar-se do final do concerto David Santos “convida-os”. Não sobem ao palco. Não precisam. Estão lá, cúmplices. E eles You Can’t Win Charlie Brown (YCWCB), em modo de retribuição, não se esquecem. Um caminho de quatro anos, feito de velhos amigos. E novos, muitos deles pela primeira vez, aos quais se abriu a porta, no passado Sábado, do Grande Auditório do Centro Cultural de Belém.
Todos num universo familiar. Há bandas assim. Com a capacidade, independentemente da dimensão, física e simbólica do espaço, de o transformar na sala de estar, numa noite descontraída e de desfiar conversa. As melodias, a disposição em palco de cada um dos elementos, as canções (sempre elas) e indiscutivelmente, a cenografia idealizada por João Paulo Feliciano. O círculo perfeito, vermelho vivo ao centro. Impossível não ficar hipnotizado. Um sol? O núcleo da terra? Solaris? E de cada lado, quatro luzes. Na contra luz, os protagonistas. A apresentação de Diffraction/Refrection, o mais recente trabalho da banda, saído somente esta semana, adquiria ao longo do concerto, o estatuto de álbum de família. Temas como After December ou Be my World são para serem cantarolados mais ou menos em surdina e, constituem juntamente com os bem conhecidos I’ve Been Lost e Over the Sun / Under the Water, elementos de um universo identitário.
Não há equívocos. Assistir a um concerto dos YCWCB é regalo. A qualidade de cada um dos seus elementos, e de todos em conjunto, a versatilidade e a imaginação. Imaginação que transforma a fobia em relação às palmas em mais um elemento de elegância na composição. A uniformidade é aparente. Há tenistas que convivem mal com os passing-shot, com paralelas sobre as linhas, preferem os voleys, os amorties. Técnica em detrimento da potência. Aqui, também. O subconsciente, o meu pelo menos, pode pedir uma guitarrada, a desconstrução, mesmo que por ínfimos segundos, de um dos temas. Todavia, não é o momento. E o auditório, quase esgotado, sabe-o. Como tal pede encore. Duas canções em tom descontraído e em jeito de celebração. A prova de fogo tinha sido superada. A retribuição não tardou. O público rendido e com vontade de mais.
Em Lisboa, no Musicbox, nos dias 20, 21 e 22 de Março haverá nova oportunidade para confirmar a excelência deste projecto. E curiosidade de sobra para verificar como as canções vão ganhando corpo e novas subtilezas. No que diz respeito à música que por cá se vai fazendo nos últimos anos há valores seguros. Sem exagero os YCWCB são-no.