Não foi Cabral: revendo silêncios e omissões
A revisão do legado português nunca foi tão importante como agora, numa época em que o extremismo saudosista e enviesado contamina a atualidade política. Fala-se de um legado frequentemente camuflado, romantizado, cheio de adversativas, esquecendo a violência, racismo e ignorância inerentes à colonização portuguesa, em particular, e ao colonialismo, em geral. Entre a grandiloquência e a falsa diplomacia amistosa, a discussão sobre o colonialismo português carece ainda de uma revisão crítica e de um estudo alargado entre as várias sociedades que tocou. Antes, no outro lado do oceano, no Brasil, MC Carol lança o desafio com o funk e escarafuncha o dedo na ferida: “Professora, me desculpe | Mas eu vou falar | Esse ano na escola | As coisas vão mudar | Nada contra ti | Não me leve a mal | Quem descobriu o Brasil | Não foi Cabral.”
Neste contexto, Não foi Cabral: revendo silêncios e omissões, um programa promovido pela Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa e curado por Nuno Crespo e Lilia Schwarcz, afigura-se como uma oportunidade fundamental para debater a história e os mecanismos ideológicos que a construíram, convocando para o debate artistas, realizadores, ativistas e pensadores.
Marcam presença na lista de convidados Lilia Schwarcz, Denilson Baniwa, Pedro Barateiro, Nuno Crespo e Dalton Paula, João Salaviza e Renée Messora, Paulo Catrica, Hélio Menezes, Ayrson Heráclito, Margarida Cardoso, Artur Santoro, Flávio Cerqueira e de Francisco Vidal. Carla Filipe, Pedro Barateiro, Paulo Catrica e Letícia Ramos vão estar presentes com exposições.
De 16 de fevereiro a 26 de maio, Não foi Cabral: revendo silêncios e omissões na Escola das Artes da Universidade Católica do Porto, em parceria com a Universidade de São Paulo (Brasil) e a Universidade de Princeton (EUA). A exposição de Carla Filipe, Expurgar papel, inaugura a 16 de fevereiro e estende-se até 15 de março, seguida de nova exposição. Programação completa aqui.