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Fight Light Fight: Navid Nuur na Jahn und Jahn

Rápida, propulsora e brilhante, a luz dá início à vida, mantém acesa a esperança, ilumina a consciência e conecta-nos ao divino. É com o acender da lâmpada que a escuridão desvanece ou que as ideias surgem. O modo como mantemos a luz acesa foi-se modificando com o tempo, passamos de velas para lâmpadas a óleo, de lâmpadas a gás para lâmpadas elétricas. Entre candeeiros, faróis e sinais néon, há uma infinidade de formas e propósitos para transmitir a luz. É precisamente sobre a luz que assenta a primeira exposição individual de Navid Nuur em Portugal: Fight Light Fight.

Fight Light Fight é constituída por diversos tipos de meios e materiais, como uma busca incansável pela captação da luz nas suas diferentes formas, por recursos que não se esgotam e se reinventam ao longo de toda a exposição. Na sua prática artística, Navid Nuur denomina os objetos escultóricos de interimodules, por não os considerar nem esculturas nem instalações, mas sim objetos híbridos capazes de interagir e se reconfigurar espacial e temporalmente com os diferentes lugares por onde passam. Este termo é um composto entre “ínterim” e “módulo” significando nas suas palavras “temporary module-like works that feed off each other when they are together”[1].

Uma lightbox com a palavra “There” sinaliza a porta de entrada da galeria Jahn und Jahn. Quando entramos, percorremos uma grade com cartazes e uma corrente de lâmpadas (These are the Days, 2004-2023) que nos guiam até à primeira sala de exposições. A grade estende-se para dentro da sala, delimitando a área onde duas peças se encontram. Em Tentacle Thoughts Nr. 19 (2006 – 2023) vemos uma composição geométrica feita com lâmpadas tubulares. Os fios em amarelo brilhante que de si caem, ligam-se a todas as outras lâmpadas gémeas que se encontram ao longo da exposição. No canto oposto The passage (2020-2023), uma gravura original de Pieter Bruegel impressa em vynil que se estende do teto até ao chão. Navid Nuur imprime apenas uma secção da imagem original, reconfigurando o seu contexto e significado. O que era antes uma ilustração da ressurreição de jesus cristo à entrada do túmulo, alude agora à aparição de um anjo que parece iluminar uma passagem ou saída. The passage materializa-se numa passagem, abrindo-nos caminho até à sala seguinte onde, ao atravessá-la, a sensação assemelha-se a um túnel.

Nesta sala, Tentacle Thoughts Nr. 19 continua. As lâmpadas deslocam-se das calhas do teto onde originalmente pertenciam, e criam uma nova composição de luz. Aqui torna-se nítido como Nuur reconduz a eletricidade, desviando lâmpadas da sua posição original, reconfigurando as ausências e presenças da luz elétrica.  Em Untitled (2011 – 2023), somos confrontados com a nossa imagem numa obra produzida com várias camadas de espelho. E no chão, encontramos um pequeno monte com resíduos materiais, a que o artista nomeia de auto-retrato (Self Portrait, 1976 – 2023). Nuur transcende o conceito tradicional de auto-retrato, com uma visão provocatória sobre a representação e perceção que temos sobre nós próprios.

Saímos deste núcleo por onde tínhamos entrado, é nos colocado que passemos pela escuridão para voltarmos à luz. O sol é a grande estrela brilhante do nosso sistema solar, a sua luz nasce e desvanece diariamente. Em Location (study), Nuur capturou ao longo de seis meses o fenómeno do movimento do sol pelo céu. O processo foi conseguido através de uma lata transformada em pinhole. O meio com que a obra foi conseguida é exibido, assim como a fotografia original e a sua digitalização ampliada. O resultado da imagem é atmosférico e abstrato, onde várias linhas curvas com pequenas interrupções, ilustram os rastos concretos do sol. A luz do sol tem inúmeros benefícios, os raios solares parecem ser mágicos, capazes de iluminar a nossa criatividade e bem-estar. A um nível mais concreto, a luz do sol é essencial para o nosso corpo conseguir produzir vitamina D. Em Untitled (2010-2015), Navid Nuur recolheu diversos comprimidos efervescentes, pós e óleos que substituem a vitamina D, para pintar a tela. Aqui, Nuur trabalha sobre o grande emissor de luz que é o sol, de forma poética e conceptual.

Em Untitled (2023) a luz volta a um dos seus primeiros meios de usar. Numa peça em cerâmica colocada acima da altura dos nossos olhos, vive uma vela acesa. A cera já vai pela metade, imaginamos o seu desaparecimento ao longo do tempo e o seu destino final. Esta lâmpada de fogo, lembra-nos a chama que existe em templos, mesquitas e igrejas, onde a vela acesa é sinal de presença divina.

No pátio da galeria Jahn und Jahn, os néons vermelhos de Broken meter (2010-2012) e Untitled [&] (2006 – 2013) desafiam a luz radiante do sol. O jogo visual é agora entre a luz natural e a artificial, incitando a reflexão sobre a dualidade e interação destas duas formas de iluminação.

Em Fight Light Fight, Navid Nuur transporta-nos para um mundo luminoso e introspetivo, onde somos confrontados com reflexões sobre identidade e transcendência. A exposição é um convite para contemplar a luz e testemunhar a maneira única pela qual Navid Nuur expressa o seu encanto por ela.

A exposição está patente até 1 de julho de 2023 na galeria Jahn und Jahn.

 

 

[1] Citação disponível em: https://parasol-unit.org/whats-on/navid-nuur-phantom-fuel/

Laurinda Branquinho (Portimão, 1996) é licenciada em Arte Multimédia - Audiovisuais pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. Estagiou na Videoteca do Arquivo Municipal de Lisboa onde colaborou com o projeto TRAÇA na digitalização de filmes de família em formato de película. Recentemente terminou a Pós-graduação em Curadoria de Arte na NOVA/FCSH onde fez parte do coletivo de curadores responsáveis pela exposição "Na margem da paisagem vem o mundo" e começou a colaborar com a revista Umbigo.

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