O MUDE é um Mundo.
Tem ideia de quando vai abrir o MUDE? E onde vai ser? Não faço ideia, mas a curiosidade aumenta. Eram estes os burburinhos que se vinham ouvindo desde há três anos. O tão esperado e aclamado MUDE abriu finalmente as portas pronto a satisfazer a curiosidade de todos os que ansiavam por ver a colecção Francisco Capelo toda reunida. Situa-se na Baixa lisboeta e ABRIU!!!
A antiga sede do BNU (Banco Nacional Ultramarino) ganhou uma nova roupagem e passou a vestir-se com peças que constroem a história dos séculos XX e XXI. Com os interiores ainda descarnados e destruídos, o museu é um espaço cru que funciona em perfeita harmonia com as peças expostas. Design, muito design que nos preenche o olhar através da exposição Ante-Estreia. Flashes do MUDE. Uma colecção de peças que exploram as relações entre o design, a arte, a política e o contexto socio-económico. A alta-costura e as peças de mobiliário que estamos habituados a ver em livros e revistas saltam das páginas e assumem a tridimensionalidade. Segundo Francisco Capelo, presidente do conselho de gestão, «trata-se de uma convivência directa com os objectos e só a proximidade pode criar emoção e diálogo». São peças perfeitas a nível de design e concepção que nos enriquecem a mente e o espírito. É o deslumbre por André Courrèges, Pierre Balmain, Sónia Rykiel, Vivienne Westwood, Azzedine Alaïa, Verner Panton, Le Corbusier, Charlotte Perriand, Alessandro Mendini, entre outros. «É fazer uma viagem ao século XX e perceber como é que o corpo mudou, as mentalidades, as relações entre os dois sexos. É perceber como é que nos anos 60 a mini-saia significava a afirmação sexual, social e intelectual da mulher. É perceber como é que no final dos anos 80, início dos anos 90 há uma reafirmação de toda a feminilidade e uma reinvenção teatral da mulher. É o perceber que todos as peças têm uma qualidade que nós deveríamos exigir nos objectos do nosso quotidiano. É importante tornarmos as pessoas mais sensíveis e mais conscientes do que foi a criatividade, de como é que estas peças foram pensadas e porquê. Qual a relação que têm com as artes, arquitectura, dança, teatro, cinema, economia e tecnologia e tirar lições delas que nos façam ser cidadãos mais activos, interventivos e mais críticos da nossa sociedade», constata Bárbara Coutinho directora do museu.
Issey Miyake (Japão, 1938) Fotografia de Pedro Ferreira
Quanto ao espaço, ele próprio é uma obra de arte. Desprovido de barreiras visuais, ele procura cruzar as várias épocas, peças e designers criando uma encenação feita a partir dos objectos, do espaço, do som e da imagem. «Há inúmeros discursos e leituras que se podem tirar, e é essa a razão que nos levou a não colocar barreiras visuais no espaço.
Pretendemos promover um diálogo e descobertas entre Issey Miyake e Christian Dior, Dior com Vivienne Westwood, Charlotte Perriand com Bouroullec. Consegue-se contruir uma teia de relações entre todos os objectos. Há várias teias e a intenção é que cada pessoa descubra a sua. Essa sua teia deriva dos seus conhecimentos, da sua formação, emoção e da forma como olha, vive e passeia por este plateau. A ideia do branco é criar uma espécie de palco onde as peças surgem desenhadas e existem vários protagonistas. Claro que a moda é a grande protagonista porque nunca foi vista», conta Bárbara Coutinho. Neste sector apenas sentimos falta dos criadores nacionais. «Já fizemos a primeira aquisição comprando um conjunto de peças, representativo da evolução de Ana Salazar. Temos vontade de contactar com os vários criadores e estudar a forma das peças chegarem ao Museu. Poderá ser através de aquisições, depósitos ou doações.
Marc Newson (Austrália, 1962) Créditos Fotográficos: CCC-Paulo Cintra, Laura Castro Caldas
Na área da joalharia a primeira aquisição que fizemos foi da autora Cristina Filipe», acrescenta Bárbara Coutinho. A colecção contava inicialmente com 600 peças de design de equipamento e design de moda e actualmente dela fazem parte 2500 peças desde 1930 até aos dias de hoje. Dada a importância da colecção, nada pode falhar e Francisco Capelo é minucioso no tratamento que lhe dá: «as peças têm uma vida e como tal há que ter cuidados muito específicos. Se na nossa casa mudarmos o mobiliário com frequência, este vai acabar por se danificar. Uma das coisas que fiz quando a colecção da moda começou a ganhar corpo foi pedir a Sónia Rykiel que me desse as capas que foram desenhadas e concebidas para a sua colecção. São feitas de um algodão que não atrai electricidade estática e não adere poeiras. Todas as peças têm o seu casulo».
Após um longo compasso de espera «uma parte do meu sonho tornou-se realidade. Quando abrimos as caixas e começámos a retirar as peças emocionei-me porque havia peças que eu já via guardadas há demasiado tempo. Acho um crime que uma colecção tão excepcional tenha estado empacotada durante três anos. Acreditei num sonho e num projecto e é óptimo vê-lo concretizado. Saímos da invisibilidade e temos finalmente uma casa e um catálogo», conta Bárbara Coutinho.