Art Brussels
De 20 a 23 de abril realizou-se mais uma edição da Art Brussels (a quadragésima), marcando o regresso ao imponente edifício central construído para a exposição universal de 1935.
Esta edição contou também com a presença de um número significativo de galerias estabelecidas em Portugal, 8 no total.
O frenesim era o típico de qualquer grande feira de arte e Bruxelas tem nos últimos anos vincado a sua importância no panorama artístico europeu, quer pelo fluxo de artistas, curadores e galerias europeus, quer pela crescente ligação ao continente americano.
Na zona central da feira (PRIME) via-se demonstrações de qualidade das galerias que jogavam em casa como a Dépendance, C L E A R I N G, ou Mendes Wood. No entanto, como já é hábito, existe também curiosidade para secção DISCOVERY que propõe numa outra área a descoberta de galerias mais recentes. Aí encontravam-se também as portuguesas Foco e Bruno Múrias com apresentações a solo de Hugo Cantegrel, e de Bruno Cidra e Luana Vitra, respetivamente. Nesta secção destacava-se a apresentação a solo de Sharon Van Overmeiren, pela Damien & The Love Guru (Bruxelas, Zurique), com um conjunto de esculturas em cerâmica que misturam uma estética de animação televisiva com evidente referências a totems e a práticas ritualísticas. O resultado é um inusitado mas bem-disposto exercício de interpretação narrativa.
A novidade deste ano ao nível de organização, foi a secção REDISCOVERY onde 12 galerias internacionais se focaram em artistas mais velhos ou já falecidos como os casos de William Anastasi, na Thomas Rehbein Galerie (Colônia) ou mesmo Tapta, na Maurice Verbaet (Knokke), antecipando a inauguração da exposição Espaces Couples, em Maio, no Wiels.
Por último, a secção SOLO alastrava-se ao longo da feira com um número significativo de apresentações individuais (39). Nessa secção constava também a Galeria Presença com uma boa apresentação de Noé Sendas, e a galeria Jahn und Jahn com David Nuur, e a particularidade de se tratar de uma performance na qual o artista convidava o público para uma conversa privada e individual.
Contudo, quem já foi a Bruxelas durante o período da feira percebe que a vida acontece intensamente fora da feira. Trata-se de um período de prime time e a maioria das galerias da cidade prepara exposições “blockbuster”, de modo a aproveitar o intenso fluxo de público, profissionais e colecionadores. É sempre impressionante testemunhar a pujança de uma cidade que geograficamente terá sensivelmente o tamanho de Lisboa, mas que contempla uma oferta internacional ímpar, quase impossível de assimilar. Visitamos project spaces como o Briefing Room, Alma Sarif ou Etablissement d’en face. Exposições em galerias como a dépendance que apresentava Ed Atkins, um ícone da arte no século XXI, a Xavier Hufkens com Milton Avery, Roni Horn e Danh Vo, ao longo das suas três (!) localizações. Ou a fantástica exposição em duas partes simultâneas, MICRO e MACRO, da dupla Jos de Gruyter & Harald Thys entre as galerias Kin Brussels e Gladstone. No Wiels, entre outras performances ocorreu no último dia da feira (23.04) a finissage da exposição individual de Danai Anesiadou, durante a qual os técnicos do museu foram desmontando a exposição em frente ao público, até transportarem também a artista dentro de uma caixa, e restar apenas a carpete vermelha e um dj, prontos para a festa (re)começar.
Bruxelas não é mais uma promessa de um novo hotspot artístico, já é de facto há alguns anos e apenas cidades com escalas muitíssimo maiores conseguem ombrear com a oferta e a densidade de projetos artísticos por metro quadrado. E essa energia sente-se nas exposições, nos artistas e nas festas que se perpetuam ao longo do ano.