A tecelagem como suporte de um discurso de contemporaneidade
A tecelagem surge hoje como plataforma para um discurso sobre contemporaneidade. Define-se também como encontro, através do entretecer de fios, entre disciplinas ou novos modos de ver.
Lugar de comunhão entre artesãos, artistas e designers, vagueia entre o objecto artístico e utilitário, lembrando-nos o domínio do bem, e de como por vezes se torna difícil distinguir o belo do útil. O útil das “belezas corpóreas”, como diria Octávio Paz, a respeito do fazer ancestral.
Os fios entretecidos enleiam-se assim nas mãos do artesão e fundem-se na matéria. Matéria e criador passam a ser assim, uma e a mesma coisa.
A tecelagem, encerra em si, um complexo de significações e constitui, no tempo presente, uma alternativa ao mundo industrializado, ou uma oportunidade ao fazer táctil.
A tecelagem proporciona a expressividade, o experimentalismo. Na continuidade perpétua da linha, estende-se em caminhos, por vezes acalentados por surpresas ou pequenas imprevisibilidades, só entendíveis por quem participa dessa jornada.
Associada muitas vezes a uma arte menor, e esquecida como expressão do passado, manifesta-se agora justamente pertinente, no presente, em resposta a narrativas e exigências contemporâneas da arte, cultura e ambiente. E configura-se como força motriz no sentido da necessidade particular dos indivíduos, e da própria comunidade.
A exposição Transformação, patente no Palácio Gama Lobo até 28 de outubro, através da iniciativa Loulé Criativo, pretende ser, justamente uma mostra que demonstre a tecelagem, como uma linguagem imersa nas questões do seu tempo.
A exposição, com curadoria de Vasco Águas, reúne trabalhos de Ana Rita Albuquerque, Filipa Won, Graça Paz, Guida Fonseca, Maria Pratas, Rita Teles Garcia, Rita Sevilha e Vasco Águas.