Pensar-imaginar a água a partir de uma ultraperiferia: O desejo ativo de futuros férteis, justos e sustentáveis
“More than buildings, forms, materials or structures, it is architecture’s ability to alter how we see the world that is its most precious and powerful gift. […] laboratory of the future […] [implies] the concept of collaborative endeavours […] cooperation would be forged by direct experience and daily contact with one another as equals […] across an expanded field of creative disciplines draw out examples from their contemporary practices that chart a path for the audience […] to weave through, imagining for themselves what the future can hold.”
Lesley Lokko
Em 2007, num tempo em que os sinais da crise ambiental – hoje inquestionável – já se evidenciavam, mas dos quais, teimosa e irresponsavelmente, desviávamos o olhar e o pensamento (fosse para não vermos os riscos que já se encontravam entre nós, fosse para não pensarmos o que o antropocentrismo científico e tecnológico considerava impensável: a possibilidade de o engenho e a ciência humanos falharem perante as dinâmicas da natureza), o ensaísta Manuel Gusmão relembrava as palavras escritas por Fernando Pessoa anos antes, para, a partir destas, pensar o seu presente e aquilo que antevia como uma perigosa crise da imaginação. Uma crise particularmente notória na desistência ou no medo da imaginação de futuros mais justos, igualitários e sustentáveis, quando, na verdade, “se não houver futuro, se não tivermos futuro, seremos como dizia o outro, “cadáveres adiados que procriam”” (GUSMÃO, 2007).
É também como resistência a essa paralisia criativa e crítica, que inibe a capacidade humana de imaginar e fazer acontecer futuros alternativos a um presente de múltiplas crises, que lemos o manifesto de Lesley Lokko, a curadora da exposição internacional de arquitetura na Bienal de Veneza de 2023, que, sob o tema The Laboratory of the Future, acolheu o arrojado projeto curatorial e research-creation FERTILE FUTURES, imaginado por Andreia Garcia (curadora) em colaboração com Ana Neiva e Diogo Aguiar (curadores adjuntos), como representação oficial de Portugal.
Em textos como o citado em epígrafe, Lokko lembra o papel da arquitetura enquanto disciplina capaz de imaginar e conceber versões futuras de mundo, potencialmente mais justas, equitativas e sustentáveis do que as identificadas no presente, assim como alerta para a necessidade de uma urgente descolonização do saber e da prática arquitetural: seja pelo desenvolvimento de processos criativos laboratoriais que potenciem uma efetiva e igualitária colaboração com outras disciplinas e as próprias comunidades destinatárias dos projetos em curso; seja pelo reforço da implicação ética e política da arquitetura, enquanto prática interdisciplinar orientada para um “more equitable and optimistic future in common” (LOKKO, 2021). Uma prática que, desarrumando hierarquias epistemológicas e tecnológicas (sustentadas por ideologias e retóricas hoje fortemente questionadas, mas hegemónicas nos últimos séculos), acolha contributos de vozes emergentes ou que têm sido subalternizadas ou silenciadas. Vozes e olhares periferizados, cuja estranheza das suas experiências e propostas pode, de facto, oferecer inovadoras respostas aos desafios e problemas contemporâneos, com que também a arquitetura se confronta.
Identificando-se plenamente com os valores, as inquietações e os desejos de mudança manifestados por Lokko, o FERTILE FUTURES ousou alargar a sua atenção e atuação para além da exposição em Veneza e das problemáticas, equipas, instituições e lugares precisos que constituíam a sua já ampla rede nuclear. E neste sentido, ao longo de 2023, promoveu cinco Assembleias de Pensamento, realizadas maioritariamente nas imediações de algumas das suas sete hidrogeografias de trabalho, convidando agentes locais a partilhar com a comunidade FERTILE FUTURES preocupações, experiências, práticas, saberes (mais científicos ou mais informais) relativamente ao modo como, nos seus territórios, se desenvolveu e desenvolve a relação humana com a água.
