Viagem a AlUla, o destino da arte do amanhã
Em AlUla, tudo começou em 2019, quando Maraya abriu as suas portas: trata-se do prédio reflexivo mais fascinante do mundo, pois as suas fachadas cobertas de espelhos tornaram esse OVNI/miragem no meio do deserto árabe num autêntico ícone.
Teatro e salão de concertos, Maraya recebeu cantores internacionais como Alicia Keys, Andrea Bocelli, Cheb Khaled ou Russell Peters, e até ao próximo dia 17 de maio decorre nos seus espaços a primeira exposição de Andy Warhol na Arábia Saudita, propiciada pelo Andy Warhol Museum, em Pittsburgh, juntamente com o ArtsAlUla: uma iniciativa memorável, dado que até há poucos anos teria sido impossível mostrar o rei da Pop Art e do culto das imagens neste canto do mundo.
Nora Aldabal (a Arts and Creative Planning Director da Royal Commission of AlUla) explica: “AlUla pretende transformar-se no destino global da arte contemporânea”, e o desejo nem parece assim tão inalcançável, dado tratar-se de uma área ainda virgem, mas com um potencial de desenvolvimento a invejar por outros países sem o mesmo nível de disponibilidade de investimento.
Para obter esse resultado, todavia, é preciso ter em conta quem está a fazer a história da arte do mundo ocidental, especialmente nos Estados Unidos e França: não se deve ao acaso a presença da French Agency for AlUla Development (Afalula) a promover um programa de residências no oásis de Mabiti, cuja segunda edição trouxe ali seis artistas vindos de diversos países, quer do Médio Oriente, quer do Norte de África. M’hammed Kilito (1981, vive e trabalha em Casablanca) destacou-se pelo projeto fotográfico Untold Tales, que retrata AlUla de uma maneira diferente: não somente um lugar em transformação, no melhor sentido do termo, mas também toda uma região sujeita a uma nova exploração.
Continuando a falar de desenvolvimento cultural integrado no meio ambiente, eis que, depois de duas edições de Desert X – a bienal californiana do deserto que teve lugar em AlUla em 2020 e 2022 -, está prevista, dentro dos próximos três anos, a abertura do vale de Wadi AlFann. Manal AlDowayan, Agnes Denes, Michael Heizer, Ahmed Mater e James Turrell serão os primeiros artistas a encarar o desafio de realizar obras “eternas”, nessa incrível e incontaminada paisagem. Um projeto monumental e sustentável – na medida do possível -, curado por Iwona Blazwick, a nova Presidente da Royal Commission for AlUla’s Public Art e já diretora da Whitechapel Gallery, em Londres, nos últimos vinte e um anos. “A nova comissão de arte pública em Wadi AlFann é um projeto de muito longo alcance: a Royal Commission for AlUla’s Public Art está a investir em obras permanentes, que residirão nesse sítio nas próximas dezenas ou centenas de anos, para contar ao futuro como terá sido o mundo de hoje”, relatou Blazwick à imprensa durante a viagem de apresentação deste novo desafio árabe, que poderá gerar, talvez, uma nova ideia de Land Art.
Ademais, trata-se de uma possibilidade de sensibilização relativa à própria vida no deserto: lugar pleno de vida e de ecossistemas frágeis, este vasto território poderá nos próximos tempos vir a ser o modelo de uma nova forma de conceber o turismo ligado à cultura.
Para além da arte contemporânea, vale a pena também considerar a iniciativa de preservação e recuperação da velha cidade de AlUla, à qual foi recentemente atribuído título de Melhor Aldeia Turística pela Organização Mundial de Turismo das Nações Unidas. Etapa fundamental no caminho dos peregrinos entre Damasco e Meca entre os séculos XII e XX, ainda possui um acervo arqueológico que conta com cerca de 900 casas, 400 lojas, 5 praças, e vestígios de alguns dos edifícios originais de pedra e tijolos ali construídos.
Na rota de volta à Europa, há que não esquecer uma visita à primeira edição da Bienal de Arte Islâmica, em Jidá: uma deslumbrante exposição a decorrer num novíssimo complexo projetado pelo estúdio de arquitetura de Rem Koolhaas OMA, construído ao lado do aeroporto em menos de um ano.
O tema do evento segue os momentos de oração e de vida espiritual do Islão, e além do brilhante conjunto do colecionador Sheikh Nasser Sabah al-Ahmad al-Sabah, do Kuwait, a unir peças que atravessam séculos da história cultural muçulmana, oferece-se aos visitantes uma visão moderna da religião e da cultura islâmicas, com as instalações ambientais de artistas tais como Muhannad Shono e Ighsaan Adams, M’barek Bouchchichi e Basmah Felembam.
Mais uma ocasião para aprofundarmos o nosso conhecimento do mundo árabe, quer através da promoção da sua própria cultura, quer da capacidade de desenvolver negócios nessa área. Tudo isto apesar de, simultaneamente, não podermos esquecer as críticas relativas a um mundo precipitado à velocidade máxima no futuro, esquecendo a atual necessidade de se refrear um pouco.