Traumatized places on an injured planet: conversa entre Alice Miceli e Michael Marder
Alice Miceli e Michael Marder nasceram, ambos, em 1980, mas cada um num extremo distinto do globo: Rio de Janeiro e Moscou, respetivamente. Separados geográfica e culturalmente, há, contudo, algo mais que os une para além do mesmo ano na certidão de nascimento: na arte ou na filosofia, pela imagem ou pela palavra, interessa-lhes investigar o presente e o futuro do mundo a partir dos traumas infligidos sobre paisagens sociais e naturais. Foi em novembro de 2023, durante uma visita ao estúdio da AiR 351, que a confluência de percursos e curiosidades entre os trabalhos de Miceli – na altura artista bolseira PLMJ / AiR 351 – e Marder se tornou evidente, uma conversa conceitual que se prolonga e aprofunda, agora, com o convite da instituição para um debate aberto ao público com a artista visual e o filósofo, no dia 29 de janeiro (segunda-feira), pelas 18h30, no Goethe-Institut Lisboa.
Através das lentes fotográficas, Alice Miceli reimagina – e traz novamente à vida – a memória de certos lugares ou comunidades esvaziadas, descaracterizadas ou violentadas. Tateando o irrepresentável, questionando os seus limites e possibilidades, coloca-se no centro de espaços de conflitos humanos e mais-que-humanos, desafiando o próprio corpo e olhar a transitar por locais como a Prisão S21, no Camboja, a Zona de Exclusão de Chernobyl, ou as minas terrestres abandonadas em antigas áreas de guerra. Ali, a sua posição enquanto fotógrafa é, também e sobretudo, uma questão de vida ou morte. Nada é mais problemático e complexo que assumir um ponto de vista, seja este histórico, espacial ou imagético. Vencedora do 13.º Grants & Commissions Program pela Cisneros Fontanals Art Foundation (CIFO), EUA, em 2015 e do 5.º Prêmio PIPA, Brasil, em 2014, a artista está representada em coleções de diversas instituições, de São Paulo a Moscou, de Miami ao Rio de Janeiro.
Voz ativa no que veio a ser conhecido como o campo das humanidades ambientais, Michael Marder inspira reflexões acerca da importância do mundo vegetal no pensamento e na existência humana, bem como o desafio da descarbonização e o papel que a filosofia pode exercer na atualidade. Como em Miceli, talvez, o ponto de partida para o seu trabalho investigativo é um foco na concretude e na habitalidade do lugar, como forma de nos situarmos em terra, com cuidado e responsabilidade. Ao propor modos vegetais de ser e pensar, Marder segue a trilha dos docentes e autores que criticam o projeto para uma universalidade abstrata, base fundante da filosofia ocidental. Do seu conjunto de publicações, destacam-se The Chernobyl Herbarium (2016), Plant-Thinking: a Philosophy of Vegetal Life (2013), Green Mass: The Ecological Theology of St. Hildegard of Bingen (2021) e, mais recentemente, The Phoenix Complex: A Philosophy of Nature (2023).
A conversa entre Alice Miceli e Michael Marder, intitulada Traumatized places on an injured planet e realizada em inglês, é um evento organizado pela AiR 351, com o apoio do Goethe-Institut e colaboração da Umbigo. Entrada livre.