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Pure Visual Joy no Santuário Galleria

Foi de um encontro entre Jorge Martins, uma referência na pintura portuguesa, e o arquiteto e designer Martino Berghinz, que surgiu Pure Visual Joy. A exposição, patente no Santuário Galleria, reúne os universos autorais destes dois artistas consagrados, sugerindo um diálogo entre as suas obras – que se interpelam, entrelaçam e afetam mutuamente.

Os artistas, que se haviam já cruzado na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, voltam a partilhar o mesmo espaço. Desta vez, Martino Berghinz apresenta uma coleção de sete peças, criadas especificamente para a galeria que acolhe a exposição. Estas obras, de cores vibrantes e de natureza profundamente plástica, são uma evocação da sua cidade natal: Milão. Ainda que não recorram à palavra, os três mapas do norte de Itália, projetados no chão, dizem-nos “Pisas solo italiano”. Está lançado o mote para a leitura das restantes peças. O que o artista propõe é, afinal, uma transferência desta capital comercial e industrial para Lisboa. E esta proposta torna-se mais ou menos evidente consoante a obra que atentamos.

No painel móvel assíncrono, que cobre uma das paredes da galeria, vemos uma fotografia da Torre Velasca, em Milão, um símbolo do modernismo italiano e da efervescência urbanística no pós segunda-guerra mundial. Os grafismos cor de laranja que sobrepõem a fotografia remetem-nos para uma estética urbana irreverente. A utilização desta cor – linha condutora das obras de Martino Berghinz em Pure Visual Joy – trata-se de uma decisão ousada que dialoga diretamente com alguns dos materiais utilizados. Refiro-me, sobretudo, à utilização de cones de sinalização e de peças refletoras. Estes objetos, indissociáveis de um ambiente urbano, são (re)contextualizados e despidos da sua função original: servem somente para que nos possamos deleitar visualmente.

Jorge Martins, por sua vez, apresenta um universo visual um pouco mais sóbrio. Traz consigo uma seleção de trabalhos a grafite sobre papel, realizados entre 1993 e 2008. Distantes de uma agenda temática, estes desenhos povoam-se de corpos que habitam o espaço sem um sentido de hierarquia. As formas, situadas algures entre a abstração e a figuração, parecem suspensas no tempo e sujeitas a uma gravidade zero. É certo que este conjunto de obras corresponde apenas a uma pequena fração de uma longa carreira artística. Ainda assim, este conjunto é representativo do seu processo criativo. O desenho surge enquanto lugar de memória: instrumento de revisitação e de concretização do que é imaterial. A matéria encapsula em si o que outrora nos parecia intangível – a luz e o espaço são tornados objetos bidimensionais.

Em Pure Visual Joy, as analogias formais e temáticas tornam-se irrelevantes. Na verdade, o conceito inerente à construção desta exposição parece estar sintetizado na instalação de espelhos convexos de Martino Berghinz. Suspensa no centro da sala, esta peça espelha os desenhos de Jorge Martins, que, invariavelmente, se tornam parte da peça também. As obras dos dois artistas fundem-se numa só. Mais do que uma descoberta das afinidades entre si, impele, portanto, pensá-los em conjunto. Porque as suas obras – distantes no tempo e na forma – dão lugar a um único campo que forças: um universo visual que é, afinal, uno.

Com curadoria de D. André de Quiroga, Pure Visual Joy está patente no Santuário Galleria até 21 de junho de 2024.

Maria Inês Mendes frequenta o mestrado em Crítica e Curadoria de Arte na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. Em 2024, concluiu a licenciatura em Ciências da Comunicação na Universidade NOVA de Lisboa. Escreve regularmente sobre cinema no CINEblog, uma página promovida pelo Instituto de Filosofia da NOVA. Realizou um estágio curricular na Umbigo Magazine e, desde então, tem vindo a publicar regularmente. Colaborou recentemente com o BEAST - Festival de Cinema da Europa do Leste.

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