A última destas assembleias teve lugar a 6 e 7 de outubro de 2023, na ilha do Porto Santo, um território ultraperiférico, marcado pela escassez da água e por secas extremas, desde o início do seu povoamento no séc. XV. Este encontro, organizado em parceria com a Porta 33, centrou-se na Escola da Vila do Porto Santo, um edifício desenhado por Raul Chorão Ramalho no final dos anos 1950 e num contexto de extrema escassez, tendo “resultado de um estudo profundo da ilha por parte do arquitecto, conjugando a linguagem e valores da arquitetura moderna com os materiais, métodos construtivos e características da arquitetura vernacular local” (DUARTE, 2023). Esta escola (entretanto desativada) vem sendo recuperado e reutilizado pela PORTA 33 desde 2019, associação que aí criou um projeto cultural e artístico que parte da revitalização das potencialidades arquitetónicas do edifício, para intervir pedagógica e socioculturalmente nesse território tantas vezes esquecido.
Assim, também fiel ao espírito que, desde a sua projetação por Chorão Ramalho, define o lugar que a acolheu, esta Assembleia de Pensamento procurou uma certa descolonização do saber e do pensar/fazer arquitetural, ao lembrar o projeto daquele arquiteto e ao promover o encontro da arquitetura com a comunidade local e com outras disciplinas.
O programa abriu na manhã do dia 06.10.2023, com uma visita à Central Dessalinizadora do Porto Santo, conduzida pelo engenheiro Nuno Jorge Pereira, especializado em hidráulica e recursos hídricos e um profundo conhecedor desta central, onde dedicadamente trabalha há largos anos. Anfitrião acolhedor, extremamente rigoroso na narrativa da história da central e sempre disponível para esclarecer os visitantes sobre o modo de funcionamento da dessalinizadora e sobre as alterações tecnológicas e infraestruturais aí ocorridas ao longo dos seus mais de 40 anos de existência, este engenheiro complementou a informação prestada durante a visita, já na sessão na Escola da Vila, que teve lugar no dia seguinte. Nesta ocasião, em registo de diálogo aberto e de responsável reflexão crítica, Nuno Jorge Pereira apontou riscos (como a poluição dos ecossistemas com salmoura tóxica, resultante da dessalinização), desafios (como o elevado consumo de energia, com impacto ambiental), mas também potencialidades que quer as tecnologias e os métodos experimentados na central, quer as transformações adaptativas e o conhecimento aí desenvolvidos desde a sua fundação representam para a sustentabilidade ambiental e socioeconómica desta ilha atlântica.
Criada ainda na década de 1970 pelo recém formado Governo Regional madeirense, esta central encontra-se a laborar desde 1980. Optou, então, pelo inovador processo de produção de água potável a partir de água do mar, através de unidades de dessalinização por osmose inversa. Sendo hoje a principal fonte de água potável para abastecimento público da ilha (recentemente complementado com processos de reaproveitamento de águas residuais exigidas, nomeadamente, a empreendimentos turísticos), o projeto dessalinizador do Porto Santo integrou o grupo das cinco primeiras unidades industriais que, no Mundo, recorreram a esta nova tecnologia. Facto que lhe confere um pioneirismo experimental que tem procurado manter até hoje, profundamente consciente das urgentes necessidades do seu território ultraperiférico, mas que, num tempo em que a indústria turística (altamente dependente do consumo de água doce) se entrevia como a mais imediata tábua de salvação socioeconómica para o Porto Santo, soube aproveitar a partilha de conhecimentos com outras comunidades territoriais, académicas e industriais.
Na sua génese está, portanto, o desejo-imaginação de um futuro alternativo às históricas e dramáticas vulnerabilidades ambientais e socioeconómicas da ilha. E apesar de ter uma existência discreta no panorama nacional e até regional (facto que não invalida o reconhecimento internacional e local da sua eficácia e do seu empreendedorismo inovador), esta dessalinizadora, com um saber formal e informal acumulado ao longo de 40 anos, apresenta-se como um interessante caso a ser analisado por outros territórios afetados pela escassez de água e que, no atual contexto de crise ambiental, equacionam a implementação da dessalinização de água do mar.
