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CAV, em Coimbra, apresenta António Palolo para as novas gerações portuguesas

O ciclo a vida, apesar dela, que ocorre no Centro de Artes Visuais em Coimbra, segue a esbanjar um bom fôlego ao propor, entre junho e setembro deste ano, a exposição Popalolo. Esta apresenta ao público conimbricense uma revisitação de pilares da produção de António Palolo (Évora, 1946 – 2000), feitos entre os anos 60 e início dos anos 70.

A obra de Palolo, que não ganhava uma retrospectiva desde 1995 – ano em que foi exposta na Fundação Calouste Gulbenkian –, imprime à cidade de Coimbra uma zona onde o tempo parece não sincronizado com a atualidade. Em um tecido urbano impregnado pelo sabor dos séculos, o CAV torna-se uma fonte de referências da segunda metade do século XX em pleno Pátio da Inquisição (1542).

Em conversa que tive recentemente com o historiador da arte Manoel Canada, foi citado como que a pop-art foi embrionariamente chamada de neo-dada: dentro da lógica do pop, das cores saturadas, do referencial relativo à charge, à banda desenhada, aos retratos de figuras icônicas e as cores chapadas que foram tão utilizadas por estadunidenses, como Robert Rauschenberg (Texas, 1925 – 2008) e Jasper Johns (Geórgia, 1930), no cenário artístico dos anos 50. Este estilo surgiu com técnicas comumente utilizadas no dadaísmo, como a colagem e a assemblage.

É desta premissa que aparecem as primeiras questões aos olhos daqueles que não conheciam a produção de António Palolo: falamos de um artista pop ou de um abstrato geométrico?

Por toda a exposição, o visitante flutua entre esses dois estilos flertados pelo pintor. Em uma escolha feliz, o curador de Popalolo, Miguel von Hafe Perez, opta por posicionar as obras abstratas geométricas na espinha dorsal do corpo do prédio do Centro de Artes Visuais. Daí surge um respiro ao explorador.

Apesar das grandes proporções das telas abstratas geométricas, elas não são obras que convidam seus contempladores para um mergulho. São corpos mecanizados e alienígenas – visivelmente não vieram das entranhas de Coimbra, mas poderiam ter vindo de uma estação de metrô de uma cidade cosmopolita, ou de algum ateliê concretista paulistano – por exemplo, do grupo Ruptura (São Paulo, 1952 – 1959).

Nestas condições, onde a obra desafia o espectador e não o acolhe, o generoso pé direito do salão do CAV consegue acomodar as vigorosas investidas das linhas de Palolo.

O visitante também encontra conforto na disposição das obras feitas de maneira conservadora, bem alinhadas – uma montagem visivelmente realizada por uma equipa extremamente profissional –, que permite a geometria abstrata agir de forma nuclear enquanto o figurativo, menos colorido, acomoda-se na órbita da expografia.

Ao final do circuito, o visitante também tem a oportunidade de assistir ao filme A. Palolo – Ver o Pensamento a Correr (1995, José Silva Melo), o que matura toda informação apresentada no CAV: uma linha narrativa tradicional e bem desenhada, que começa com um texto curatorial raro e contextualizador, um recorte expositivo bem equilibrado e encerra com um vídeo documental a fomentar o imaginário relativo à atmosfera do artista.

Popalolo acerta em preocupar-se em apresentar o artista de Évora ao grande público e, assim, educar os mais jovens em relação aos alicerces da pintura. Apresenta um passado com cores, texturas e formas que dão uma boa dica para possíveis caminhos futuros aos pigmentos sobre telas portuguesas. Somos gratos – além das paredes, sejam elas quais forem.

Adolfo Caboclo (São Paulo, 1986) é artista, curador e poeta. Mestre em Estudos Curatoriais e doutorando em Arte Contemporânea pelo Colégio das Artes. Pintor residente do Ateliê Fábrica, curador de diversos projetos expositivos como o "Projeto Piccolino" (Doppo) e "Uma exposição no escuro" (Lufapo Hub). Participante do coletivo Pescada nº5 e fundador do Sarau das Flores e da Revista Baleia.

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