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Hipotenusas de António Bolota com curadoria de Rita Gaspar Vieira: Project Room do Banco das Artes Galeria – Leiria

O espaço – sustentar e contradizer

Estruturas que, simultaneamente, sustentam e contradizem o espaço. As hipotenusas, de António Bolota, configuram-se em linhas pesadas e densas de madeira, combatendo a ortogonalidade, trazendo um novo discurso à austeridade do espaço que as acolhe. Inevitavelmente, estas obras tornar-se-iam também elas sinónimo dessa austeridade. A normalidade, independentemente da sua composição: o habitual, o dia-a-dia, o que vemos sempre, torna-se, mais tarde ou mais cedo, em contenção.

Homogeneidade e semântica

Referido no texto da folha de sala por Rita Gaspar Vieira, esta exposição não é apenas um exercício matemático e geométrico, é também uma lição sobre os tempos que vivemos. Perante uma sociedade amplamente normatizadora, a oposição à norma é uma ação geradora de novas dinâmicas, novos movimentos. Explorando, ainda, semanticamente: as colocações destes elementos de madeira dão origem a dois novos ângulos, na relação com cada um dos ângulos retos impostos pelo espaço – ângulo, palavra que, para além da acessão no campo da geometria, significa também “maneira de pensar, de compreender, de abordar ou de observar. = Perspetiva, Ponto de vista[1]”. Deste modo, este projeto artístico é também um convite à deslocação e ao questionamento a partir de um novo lugar, numa fuga à padronização.

(Re)desenho

A instalação deste projeto, inevitavelmente associável ao campo expandido do desenho, convoca um despertar e um regresso à origem dessa prática artística, como aliás é referido por Rita Gaspar Vieira: o gesto visível que redesenha o espaço é gerador de pensamentos paralelos que o acompanham, o habitam e o superam. Gesto formalmente simples à partida, complexificado pela monumentalidade das peças. Estas novas geometrias apreendem partes do espaço que trazem novas dimensões ao mesmo, alterando a compreensão que dele temos. Cada hipotenusa cria uma circunscrição, uma nova dimensão, numa ação de transformação do local, como se cada elemento revelasse um novo método de pensamento de oposição à retidão da sala – ideia que se pode apoiar nas ligeiras diferenças formais entre elas.

Hipotenusas, como nós

Entre a sustentação e a ligação, entre a opacidade e dimensão antropomórfica destas estruturas, o corpo do espectador, enquanto potencializador de ação, é colocado no âmago da proposta. Um lembrete de que somos nós as hipotenusas do mundo, nessa possibilidade de confrontar e ligar, de contrariar a retidão dos pensamentos que preenchem os dias. No limite, de preencher vazios aprioristicamente inusitados.

Hipotenusas de António Bolota a visitar até dia 12 de junho.

 

[1] In Priberam

Daniel Madeira (Coimbra, 1992) é licenciado em Estudos Artísticos pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e mestre em Estudos Curatoriais pelo Colégio das Artes da mesma universidade. Coordenou, entre 2018 e 2021, o Espaço Expositivo e o Projeto Educativo do Centro de Artes de Águeda. Atualmente, colabora com o Círculo de Artes Plásticas de Coimbra (CAPC).

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