Na manhã do dia 7, sob orientação da engenheira do ambiente Rubina Brito, responsável por vários projetos ambientais na Câmara Municipal do Porto Santo, o programa contemplou uma caminhada de (re)conhecimento parcial da cidade, em especial (da história) de alguns dispositivos que, ao longo do tempo, permitiram aos porto-santenses aceder à água doce, distribuí-la e (surpreendentemente) comercializá-la. Visitaram-se nascentes, ribeiras, noras, fontanários e até a designada “Casa da Água”. Esta, um raro exemplar de arquitetura industrial na ilha, datado de 1922, hoje devoluto e apenas observável do exterior, foi, até à década de 1990, o espaço de laboração da empresa “Águas do Porto Santo, Lda.”, fundada no início do século XX. Criando empregos estáveis numa ilha onde a subsistência socioeconómica era extremamente frágil (em grande medida pela escassez de água doce), esta empresa dedicou-se ao engarrafamento e à comercialização de água mineral com propriedades terapêuticas (no passado, várias vezes premiada), proveniente de nascentes ainda hoje ativas, apesar do abrupto encerramento da “Águas do Porto Santo, Lda.”, por decisão de autoridades sanitárias regionais e sob a argumentação (que análises recentes contrariaram) de que a água comercializada não apresentava a devida qualidade potável e terapêutica.
Os trabalhos da assembleia prosseguiram após o almoço, na sessão de comunicações-debate realizada na Escola da Vila, aberta ao público e que contou com as intervenções da bióloga Susana Fontinha, do artista visual, programador e investigador em patrimónios insulares Martinho Mendes, do engenheiro Nuno Jorge Pereira, e de dois ateliers de arquitetura participantes no FERTILE FUTURES (o Pedrez, de Matilde Cabral e Francisco Fonseca; e o Ponto Atelier de Ana Pedro Ferreira e Pedro Ribeiro).
Susana Fontinha, bióloga que, entre outros projetos, coordenou recentemente a candidatura do Porto Santo a Reserva da Biosfera, classificação atribuída pela UNESCO em 2020, apresentou a comunicação intitulada “Porto Santo: uma epopeia de milhões, milhares e centenas de anos”, que nos fez recuar até à génese vulcânica da ilha, ocorrida há milhões de anos no que hoje apelidamos de Oceano Atlântico. Um processo natural que seria continuado quer subaquaticamente, quer à superfície da terra, durante um longuíssimo período de transformações geológicas, biológicas e climatológicas complexas (ainda em curso), determinantes quer para a formação da valiosa (mas nem sempre percetível) geodiversidade da ilha, quer para a emergência do repositório de seres vivos (alguns endémicos e únicos) que a foram habitando.
Oscilando entre uma observação macro (a da longa duração de milhões, milhares e centenas de anos; a da orografia insular no contexto do Atlântico; e a da floresta primitiva e do coberto vegetal que aí evoluíram) e uma lente micro (que examina pequenos seres como os líquenes, os musgos, os invertebrados e os fósseis de espécies entretanto desaparecidas, assim como os processos quase invisíveis de instalação, competição e adaptação desses e outros seres vivos ao ambiente difícil da ilha), Susana Fontinha deu-nos a conhecer sábias lições da natureza do Porto Santo. Este é um mundo que remonta a uma época muito anterior à do povoamento humano, cuja colonização deve humildemente ser entendida como apenas uma (certamente a mais impactante), entre as de muitas outras espécies que, ao longo de milénios, foram habitando e recriando o Porto Santo, dando origem a uma valiosíssima geobiodiversidade, que merece ser conhecida, respeitada e conservada, sob pena de perdemos um património irrecuperável, de que depende o equilíbrio ambiental da ilha e talvez a sobrevivência humana. Trata-se de um território em permanente transformação, feita de riscos e oportunidades com que todas as espécies – incluindo a humana – tiveram e têm de aprender a viver, exigindo dinâmicas de adaptação resiliente, que não coloquem em causa o equilíbrio de todo o sistema insular. Se é certo que a “epopeia natural” do que hoje chamamos Porto Santo continuará, com ou sem a presença humana, a “epopeia antrópica” iniciada no século XV está dependente, em grande medida, das escolhas que fizermos no presente.
