“If there is a country in the world which to other countries, distant or contiguous, is more unknown or unexplored, more than any other country enigmatic and mysterious, this country is undoubtedly Russia.”
- 1861, Fyodor Dostoevsky
IMAGENS DO NEVOEIRO
“Que ideias fazemos da nossa cultura? Que ideias fazemos ao levar connosco os nossos padrões culturais para a visita a um país distante? Um indivíduo não pode ter a noção total da cultura do país em que está inserido, apenas tendo acesso ao conjunto de elementos dos quais faz parte ou com os quais se relaciona ou estabelece uma relação de aprendizagem. Por outro lado, ao viajar, apreende apenas aquilo que consegue reter num curto espaço de tempo. Não só uma cultura se manifesta de forma heterogénea e parcial, como quem a apreende tem em si mecanismos que filtram aquilo que diante dele se manifesta. Tendo isto em mente, viajamos para a Rússia, com amor na bagagem... terra cheia de mitos para nós, território frio e longínquo, rico em lendas e conturbadas narrativas históricas. O que se nos aparece aos olhos é sempre filtrado por estas e outras ideias que levamos connosco. Nuno Moreira está habituado a manter os olhos abertos, como captador de acontecimentos visuais, mais do que de meras imagens. E o que viu naquele norte foi um cruzamento de dois tempos num só. From Russia With Love fica assim entre as marcas de uma ideologia totalitária de glória gasta e os resquícios de uma mentalidade que ainda acredita na sua viabilidade. Ficam os registos visuais da impossibilidade de tal coexistência, num romantismo quase “sebastianista”, se comparado com o cenário português de quem ainda acredita que “no tempo do Salazar é que era bom”... Alguém ainda os/nos salvará?”
Miguel Matos
Brincar aos Polícias e Ladrões
“Viajar pela Rússia de forma livre e compulsiva, é como se desmascarássemos um pouco toda a sua estrutura social e cultural sempre tão sólida aos nossos olhos. As coisas funcionam a troco de incentivo, onde o perigo não está no ladrão mas sim no policia. Isto se quisermos brincar aos polícias e ladrões, o que em terras ex-soviéticas não convém muito. As máscaras estão todas trocadas numa sociedade que escolheu o poder de massas e que tem agora o poder do incentivo. A confiança faz-se mais entre pessoas desconhecidas do que com autoridades conhecidas. A melhor das viagens é aquela que quando começa, se tem logo a sensação que nunca mais vai acabar e esta para mim ainda não acabou.”
Hugo Travanca (companheiro de viagem)