Pelo que não se vê de Nuno Sousa Vieira no Instituto Politécnico de Tomar
Pelo que não se vê, com curadoria de Rita Gaspar Vieira, marca o fechar de um ciclo de docência de Nuno Sousa Vieira no Instituto Politécnico de Tomar. Mostrando uma forte relação com a fotografia, o artista força-nos à sua objetiva, ou melhor, recorda-nos das limitações da mesma. Inevitavelmente, ver é perder, como nos diz George Didi-Huberman (citado na folha de sala pela curadora), e essa condição inelutável é, no espaço do Centro de Artes e Imagem, sublinhado por Nuno Sousa Vieira.
Somos acolhidos por uma ideia de ausência, e por isso talvez o espaço se revele inóspito. Um sítio, diria, feito lugar na presença e no corpo do operador estético. Perdemos? Sim. Não conseguimos chegar a tempo de ver tudo. Mas não é assim o mundo?
As obras Ícon serão a âncora conceptual, mas, inevitavelmente, ao contemplarmos as batas usadas pelo artista ou o espaço ausente que ele destaca em Reunião, apreendemos a incompletude que nos quer ser transmitida. Ícon, uma obra criada para o Pavilhão Branco a partir de uma imagem do século XIX, parte de uma representação do sol, a preto e branco, e, sempre que é novamente exposta, há uma nova impressão a partir do original. Volvidos dez anos desde a primeira, há alterações a nível de oxidação, fazendo da visibilidade agente direta na alteração matérica da obra. Como se dissesse para que me vejas, preciso de me reproduzir, para que não entendas o que a tua visão me faz. Para além disto, Nuno Sousa Vieira pode alterar, a qualquer momento, a posição dos quatro Ícon presentes no espaço, e o espectador dificilmente o entenderá. Um compêndio para perceber a visão: acreditamos no que vemos, não desconfiamos, não reparamos, mas mais importante: não é por não termos visto que não aconteceu, como quase tudo o que acontece.
Há aqui, evidentemente, uma relação temporal, como se Nuno Sousa Vieira ocupasse uma espécie de espaço invisível (arrisco Tesseract), talvez, a partir do qual opera, de forma mais ou menos plástica. Pensemos em Two Together, uma porta de madeira do ateliê do artista intervencionada, ou até mesmo em Porta de Saída, uma porta de alumínio e ferro, à entrada da exposição e, inevitável e ironicamente, à sua saída: transformações no espaço objetivo operadas pelo gesto do artista que lhes aplica uma plasticidade atemporal, como se levitassem na atmosfera da relação da memória do corpo com a memória do espaço e dos objetos que o preenchem. Uma colagem com o que vemos e que o que já não vemos ou já não sabemos ver, uma tentativa de responder a essa tal condição inexorável da visão, e talvez da própria da vida. Para além da maior plasticidade que possamos encontrar, há, também, esta relação temporal entre visível e invisível, essencialmente nos gestos do artista no espaço dos quais apenas podemos procurar o lastro, que, talvez ironicamente, nos demonstre, de forma visível. Para além da já referida presença de quatro batas de trabalho, que remetem para uma ação que terá ali decorrido, menção ainda para as obras da série Visão embaçada, onde entendemos novamente que a nossa visão é facilmente enganada.
A visitar, até 31 de maio.