Fotografias: Magda Gouveia, Jorge Pereira e Nuno Francisco.
Não me recordo de ter tido anteriormente grandes motivos para me deslocar ao Cartaxo, até os organizadores da Cartaxo Sessions pegarem num auditório fantástico e ali fixarem a residência para programações singulares no circuito underground e low-fi. A este coletivo ainda acresce o facto de serem dotados de uma extrema simpatia de um acolhimento extraordinário.
Não querendo entrar nos clichés redutores do ruído, certo é que, na hora de levantarmos o bilhete, entregam-nos uma caixinha com protecções para os ouvidos com o logo da banda, portanto, eles próprios assumem esta característica.
Chegados ao auditório, temos para nos receber a banda portuguesa 10 000 Russos, um duo instrumental que me remeteu para aquilo que julgo ser digno de uma “desert sessions” sob o lema “deixa correr”; e seguimos viagem, lançados para um universo prog rock indie de guerrilha como alguém já referenciou.
Dos Bambara, a surpresa da noite (dias antes esta foi a banda confirmada para substituir os Sensible Soccers), não tinha grandes referências, apenas fiquei com vontade de voltar a ouvi-los melhor, pois foi um aquecimento perfeito para o que viria a seguir.
O movimento no auditório intensificou-se, os lugares sentados depressa ficaram vazios e todos quiseram ver de perto a banda que há meses aguardávamos: os enormes A Place to Bury Strangers. Numa espiral de som, luzes e muito fumo, vemos Oliver a dominar a guitarra com uma destreza ímpar, pés que se mexem freneticamente por entre os pedais, de seu nome Death By Audio (empresa da qual é coproprietário e cujo nome não poderia ser mais apropriado), a dar à audiência todo o feedback, fuzz e intensidade desejada. Ficamos na dúvida do que se movimenta com maior rapidez, se a luz ou o som.
O som do baixo de Dion Lunadon entra em duelo com a bateria bem marcada de Robi Gonzalez, e Oliver balança entre a construção e a desconstrução da melodia. É um caos controlado e premeditado, tão premeditado quanto a entrada de dois membros dos Bambarra, bateria e guitarra, para o remate final.
Queria mais, aliás acho que queríamos todos. À vontade de perpetuar aquela viagem sónica por mais tempo, valeu-nos a simpatia e amabilidade de Oliver compensando o facto de não podermos ficar a noite toda a testemunhar aquilo que muitos afirmam ter sido o concerto do ano; hipnótico e catártico quanto bastasse.
Com concertos destes, depressa se percebe o porquê das primeiras partes a determinadas bandas. Com a vossa licença e na minha humilde opinião, eles são já suficientemente grandes para sair dessa sombra. Fazendo jus ao nome, eles enterraram essas referências e já são uma fénix ressuscitada à luz de muitos strobs.
Alinhamento:
- deadbeat
- drill it up
- missing you
- ego death
- I will die
- you are the one
- keep slipping away
- why I can´t cry
- I´m so clean
- dead moon night
- don't burn the tires
- I live my life to stand in the shadow of your heart
- sunbeam
- ocean