Seguindo um idêntico modelo de análise retrospetiva e (auto)crítica, embora desta vez incidente sobre o património cultural da Madeira e do Porto Santo, o artista plástico e investigador Martinho Mendes evocou a íntima e complexa relação que, desde o primeiro povoamento, se estabeleceu entre as comunidades humanas do arquipélago e a água doce de que dependia a sua sobrevivência em pleno Atlântico. Abundante na Madeira, escassa nas restantes ilhas, mas num e em outros casos sempre difíceis de obter, a água doce exigiu de madeirenses e porto-santenses o engenho imaginativo (hoje muito ignorado) que lhes permitisse superar essa dificuldade. “Entre a escassez e a celebração” da água (expressão que deu título à intervenção de Martinho Mendes), as comunidades insulares foram inscrevendo a memória desse longo, atribulado e criativo convívio, no património cultural do arquipélago, que urge (re)conhecer e que os artistas contemporâneos vêm revisitando criticamente, ora denunciando erros e conflitos do passado (alguns entretanto esquecidos ou intencionalmente obliterados; outros com claras repercussões que se estendem até hoje), ora procurando encontrar indícios, restos, ruínas de experiências pretéritas, a partir dos quais possam imaginar melhores futuros.
Martinho Mendes fundamentou essa sua leitura da memória cultural das hidrogeografias do arquipélago, citando vários exemplos que dão conta da importância que a água assumiu na definição biogeográfica, socioeconómica e cultural do arquipélago. Filmes como A Canção da Terra, dirigido por Jorge Brum do Canto, com estreia em 1938 e recentemente restaurado pela Cinemateca Portuguesa, onde a dramática luta pela sobrevivência à aridez do Porto Santo assume centralidade temática. Intervenções arquitetónicas (mais ou menos informais) como as que ainda hoje encontramos na Fonte da Areia, marcadas por uma integração harmoniosa na morfologia do território e onde se evidencia o encontro do profano quotidiano com o sagrado, este último tantas vezes invocado aquando das secas extremas. Fotografias (antigas e recentes) de dispositivos de extração e distribuição de água como, p. ex., as noras do Porto Santo, movidas a energia eólica e cujas hélices eram, no passado, construídas a partir do reaproveitamento de peles de animais e da malha da planta tamargueira; ou os “tornadouros” das levadas da Madeira, que Martinho Mendes considerou verdadeiras peças escultóricas criadas pelos levadeiros como instrumentos de ajuda à condução da água para regadio e resultantes do encontro entre rochas, restos sedimentares vários e a reutilização de tecidos de fabricação humana, entretanto inutilizados. Portanto, fotografias onde se descobre uma inventividade tecnológica insular que, seguindo a terminologia de Pedro Gadanho (2011, 2023), podemos apelidar da escassez, e com que porto-santenses e madeirenses foram recriando as suas paisagens. Martinho Mendes referiu ainda exposições de arte contemporânea, como Espinhos e Acúleos, que ele próprio apresentou em dois museus do Funchal (Museu Henrique e Francisco Franco e Museu A Cidade do Açúcar) e onde procurou reativar a memória dos caminhos da água no arquipélago e das suas tecnologias populares. Transferindo para o espaço museológico elementos paisagísticos (plantas, rochas) e objetos utilitários dessas hidrogeografias (como um dos já referidos tornadouros), Martinho Mendes colocou-os em diálogo com a criação artística contemporânea que, assim, os tomou como elementos constituintes de obras de arte. Deste modo (também orientado para uma pedagogia ecológica), a arte contemporânea dignificou, presentificando-a, essa relação ancestral dos ilhéus com a água, reinscrevendo-a, com um responsável viés autocrítico, na memória cultural contemporânea.
And last but not least, a palavra e a imagem foram também dadas, nesta assembleia, aos ateliers de arquitetura que, no âmbito do FERTILE FUTURES, se ocuparam das hidrogeografia das ribeiras madeirenses (Ponto Atelier, fundado em 2016, no Funchal) e da albufeira do Alqueva (Pedrêz, fundado no Porto, em 2020). Recorrendo ao vídeo, embora em registos distintos, ambas as equipas de arquitetos apresentaram os projetos que desenvolveram nos primeiros meses de 2023 em cada uma das suas Oficinas de Hidrogeografia e que, desde maio, expuseram em Veneza.
