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Bienal’ 23 Fotografia do Porto – Atos de Empatia

Desde 2019 a Bienal Fotografia do Porto, organizada e produzida pela Ci.CLO, tem vindo a desenvolver um ecossistema artístico e uma rede de parcerias nacionais e internacionais que contribuem para a afirmação da cidade no mapa da fotografia internacional. Resultante da vontade em criar espaços para que novas oportunidades de criação e cocriação possam emergir, assim como visões transformadoras e inovadoras, a Bienal de Fotografia do Porto assume, segundo o diretor artístico Virgílio Ferreira, três propósitos distintos: ser plataforma de criação artística experimental que cruza a fotografia com outras disciplinas artísticas, ambientais e sociais; ser plataforma de difusão de projetos desenvolvidos em contexto da bienal – as residências artísticas e os laboratórios de criação -; e estimular as pessoas a pensar a sua relação com o mundo, no sentido de ativar mudanças socio-ecológicas regeneradoras.

Centrada na reflexão sobre os paradigmas da atualidade e na reimaginação de um futuro regenerativo, a terceira edição da Bienal de Fotografia do Porto intitulada Atos de Empatia, apresenta 70 artistas e 14 curadores de 27 países, num projeto que celebra a prática artística, a vida e projeta a ideia de futuro, não só pelas temáticas apresentadas, bem como pelos artistas emergentes que convoca, territórios e comunidades que arquiva.

Em termos programáticos a Bienal’23 Fotografia do Porto, cuja direção artística é assinada por Jane Dyer e Virgílio Ferreira, é sustentada por uma matriz de quatro núcleos que são o cuore da presente edição da bienal: Sustentar, Vivificar, Expandir e Conectar. Cruzando perspetivas globais e locais, cada núcleo apresenta abordagens diferentes que se concretizam em 16 exposições por 14 espaços expositivos da cidade do Porto.

Plataforma de laboratórios de criação em Portugal que explora temas da sustentabilidade urbana, o núcleo Sustentar promove a partilha de conhecimento entre artistas, investigadores e organizações na criação de imaginários para promoção do desenvolvimento regenerativo das cidades. Com curadoria dos diretores artísticos da Bienal, são quatro as exposições que integram Sustentar, conectando cinco artistas a quatro iniciativas de sustentabilidade em Portugal. Inter-relações, em exibição na estação de metro de São Bento, revela-nos retratos da autoria de Matilde Viegas e Uwa Iduozee, resultantes das residências artísticas nos bairros portuenses do Lagarteiro e do Cerco; Atravessar a Matéria do Tempo de Marcelo Moscheta, no Centro Português de Fotografia, propõe uma reflexão poética no processo de contemplação do tempo das árvores; os benefícios ambientais das coberturas verdes em ambientes urbanos são explorados por Inês d’Orey em Green roofs Grey Roofs, na Fundação Marques da Silva; e Jorge Graça evoca a preservação de ecossistemas ameaçados e do uso sustentável da água em PETRICOR, na ARTES-Mota Galiza.

Refletindo sobre a ideia de viver em territórios de baixa densidade no Douro, Vivificar promoveu o desenvolvimento de residências artísticas em casas de família da comunidade local, criando uma experiência imersiva a doze artistas -Alexandre Delmar, André Tribbensee, Fábio Cunha, Hasan Daraghmeh, Ine Harrang, João Pedro Fonseca, José Miguel Pires, Maria Lusitano, Patrícia Geraldes, Raquel Schefer, Trond Lossius e Violeta Mour – que desenvolveram os seus trabalhos em quatro municípios da região – Alijó, Lamego, Mêda e Torre de Moncorvo – e cujos resultados se apresentam em exibição no Museu do Vinho do Porto.

O núcleo Conectar impulsiona ecossistemas culturais e artísticos através do intercâmbio nacional e internacional de projetos expositivos, ideias e práticas transdisciplinares. Integrando Conectar, Ecologias Especulativas, com curadoria de Jayne Dyer e Virgílio Ferreira, apresenta no Centro Português de Fotografia, três diferentes provocações sobre a atualidade global através dos projetos Acoustic Ocean e Forest Mind, da artista suíça Ursula Biemann; The Backpack of Wings, do duo de artistas coreanos Hyeseon Jeong e Seongmin Yuk; e Virtual Sanctuary for Fertilizing Mourning da artista peruana Eliana Otta. Questões de identidade, memória, ecologia e espiritualidade são abordadas na exposição Deep Blue, em exibição no Palacete dos Viscondes de Balsemão, com curadoria de Mónica Miranda. Da cooperação com organizações culturais internacionais – Casa Árabe e Photo España – surge a mostra de doze fotógrafos libaneses, Luzes ou Sombras do que Foi e Continua a Ser, patente na Casa Comum – Reitoria da Universidade do Porto, com curadoria de Betty Ketchedjan, Roger Mokbel e Trek Haddad, sobre acontecimentos dos últimos anos e da História do Líbano. Realidade virtual, ambientes fragmentados e ideia de finitude são-nos relevados nos trabalhos de Mariam Natroshvili e Detu Jincharadze em I Pity the Garden, em exibição na Mala Voadora.

Expandir apoia o desenvolvimento de trabalhos de artistas emergentes, quer em contexto académico quer profissional, focando-se num pensamento especulativo, experimental e ativista, sendo de destacar a atribuição no presente ano de 17 bolsas de criação a artistas emergentes. Integrando Expandir, destacamos os projetos Fading Senses e Sensitive Territories de Lígia Poplawska; Vento (A)Mar, de Dori Nigro e Paulo Pinto, no qual são exploradas noções de fronteira, pertença, memória e identidade. O imaginário fotográfico de quem tem quase sempre a mesma idade é nos apresentado em retratos de autoria coletiva, realizados desde 2005 nas aulas de fotografia de Susana Lourenço Marques e que nos são dados a conhecer na exposição Eternal Youth, patente no Pavilhão de Exposições da FBAUP.

Um corpo em contínua mudança é a premissa para os trabalhos de Alice Martins e Teresa Bessa em Imagem em devircom curadoria de José Maia, em exibição no MIRA FORUM; Rita Leite e Yasmine Moradalizadeh exploram a relação arte/ambiente através da produção sustentável e ecológica de imagens em Preto|Branco|Verde (Casa da Imagem); partindo do conceito de deslocamento e relacionando-o com o território, vínculos familiares e relações interespécies, Deslocamentos, com curadoria de Pablo Berástegui, resulta de uma parceria entre a Bienal’23 e o Mestrado em Fotografia Documental da Universidade de SouthWales.

Ensaios fotográficos e videográficos, instalações de imaginários poéticos e políticos, e abordagens documentais e conceptuais, integram as dezasseis exposições que compõem os quatro núcleos programáticos da Bienal’23 Fotografia do Porto. Refletir sobre sustentabilidade, ideia de comunidade e ativar mudanças são os propósitos de Atos de Empatia, que até 2 de julho promove uma participação ativa do público através de 123 ações de mediação, com destaque para visitas guiadas para famílias, visitas-oficinas, conversas e lançamentos de livros.

Mafalda Teixeira mestre em História de Arte, Património e Cultura Visual pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, estagiou e trabalhou no departamento de Exposições Temporárias do Museu d'Art Contemporani de Barcelona. Durante o mestrado realiza um estágio curricular na área de produção da Galeria Municipal do Porto. Atualmente dedica-se à investigação no âmbito da História da Arte Moderna e Contemporânea, e à publicação de artigos científicos.

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