A Cultura de Projeto é o Cerne da Obra
A pretexto da instalação site specific Sem degraus à Sombra para a fachada do CAM por ocasião do aniversário do Centro da Gulbenkian, vou oferecer um olhar sobre a obra de um artista que tem já um extenso percurso no plano expositivo embora ainda numa idade jovem.
Possui uma formação consistente, desde uma Licenciatura em Escultura nas Belas-Artes e o Curso da Maumaus, passando pelas Belas-Artes em Berlim e mais tarde, o Mestrado em Artes Visuais em Londres. Na busca de uma formação mais aprofundada, Rodrigo optou, por escolher orientações diferentes. O que recebia de classicismo de um lado compensava em contemporaneidade do outro.
Preponderantes, foram os anos em que viveu no estrangeiro. Insere-se num grupo de criadores cujo desenvolvimento revela o conhecimento da linguagem de movimentos artísticos do Concetualismo e da Crítica Institucional onde questiona o museu enquanto instituição e os mecanismos do mundo da arte. Por detrás da elaboração dos seus projetos existe uma base conceptual numa linha coerente mesmo que a componente estético/plástica aparece valorizada de cores intensas, nas recentes intervenções de grande escala, passando a ter uma nova dimensão.
Ultimamente, uma das suas características e que o torna diferente é o facto de conseguir combinar uma prática minimal/conceptual e uma ostentação formal de grande efeito cromático como no seu projeto parede do MAM de São Paulo onde não deixa de considerar o envolvimento do espectador em interacção com a própria peça como parte integrante da construção tal como existe para a fachada do CAM, composta por painéis coloridos que mudam de tom quando manipulados pelo público. As obras devem viver por si e despertar pensamentos que as pessoas não sabem que têm.
"Encontrar espaços dentro do próprio espaço"
O seu percurso tornou-se mais complexo, porque passou a desenvolver várias vertentes em simultâneo, onde as peças não vivem apenas da aparência, mas sim de ideias e conceitos cruciais, apesar de permanecerem escondidos e submersos. O acto de experiência é o principal da sua prática artística. Segundo o artista é mais importante o processo que se encontra em aberto, numa fase de uma constante experimentação, que pode ser ainda uma indefinição do conceito de trabalho mas, ao mesmo tempo, é uma procura que considera espontânea e natural.
Uma das ferramentas artísticas utilizadas é a selecção de objectos que pertencem ao universo quotidiano e que são retirados do seu ambiente familiar, descontextualizados. A partir dessa transformação usa uma panóplia de técnicas, desenvolvendo em torno delas no seu novo contexto, uma certa ironia e estranheza pelo lado absurdo como sucede na instalação Uma Pedra no Sapato em que uns simples chinelos são concebidos com solas de mármores numa combinação entre a nobreza desse material e a banalidade das tiras de plástico.
Observa-se a coadunação de um processo metódico através de um desafio à percepção do real numa acumulação em jeito seriado de diferentes variações de materiais/objectos inseridos numa lógica, obtendo assim um resultado plástico bem sucedido no plano da perceção visual em que a estrutura formal não deixa de apresentar uma estética minimalista depurada.
Este aspecto é particularmente visível na escultura/instalação Casa, formada por caixas de fósforos fortemente coloridas colocadas umas em cima das outras, ora fechadas ora semi-abertas assemelhando-se imageticamente a pequenas habitações sociais.
Desde o início que a arquitetura das cidades e o espaço urbano sem excluir o muralismo tornaram-se cruciais nas composições reguladas através da materialização da ideia de grelha e de rede fazendo uma articulação com a escultura e a pintura, onde faz referências a Le Corbusier, Niemeyer e Ghery.
Opta por trabalhar os limites da multidisciplinaridade em vez de se restringir a um único suporte definido. Gosta de trabalhar em instalações site specific, numa reinterpretação dos espaços arquitetónicos que partem da reflexão sobre as funções destes, numa atitude de análise do sistema artístico como se pode ver na intervenção que realizou no Museu do Chiado.
Transformar o espaço, sem acrescentar nada de aparentemente novo, ou desvendar e revelar algo que já lá está tornando-o visível. Existe uma componente de efemeridade provocada pela precaridade dos materiais atingindo um ponto extremo onde as esculturas se vão destruindo para realçar o seu aspeto de ruína.
Podemos afirmar que existe nele uma sensibilidade estética e uma apetência para entender o mundo de uma maneira diferente; recodificando-o, aludindo de forma imaginativa ao próprio ato de descodificar as obras contemporâneas.