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O Desenho como Pensamento – 5º módulo de exposições individuais

O ciclo de exposições e conversas intitulado O Desenho como Pensamento apresenta, até 23 de agosto, o seu quinto módulo, com exposições individuais de Jorge Martins, Catarina Leitão e Pedro Valdez Cardoso.

Problematizando ontologicamente o desenho desde a sua primeira edição, O Desenho como Pensamento convoca artistas cuja prática privilegie essa técnica, numa relação estabelecida a partir da noção de campo expandido. Em simultâneo, essa expansão aproxima o desenho de práticas assumidamente utilitárias, relevando o seu lugar em áreas como a moda ou a ciência, por exemplo.

Nesta tríade, cujas respetivas exposições são visitáveis desde 15 de julho, há uma ascendência em direção à disrupção. Principiemos com a exposição Desenhar, destinar, desatinar, de Jorge Martins, patente na Sala Estúdio do Centro de Artes de Águeda. Do título, a aliteração: subitamente, o verbo motriz de todas estas obras surge numa vizinhança súbita com outros vocábulos que o concretizam: desenhar será inevitavelmente destinar, e inelutavelmente desatinar – um desatino possivelmente relacionável com a incapacidade da apreensão do real. De facto, dizer somente desenhar não é dizer desenhar – falta-lhe o gesto que lhe traz a compreensão, que, no fundo, o ilustra. Entre figurações e abstrações, Jorge Martins mostra um conjunto de trabalhos monocromáticos que ajudam a compreender parte da sua extensa obra. Recuperando as palavras de Celso Martins, no Expresso, por altura da exposição A Substância do Tempo, em 2013, o desenho de Jorge Martins é um “lugar poroso, aberto a toda a sorte de códigos e rumores visuais (do cinema à fotografia, do design gráfico à pintura). […] Nessas imagens ouve-se, por vezes, o eco de uma luz cinematográfica, a experiência de uma escultura minimalista ou uma frase usurpada à teoria ou à literatura que é visualmente confrontada”.[1]

Em Sativa, de Catarina Leitão, patente na Escola Superior de Gestão de Águeda – Universidade de Aveiro [ESTGA-UA] e na Biblioteca Municipal Manuel Alegre [BMMA], assistimos a uma maior radicalização do desenho, fruto do corpo de trabalho da artista: a obra de Catarina Leitão estabelece-se entre o bidimensional e o tridimensional, entre o desenho, a escultura, a instalação e o livro. Em Sativa, a obra dada a ver na ESTGA-UA serve de preâmbulo para o que se vê depois, no espaço da BMMA – como se algo nos fosse semeado no olhar para depois crescer, não estivesse o espectador perante uma ambiência facilmente relacionável com a botânica.

Por último, Pedro Valdez Cardoso apresenta Slow, no Salão de Chá do Parque Alta Vila, Águeda, espaço erigido no final do século XIX e que mantém as características de então. Num primeiro momento, somos confrontados com duas obras – a primeira a surgir no espaço, com uma série de palmilhas dispostas na horizontal, que contêm uma aparente textura, semelhante a tijolo, e uma outra obra, com duas palmilhas dispostas na vertical. Lemos nestas últimas, bordadas, as palavras FORWARD e BACKWARD.

No interior do espaço central deste salão, encontramos um conjunto de espreguiçadeiras – elemento normalmente associado ao exterior de uma casa – igualmente bordadas, mas desta feita com paisagens naturais na zona onde pousaríamos as costas. Atrás destes objetos, verificamos que as linhas continuam, num movimento imposto pela gravidade. Pedro Valdez Cardoso preenche o espaço com elementos que confundem a noção de exterior e interior, quase transformadores de dualismos em dualidades, aproximando conceitos aprioristicamente dissonantes como dentro e fora, frente e trás, recuar e avançar, natureza e construção humana.

A segunda edição d’O Desenho como Pensamento, com direção artística de Alexandre Baptista e organização do Centro de Artes de Águeda/Câmara Municipal de Águeda, Universidade de Aveiro e Câmara Municipal de Albergaria-a-Velha, contará ainda, no próximo e último módulo de exposições individuais, com os trabalhos de Jorge Queiroz, Pilar Mackenna e Cristina Massena, entre 2 e 30 de setembro.

 

 

[1] Martins, Celso – “A Substância do Tempo”, Expresso/Cartaz, 13-04-2013

Daniel Madeira (Coimbra, 1992) é licenciado em Estudos Artísticos pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e mestre em Estudos Curatoriais pelo Colégio das Artes da mesma universidade. Coordenou, entre 2018 e 2021, o Espaço Expositivo e o Projeto Educativo do Centro de Artes de Águeda. Atualmente, colabora com o Círculo de Artes Plásticas de Coimbra (CAPC).

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