O Ponto Atelier fê-lo, através do testemunho em primeira pessoa de Pedro Maria Ribeiro, um dos arquitetos da equipa, que narrou todo o percurso investigativo, reflexivo e criativo que, em conjunto com outros colaboradores e recuperando/reciclando projetos anteriores em que haviam participado (nomeadamente, o trabalho de mapeamento e análise crítica do território, realizado no âmbito do Gabinete da Cidade do Funchal, sob coordenação do arquiteto Paulo David), conduziu este atelier até à imaginação do seu “Memória Líquida”. Título atribuído ao projeto com que a oficina de hidrogeografia das ribeiras madeirenses procurou responder ao desafio da mitigação do risco de aluvião aí existente: ora resgatando memórias do passado que revelam modos mais orgânicos de convivência humana com as ribeiras (hoje intensivamente artificializadas nos espaços urbanos); ora propondo um conjunto de dispositivos de recolha, armazenamento e (re)distribuição de água, complementares às ribeiras e às levadas, que o Ponto Atelier concebeu como contributos válidos para a mitigação do risco de aluvião e de eventuais futuras secas.
Por seu lado, o Pedrêz, através de uma original (e quase lúdica) narrativa fílmica, que assume como protagonistas a mão (que desenha) e a voz (da imaginação e do pensamento crítico) de um arquiteto sem rosto (e, portanto, da própria arquitetura), trouxe até à assembleia do Porto Santo a encenação de todo o processo investigativo, reflexivo e criativo desenvolvido por este atelier, em diálogo com a arquiteta paisagista Aurora Carapinha.
Concebendo um imaginativo projeto retro-futurista (como os próprios autores o classificaram), o Pedrêz transportou-nos ficcionalmente para um Alqueva futuro, posterior a 2052, ano em que a barragem teria sido desativada. Um tempo futuro (mas que hoje se pode tomar como hipótese muito plausível) em que, distópica e utopicamente, se imagina quer o colapso daquele sistema ecossociocultural (esgotado pela intensificação do extrativismo industrial dos setores energéticos e agroalimentares a que atualmente, de facto, se assiste), quer um cenário possível de regeneração de solos e de purificação da água, através da importação/adaptação para o Alentejo, de uma técnica biológica ancestral, desenvolvida por tribos amazónicas, e que, nessa hidrogeografia portuguesa, teria sido experimentada por um sujeito anónimo, com o propósito de criar um futuro alternativo ao seu presente catastrófico: a técnica de produção de um fértil antropossolo, a partir das propriedades filtrantes do carvão vegetal e de processos naturais de regeneração da biomassa. Uma experiência imaginativa e singular que, no Alqueva do nosso futuro, conseguira criar bolsas de vida recuperada.
Assim, num exíguo e ultraperifério território insular atlântico, a última Assembleia de Pensamento FERTILE FUTURES sublinhou, uma vez mais, quer a extrema relevância que as problemáticas da água hoje assumem, quer o papel que a arquitetura, em diálogo com saberes informais e formais das comunidades locais e de diversas disciplinas, pode e deve assumir enquanto agente transformador do mundo. Os testemunhos deixados pelos vários participantes neste encontro não pretenderam encerrar o debate, nem apresentar respostas definitivas. Antes pelo contrário, quiseram funcionar como o antropossolo criado pela máquina regeneradora imaginada pelo Pedrêz: ser terreno fértil para recomeçar de novo, a partir do que ficou do passado, imaginando futuros mais sustentáveis e justos e sem esquecer que, como lembrava Manuel Gusmão em 2007, sem essa capacidade de imaginar futuros (tão própria da arquitetura), nada mais somos do que “cadáveres adiados que procriam”.
Bibliografia:
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SOARES, Ana Isabel (2023), “Ar(quite)tivismo”, Umbigo, 6 nov.. Disponível em https://umbigomagazine.com/pt/blog/2023/10/06/arquitetivismo/ acesso 20.10.2023