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Rodrigo Oliveira na Galeria Diferença

­­­­­Até dia 25 de novembro, encontram-se patentes, na Galeria Diferença, as exposições Architectural promenade; Águas Livres e uns quantos Blocos Afluentes I e Slogan, do artista Rodrigo Oliveira.

O artista utiliza uma variedade de meios e suportes materiais para operacionalizar e manipular, de modo experimental, formas apropriadas da retórica arquitetónica e urbanística, oriundas do período modernista. O tema do luso-tropicalismo e luso-centrismo, que particularmente, e arguciosamente, carateriza a exposição de Rodrigo Oliveira, provém de uma confluência de esforços e de dimensões várias. Remete-nos para mundos envoltos em princípios centrados na etnocracia ou, por outras palavras, de grupos étnicos que se rogam em exercer supremacia sobre outros. Reforçando os desequilíbrios existentes, a vários tons, com as discrepâncias sociais, políticas e raciais que o revestem.

O serialismo e a repetição de elementos, muitas vezes estruturados, na sua origem, pela referência a configurações arquitetónicas alusivas ao modernismo, estabelecem uma relação com os arquétipos sociais e as utopias formais que traduzem convicções ocidentais prolongadas no tempo. Na era da reprodutividade técnica de Walter Benjamin, o autor salientou a relação estreita entre produção e domínio social: “As condições sociais são, como sabemos, determinadas pelas condições de produção”.

Mais uma vez, nesta exposição observamos a tipologia habitual do artista. Vislumbra-se uma continuada interconexão entre cor, forma, e imagem, como dizia Luiza Teixeira de Freitas sobre o artista, em 2015.

Em Sculpture in the Expanded Field, Rosalind Krauss falava da ideologia do novo, e do seu enlaço com o passado. A obra de Rodrigo Oliveira exprime essa sinuosidade, resgatada de uma noção nostálgica face a um passado ideológico preponderante, onde residia a convicção e a ilusão de um pensamento único, e universal, superior e hegemónico prevalecente sobre todos os outros modos de ver e pensar.

As obras do artista também recuperam os preceitos minimalistas, que se fundem na ambivalência dos suportes e meios, mas cujos princípios são destituídos dos seus pressupostos originais. Tendo por base outras funções.

As peças de Rodrigo Oliveira seguem no espaço, empunhando as suas cores de efeitos ópticos, quer padronizados, quer por meio de formas e elementos que exibem a sua ortogonalidade e que se repetem, inclinados, sobre as paredes da galeria.

As várias obras presentes na exposição usam referências de figuras de relevo da área da cultura.

Na obra Slogan, a primeira que nos confrontamos quando tomamos contacto com a galeria, é dada a projeção de imagens manipuladas a partir da obra Espelho, pintura de Almada Negreiros, num vídeo realizado pelo artista entre 2017 e 2023.

Na imagem foi retirada a figura de Fernando Pessoa e todos os seus objetos. As imagens visionadas são acompanhadas por um som de uma peça, de nome Moteto, obra de 1967, de Gilberto Mendes, concebida a partir de um poema concreto de Décio Pignatari, Beba Coca Cola, 1957.

Na obra/instalação Modulor/Mikado, (corta vento), de 2020-23, um Mikado gigante constituído por uma fileira de varas intervencionada com cor, encostadas sobre a parede, (e pela sugestão do texto de folha de sala, em que é referido um tropicalismo lusófono), é difícil não revisitarmos imagéticas de cariz exótico, e além mar.

Acompanhada pelas estruturas que a ladeiam e que nos conduzem a um pensamento sobre a “diáspora dos modelos políticos, económicos, sociais e culturais”, como diz o texto de sala que acompanha a exposição. Fazendo assim, alusão a períodos do passado ainda dominados por um pensamento etnocrático.

Por outro lado, o exotismo da peça Módulo/Mikado é acompanhado pela exuberância cromática manifesta na obra Quebra Sol, tornada possível pelo jogo de cores presentes nos tecidos plásticos às riscas provenientes dos assentos de cadeiras de praia.

A obra Deslocado, padrão revestido a cimento, confirma a magia das obras arquitetónicas modernistas edificadas no seio de um tempo modernista, e alusivas às obras de Bartolomeu Costa Cabral e Nuno Teotónio Pereira, este último responsável pelo o projeto da Galeria Diferença.

Carla Carbone nasceu em Lisboa, 1971. Estudou Desenho no Ar.co e Design de Equipamento na Faculdade de Belas Artes de Lisboa. Completou o Mestrado em Ensino das Artes Visuais. Escreve sobre Design desde 1999, primeiro no Semanário O Independente, depois em edições como o Anuário de Design, revista arq.a, DIF, Parq. Algumas participações em edições como a FRAME, Diário Digital, Wrongwrong, e na coleção de designers portugueses, editada pelo jornal Público. Colaborou com ilustrações para o Fanzine Flanzine e revista Gerador. (fotografia: Eurico Lino Vale)

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