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Muitas das vezes dou por mim a pensar que super-poder gostava de ter. À cabeça, vem logo o poder da invisibilidade para poder ver e ouvir sem ser vista e, claro, poder fazer traquinices várias sem ser descoberta.

O poder do tele-transporte também me parece tão apelativo: ter tudo à distância de um estalinho de dedo, que sonho. Mas, pensando bem, o que gostava mesmo era de ter a minha própria banda sonora 24 horas, 7 dias por semana. E assim, com um pequeno pormenor, a minha vida transformava-se num musical tragicómico, num teledisco que podia ter influências tão díspares como Mark Romanek e Spike Jonze, até aos artistas anónimos dos vídeos da música pimba.

A verdade é que, já que não possuo esse poder intrinsecamente, todos os dias me tento enganar sempre que ando na rua com os auscultadores nos ouvidos. As paisagens familiares ganham novas formas, as figuras conhecidas das redondezas interpretam novos papéis e eu acabo sempre por ter o papel principal em qualquer das histórias que transbordam desta cabeça. Não vou cair na piada fácil de falar da Adelaide Ferreira, embora o tema "Papel Principal" faça parte do meu imaginário (obrigatório) musical.

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Hoje quero falar sim de um dos melhores álbuns do ano para construir novas narrativas com as caras e cenários do nosso quotidiano: Volume 3 dos She & Him, ou seja, o novo longa duração da dupla fofinha composta pela 'indie alpha girl' Zooey Deschanel e o compositor M. Ward. Não fossem eles dois personagens que por si só dão azo à imaginação, apesar de não haver uma real narrativa, o conjunto das 14 canções podem ser imaginados como um misto de temas festivos e solarengos com afirmações de força pessoal e resiliência que solidarizam concerteza com todos os que já sofreram dores de amor.

E que mais se pode pedir de uma dupla de twee pop se não a mistura das cores do arco-íris com a determinação do He-Man e da She-Ra, não em combater o mal, mas em afirmar que amanhã será sempre um dia melhor.

A receita é fácil: composições classicamente fortes, arranjos impressionantes, influências que vão do pop made in the 60's às fórmulas doo-woo sem grandes aventuras experimentais e a voz doce de uma das miúdas mais 'likable' da história da música, cinema e TV. Foram esses os elementos utilizados no primeiro e segundo álbuns e são estes os elementos agora aprimorados no terceiro.

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São estes os quatro elementos que compõem o 'neverending summer' dos She and Him ainda que com uma nuvem aqui e ali. Não é dos álbuns mais originais ou impressionantes do ano mas é uma banda sonora perfeita para as viagens imaginárias que todos devemos fazer.

Não minto que, às vezes, em vez de utilizar as palavras e harmonias para construir as minhas histórias, dou comigo a imaginar que estas são pistas para reconstituir os passos reais de Zooey e Ward. Mas este não é um álbum feito de colecção de imagens para que os outros os desvendem mas sim um exercício de auto-visão deles mesmos. E é nesse ponto que as canções ganham verdadeira vida ao criarem fora delas próprias.

Depois de sete anos de parceria, e de dois álbuns que não podem ser intitulados de outra coisa senão 'adoráveis' (por muito que me faça comichão esta palavra, é a verdade), os She and Him parecem ter encontrado finalmente o sítio mais confortável onde estar quando lado a lado. É esse conforto e auto-consciência que podemos reconhecer nos 14 temas que compõem o 3º volume desta amizade musical, é esse conforto que, hoje, fez das duas irmãs donas da mercearia do meu bairro, duas personagens num filme da Nouvelle Vague.

Já que o Volume 3 vai continuar em repeat nos meus ouvidos, sabe-se lá que papel vão elas interpretar amanhã.

www.streamr.eu/she-and-him-volume-3-14207/

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