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A arte de amar por amor à arte

Escrevo este breve artigo sobre a belíssima exposição Amor I Love You na madrugada que antecede o dia a que me propus a entregá-lo e nas últimas horas ainda não consegui escrever nada que lhe fizesse justiça. Talvez derivado do clichê académico que a minha situação figura – a que se acrescenta ter sido aluno de Margarida Brito Alves, responsável pela curadoria da exposição, em conjunto com Giullia Lamoni –, decidi optar por uma mudança de abordagem para tentar entender a origem da minha dificuldade.

Uma exposição – quando bem conseguida – deve tornar-se um lugar onde o coletivo (público) reinventa conceitos de forma individual. Isto é, o “significado” da exposição deve ser formado pela multiplicidade de leituras de cada espectador. Uma experiência singular de partilha. A arte em si alimenta-se da sua própria indefinição para colocar em causa as certezas de quem olha, ocupando-se, no limite, da constante reformulação de si mesma. Não é, portanto, surpreendente que quase todos os que ao longo da história se apelidaram de artistas e poetas tenham, de alguma forma, refletido sobre o conceito nunca estático de amor.

A diferença nesta exposição – e como em qualquer exposição coletiva – reside no facto de quem cria as condições de possibilidade não é um artista, mas uma entidade que não deve ter ambição autoral, e deve, antes, garantir que cada obra escolhida dialogue com as restantes de forma a fazer ressaltar determinadas qualidades na mesma que só sobressaem pelo conjunto. Essa entidade dá pelo nome de curador.

Margarida Brito Alves e Giullia Lamoni, com um brilhantismo exemplar, não nos dão mais do que uma pista para “construir este puzzle” sem peças limite, infinito e incompleto. “Dizem para as paredes” que é coisa do coração. E das obras de Belén Uriel, Carla Cabanas, Daniela Krtsch, Daniel Arthur, Dayana Lucas, Inês Brites, Joana Ramalho, João Gabriel, Mané Pacheco, Mariana Viegas, Maura Grimaldi, Nádia Duvall e Sara Bichão não saem uma, mas infinitas respostas para infinitas interpretações sobre o que o amor, e a arte, devem ser.

Não é, sendo, uma exposição sobre o amor romântico ou afetivo, sobre sexo ou sobre sexualidade, força ou fragilidade. É sobre a multiplicidade de expressões que a noção de amor pode assumir, e o que significa amor, não na arte, mas na vida (não será o mesmo?), aplicado à realidade de cada um.

Posto isto, porque tenho tanta dificuldade em escrever sobre esta exposição? Porque eu certamente teria uma leitura pessoal, que não seria mais do que um exercício de projeção, e encontraria preferências em determinadas peças que me poderiam levar a um exercício descritivo. Mas o que aqui interessa é o conjunto, a partilha, tanto do que as obras dão individualmente para acrescentar às restantes, como da experiência pessoal de cada espectador ao vivenciá-las enquanto membro do grupo alargado que é o publico. Por isso, desafio antes o leitor a colocar-se numa curiosa situação e se dirija a um hospital psiquiátrico à procura do amor.

A exposição Amor, I Love You, com curadoria de Margarida Brito Alves e Giullia Lamoni, está patente na galeria do Pavilhão 31 no Hospital Júlio de Matos em Lisboa até 8 de junho de 2023. Será ainda lançada uma publicação até ao final do mesmo mês.

Tiago Leonardo (Lisboa, 2000) licenciou-se em Ciências da Arte e do Património (FBAUL) e frequentou o curso de Jornalismo Cultural (SNBA). Atualmente está a terminar o mestrado de Estética e Estudos Artísticos, com especialização em cinema e fotografia (NOVA/FSSH) onde incide a sua investigação no pós-fotográfico dentro do contexto artístico português. No seu trabalho como escritor e colabora com diversas publicações; como o CineBlog do Instituto de Filosofia da UNL, a FITA Magazine, entre outras.

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