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Zonas de Transição: obras da Fundação PLMJ na Cordoaria Nacional

O Torreão Nascente da Cordoaria Nacional recebe até 7 de janeiro de 2024 a exposição Zonas de Transição, a mais recente exibição das obras da coleção de arte contemporânea da Fundação PLMJ, e a mais abrangente dos últimos 15 anos. Entre os 90 artistas em destaque, encontramos nomes como Ana Jotta, Ângela Ferreira, Ana Pérez-Quiroga, Carlos Bunga, Daniel Blaufuks, Kiluanji Kia Henda, Mónica de Miranda, Noé Sendas, Sara Bichão ou Rita GT.

O projeto expositivo contou com a curadoria de João Silvério e teve como foco os artistas que pertencem à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), reunindo um conjunto de 150 obras, criadas por mais de 90 artistas da coleção. As peças em exibição compreendem cerca de quatro décadas de produção e abrangem áreas como a pintura, o desenho, a escultura, a instalação, a fotografia e o vídeo, de artistas de diferentes gerações, países e trajetórias. Entre as temáticas abordadas, destaca-se a representação do corpo, a arquitetura e a linguagem textual, com peças que, apesar de diferentes origens geográficas, se cruzam em termos estéticos, poéticos e políticos.

A exposição é ancorada em duas linhas essenciais: a revisitação dos núcleos históricos que abrangem obras desde o final do século XX, com Julião Sarmento ou Jorge Molder, até à produção artística dos últimos cinco anos, com Fernão Cruz ou Horácio Frutuoso. Esta dualidade cria uma sinfonia visual que transcende as barreiras temporais, proporcionando um diálogo intergeracional.

Ao entrar no espaço expositivo, somos imediatamente envolvidos pela ausência de uma ordem cronológica ou geográfica, proporcionando um terreno fértil para a exploração e descoberta. É a língua portuguesa que tece habilmente os fios desta narrativa, e isto reflete-se diretamente em obras que recorrem à linguagem textual.

Por um lado, a palavra é utilizada como recurso para expressões políticas, como o mural de Alice Geirinhas Assemblage [As Três Marias] (2010), ou a pintura de grande escala Call Me… (2009-2010) do artista angolano Yomani. Por outro, a linguagem encontra uma forma mais poética com a série de fotografias Atlas do Corpo e da Imaginação (2021) de Os Espacialistas + Gonçalo M. Tavares, onde a literatura abraça a narrativa da imagem fotográfica. Mas também, na pintura de Fátima Mendonça Sem título IV [da série A Casa do Desarranjo] (1998), onde a palavra reflete o doméstico e a intimidade.

A arquitetura emerge nos desenhos de Carlos Bunga e Nuno Sousa Vieira, na planta desenhada por Rosana Ricalde, ou nas duas fotografias de Nuno Cera, onde o olhar cai sobre um local em processo de transformação.

A exploração do corpo, destaca-se na fotografia de Rita GT, Sem título [I’ve got it all] (2005), inserida numa caixa de luz, na obra fotográfica de Mónica de Miranda Achilles’ heel [da série Tomorrow is another day] (2018), que se debruça sobre a anatomia humana. No vídeo-performance de Helena-Almeida, onde o corpo serve para mapear o lugar, ou ainda na impactante escultura Sr. Central (2005) de Noé Sendas, onde vemos um corpo inerte e sem rosto, deitado no chão da galeria.

O vídeo, que por razões técnicas muitas vezes encontra dificuldades em ser exposto, entra também em destaque em ambos os pisos da exposição. Temos a oportunidade de assistir a um total de 17 trabalhos em vídeo, entre eles, o de Jéssica Gaspar, António Olaio, José Maças de Carvalho, Maimuna Adam, Filipa César ou Francisco Queiroz.

A coleção da PLMJ nasce em 2001 e caracteriza-se como uma Corporate Art Collection, tendo como entidade instituidora a PLMJ Advogados, SP, RL. A Fundação PLMJ, tem cumprido a sua missão de promover a diversidade da criação artística através da divulgação da coleção por meio de exposições, catálogos e livros monográficos. Com um foco na produção artística dos países da CPLP e a premissa de acompanhar as novas gerações, o grande acervo da PLMJ conta com cerca de 1400 obras, onde a fotografia se destaca como um dos núcleos centrais da coleção.

Zonas de Transição é o mais recente projeto que reflete os compromissos da PLMJ, numa grande exposição que não só honra o passado, mas também celebra o presente e antecipa o futuro, destacando o papel vital da língua portuguesa como um elo que transcende fronteiras e cria espaço para diálogos infindáveis dentro da criação artística contemporânea.

Laurinda Branquinho (Portimão, 1996) é licenciada em Arte Multimédia - Audiovisuais pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. Estagiou na Videoteca do Arquivo Municipal de Lisboa onde colaborou com o projeto TRAÇA na digitalização de filmes de família em formato de película. Recentemente terminou a Pós-graduação em Curadoria de Arte na NOVA/FCSH onde fez parte do coletivo de curadores responsáveis pela exposição "Na margem da paisagem vem o mundo" e começou a colaborar com a revista Umbigo.

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