Construir futuros alternativos para as pessas negras: essa é a ideia principal do Afrofuturismo, corrente cultural, filosófica e artística que mistura ficção científica, história africana e cultura afrodescendente para criar narrativas que superaram uma série de representações limitantes e estereotipadas impostas pela história às identidades negras. Celebridades como Beyoncé, Janelle Monáe e Rihanna têm ajudado a expandir o afrofuturismo para grandes públicos enquanto, no cenário da arte contemporânea, artistas afro-descendentes de todo o mundo têm levado a criação de mundos distópicos para suas produções.

Entre as mais destacadas dessa corrente está Sandra Mujinga, artista congolesa que vive na Noruega e que agora apresenta uma de suas obras fantasmagóricas na exposição Black Ancient Futures no MAAT. And My Body Carried All of You consiste em três esculturas, duas suspensas e uma no chão, em que tramas feitas em um espesso tecido vermelho criam seres estranhos, que lembram carcaças de animais. Na sala ao lado, a artista de Trindade e Tobago, Jeannette Ehlers, apresenta We’re Magic, We’re Real, esfera feita com cabelo sintético que, suspensa em meio a sala de paredes douradas, utiliza o “cabelo afro” como símbolo de empoderamento da contracultura negra.

Games também tem sido frequentemente explorados para reimaginar alternativas que desafiam as representaces dominantes da África no imaginário ocidental. Em Third World: The Bottom of Dimension, o celebrado artista brasileiro Gabriel Massan utiliza elementos de estética afrofuturista num universo fantástico que desafia e convoca o público a repensar suas ações no mundo. A obra, feita com diversos colaboradores e desenvolvida numa parceria entre a britânica Serpentine Galleries e o MAAT, utiliza-se do lúdico e da participação para engajar jogadores em perspectivas decoloniais e teorias queer. Outros oito artistas da diáspora negra completam a mostra, que tem curadoria de Camila Maissune e João Pinharanda.

Apresentada concomitantemente no museu, a exposição William Klein – O Mundo Inteiro É um Palco reúne cerca de 200 obras do artista nova-iorquino radicado em Paris, incluindo fotografia, moda, cinema, pintura e design gráfico. Organizada em cinco seções, a exposição oferece uma viagem por cidades como Nova York, Paris, Roma, Moscou e Tóquio, destacando a interatividade de Klein com seus modelos e a performance presente em suas obras. A exposição será complementada por uma retrospetiva da obra cinematográfica do artista, faceta menos conhecida da sua produção, na Cinemateca Portuguesa, em janeiro de 2025.

A temporada de exposições conta ainda com a mostra solo de Catarina Dias. O título da exposição Inverted on Us, é também a obra escrita no piso do espaço expositivo, com grandes letras distorcidas, destacando as reflexões e ecos que constituem nossa percepção. Em obras trabalhas digitalmente, impressas em papel e depois pintadas quase que imperceptivelmente à mão, a artista nascida em Londres explora encontros e desencontros entre imagens e palavras.

William Klein – O Mundo Inteiro É um Palco está patente no MAAT, em Lisboa, até o dia 3 de fevereiro de 2025, enquanto a coletiva Black Ancient Futures e a individual Inverted on Us, de Catarina Dias, seguem até o dia 17 de março.