Ai Weiwei é um dos mais conceituados artistas asiáticos da cena contemporânea. Artista chinês conceptual, designer, arquitecto e curador, activista político e filho do poeta Ai Qing, nasceu em Pequim em 1957.
Iniciou a sua carreira participando do grupo Xing Xing (As Estrelas), em 1979, formado por artistas chineses dissidentes da pós-revolução cultural. Em 1981 mudou-se para os Estados Unidos fixando-se em Nova Iorque por 12 anos. Nesse período, estudou na Parsons School of Design e Art Students League e tomou contacto com obras originais de artistas que se tornaram influências importantes: Jasper Johns, Marcel Duchamp e Andy Warhol. Como resultado, experimentou o conceito de ready-made num processo que permanceu ao longo de toda a sua obra posterior, utilizando objectos de antiguidades da cultura chinesa. O seu processo criativo por vezes era destrutivo: uma vez pintou um logótipo da Coca-Cola na parte lateral de um vaso da dinastia Han de 2000 anos. Com atitudes provocadoras herdadas do dadaísmo de Duchamp, Ai Weiwei procura discutir a natureza da obra de arte e o seu valor cultural.
O Centro Andaluz de Arte Contemporânea em Sevilha apresentou recentemente e pela primeira vez em Espanha a exposição Ai Weiwei, Resistência e Tradição que reuniu parte significativa da sua produção, com instalações, cerâmicas, vídeos e fotografias. O espaço físico do museu, que já foi um Mosteiro Cartuxo e posteriormente uma fábrica de porcelana, motivou a curadoria de Luisa Espino e Juan Antonio Alvarez Reyes a valorizar a produção em cerâmica. A obra de Ai Weiwei pôde ser apreciada a partir do conceito da estética da resistência, no qual o artista reflectiu politicamente questões referentes à própria linguagem formal conectadas ao seu contexto. Esta é uma característica singular dos seus trabalhos: utilizar e subverter a tradição cultural chinesa e a tradição artística ocidental como acto de resistência política. Nos últimos anos tornou-se numa das vozes críticas contra o regime chinês, o que resultou em perseguição e prisão em 2011.
A obra que imediatamente impressiona é Luz descendo (2007), um objecto monumental. Trata-se de um candelabro, construído a partir de anéis concêntricos com pequenas peças de cristal vermelho, com um sistema de iluminação eléctrica. Ai Weiwei representa a imagem de um lustre vermelho caído no chão, metáfora da China e das celebrações do regime comunista. Percebe-se ainda a influência de Marcel Duchamp e do seu Nu Descendo a Escada, não apenas pela similaridade linguística, mas pelo sentido de ruptura.
A instalação Sementes de Girassol (2009) é feita com cinco toneladas de porcelana pintadas à mão por 1600 artesãos da região de Jingdezhen. Nesta obra, o artista procurou confrontar as técnicas ancestrais de produção artesanal com a produção em massa da modernidade. Nesta linha, compreende-se a instalação realizada em parceria com o artista romeno Serge Spitzer, O fantasma Gu descendo a montanha (2005), que consiste em 96 vasos pintados em branco e vermelho, no qual são representados vários fragmentos de uma imagem do Período Yuan (1269-1368). A narrativa nos vasos refere-se à lenda de Guiguzi (Gu), um famoso guerreiro Wang Yi numa cena de batalha. A composição da instalação em forma quadricular reflecte a relação com a arte minimalista e com a fruição visual, pois as cores dos vasos mudam de acordo com o ponto de vista do observador.
Destaco também Sem título (Divina Proporção), de 2006, pelo sentido de volumetria e perfeito acabamento técnico, característica marcante da sua obra.