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Naturfatura: Catarina Leitão na Galeria Carlos Carvalho

A natureza tem sido ao longo dos séculos uma das grandes influencias na prática artística, e a história de arte conta-nos como os artistas se têm inspirado nela. Desde o grande tema da paisagem recorrente no século XIX, ou à Land Art[1] nos anos 60, as formas de tratar a natureza têm se modificado com os tempos, mas o tema continua a ser um dos mais tratados na contemporaneidade.

A Galeria Carlos Carvalho, com curadoria de João Silvério, apresenta a exposição individual Naturfatura de Catarina Leitão, onde a artista propõe uma reflexão sobre a natureza através de uma aproximação curiosa entre arte e ciência, com desenhos e esculturas que tratam a natureza de forma analítica.

Na sala principal da galeria, as esculturas tomam conta de todo o espaço expositivo. Os objetos escultóricos parecem variações de si mesmos, com estrutura e cromatismo semelhantes. Entre os materiais utilizados, encontramos a madeira, o plástico, tecidos ou feltro, que resultam na construção de um objeto delicado com várias camadas e texturas. As esculturas parecem-nos familiares, no entanto carregam em si algo de estranho e novo. Lembram-nos de elementos naturais, seja pelos drapeados de tecido de cor verde, ou pelos seus esqueletos de madeira, que parecem sugerir estruturas de proteção para plantas, recorrentemente utilizadas na agricultura ou na jardinagem. Todas as obras são constituídas por ramos e pequenos troncos, onde é visível a ambiguidade entre elementos naturais e artificiais.

Ao fundo desta sala, três grandes desenhos denunciam os estudos pelos quais as esculturas passaram. Apesar da sua dimensão, são obras que requerem a nossa aproximação pelos detalhes que carregam. Há um equilíbrio entre cada um dos elementos, a aguarela é suave, mas rigorosa, mostrando-se semelhante a uma ilustração botânica com teor científico. Vemos gradações de cor, esquemas, linhas finas que reproduzem pormenores das esculturas que se encontram no espaço expositivo. Tal como acontece num jardim, onde o terreno serve de fundação para o crescimento e desenvolvimento das plantas, aqui, fica visível a forma como o desenho serviu de solo para o nascimento das esculturas.

Para Catarina Leitão, os cadernos de campo são um importante método de trabalho e exploração artística, e isso fica evidente no corredor atrás da sala principal, onde são exibidos uma série de desenhos que mostram a importância deste meio na obra da artista. Com o mesmo carácter dos que vimos anteriormente, os desenhos sublinham a técnica minuciosa de Catarina Leitão. São exemplos do seu trabalho de campo enquanto artista e investigadora de matérias, perceções e ideias.

Em Naturfatura vemos a construção de uma narrativa em torno da ficção e da observação direta, onde Catarina Leitão convida para uma reflexão sobre a nossa relação com a natureza, os seus processos de domesticação e transformação, ou a antítese entre o natural e o artificial. Naturfatura, apresenta ainda uma visão singular e curiosa sobre a relação entre arte e natureza, estimulando uma reflexão sobre o nosso papel e responsabilidade com o mundo natural.

A exposição Naturfatura de Catarina Leitão, está patente até 27 de maio de 2023 na Galeria Carlos Carvalho.

 

 

[1] Corrente artística onde os artistas interviam diretamente sobre a paisagem natural, com materiais naturais.

Laurinda Branquinho (Portimão, 1996) é licenciada em Arte Multimédia - Audiovisuais pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. Estagiou na Videoteca do Arquivo Municipal de Lisboa onde colaborou com o projeto TRAÇA na digitalização de filmes de família em formato de película. Recentemente terminou a Pós-graduação em Curadoria de Arte na NOVA/FCSH onde fez parte do coletivo de curadores responsáveis pela exposição "Na margem da paisagem vem o mundo" e começou a colaborar com a revista Umbigo.

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