18ª Exposição Internacional de Arquitectura – La Biennale di Venezia 2023 Fertile Futures (mais que uma gota de água)
Foi no Reservatório – Museu do Porto, na presença do Ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, do Presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, e do Diretor Geral da DGARTES, Américo Rodrigues, que decorreu o primeiro momento oficial de apresentação pública da programação do projeto Fertile Futures, que representará oficialmente Portugal na 18ª Exposição Internacional de Arquitectura – La Biennale di Venezia 2023, entre 20 de maio a 26 de novembro. Sob curadoria geral de Andreia Garcia, curadoria adjunta de Ana Neiva e Diogo Aguiar, tendo como tema geral O Laboratório do Futuro, proposto pela comissária da Bienal de Arquitectura Lesley Lokko, o projeto Fertile Futures concentra-se numa questão crítica global que também tem consequências graves em Portugal: a escassez de água doce, a sua gestão e distribuição, mediante um projeto que arrisca enquadrar outras narrativas, aquelas que ainda não deram origem à obra construída[1].
Evidenciando a importância da Arquitetura na conceção de um futuro descarbonizado, descolonizado e colaborativo e na cooperação entre disciplinas, gerações e espécies- com o objetivo de construção de um conhecimento partilhado- Fertile Futures alia-se a um grupo de consultores internacionais de diferentes áreas e geografias, onde a escassez de água se faz sentir há muito tempo, na promoção da discussão pública e sensibilização dos conflitos que circunscrevem a partilha e a gestão dos recursos hídricos. Tomando como ponto de partida a experiência concreta do território nacional- continental e ilhas – relativamente à escassez de água doce, são sete os estudos de casos relativos a sete hidrogeografias que a representação oficial portuguesa apresentará em Veneza. Encomendados a sete equipas multidisciplinares, constituídas por ateliers de arquitetura e especialistas de áreas distintas – engenheiros, geólogos, arquitetos paisagistas, geógrafos, investigadores e ativistas – que irão pensar e ler o território nacional, os projetos e modelos propositivos de caráter diferenciado serão apresentados ao público em maio e ocuparão as sete salas expositivas do segundo piso do Palazzo Franchetti. Entre dispositivos que se propõem a resolver questões e outros que optam por caminhos de especulação utópica; de abordagens artística a questões políticas a partir de uma arquitetura ativista, Diogo Aguiar refere uma radiografia de sete práticas muito distintas e todas relevantes: umas servem-se da edificação como arquitetura e outras das palavras como arquitetura e esse paradigma representa o momento em que vivemos. A arquitetura não é só edifício, a arquitetura pode ser muito mais, e é isso que nos propomos com esta representação.
Os casos de estudo incluem a bacia do Tâmega num desafio lançado à equipa formada por Space Transcribers e pelo geógrafo Álvaro Domingues; a cota alta das margens do Douro será analisada por Dulcineia Santos Studio e pelo engenheiro civil João Pedro Matos Fernandes; o impacto da indústria mineira na região do Médio Tejo caberá à equipa de Guida Marques e da engenheira do ambiente Érica Castanheira. A Oficina Pedrêz e a arquiteta paisagista Aurora Carapinha exploram novas soluções decorrentes dos impactos ambientais do projeto da barragem do Alqueva; a equipa formada por Corpo Atelier e a antropóloga Eglantina Monteiro advoga o potencial político da arquitetura a partir da criação de objetos mobilizadores tendo como caso de estudo a exploração agrícola de alto rendimento no perímetro de rega do rio Mira; o combate à poluição e a reimaginação utópica da Lagoa das Sete Cidades caberá a Ilhéu Atelier e ao geógrafo João Mora Porteiro, e por fim a reflexão crítica sobre as aluviões nas Ribeiras Madeirenses e a criação de hipóteses de revitalização das linhas de água, hoje fortemente artificializadas, foi o desafio lançado à equipa Ponto Atelier e à investigadora Ana Salgueiro.
Para além da componente expositiva, Fertile Futures contempla um conjunto de iniciativas complementares e transdisciplinares com a realização de cinco Assembleias de Pensamento[2] e do Seminário Internacional de Verão. Ampliando o trabalho desenvolvido pelas sete equipas das Oficinas de Projeto, as assembleias do pensamento, cuja primeira sessão decorreu em janeiro no Palácio Sinel de Cordes em parceria com a Trienal de Arquitetura de Lisboa, consistem em conversas transdisciplinares que segundo Andreia Garcia abrem uma discussão pública entre Veneza e Portugal.
O envolvimento com a comunidade académica, a partilha de conhecimento e sensibilização das camadas mais jovens será possível através do Seminário Internacional de Verão, a realizar no Fundão de 10 a 22 de julho. Aberto à participação de estudantes de arquitetura de todo o mundo, o seminário possibilitará o contacto com as sete equipas das oficinas de projeto e a construção de dispositivos arquitetónicos à escala 1:1, em torno das questões da gestão da água, com o objetivo de sensibilizar as futuras gerações para modos alternativos de fazer arquitetura e para a importância desta disciplina na criação de uma sociedade mais justa.
De destacar a publicação, em dois volumes, do catálogo Fertile Futures coeditado entre a Architectural Affairs e Park Books, ampliado por parcerias editorias da e-flux, Umbigo e Canal 180.
Concluímos reforçando a importância da participação do projeto português Fertile Futures na reflexão de novas estratégias de gestão dos recursos hídricos, fundamentais para a construção de um futuro coletivo e ambientalmente mais sustentável.
[1] Citação da intervenção da curadora Andreia Garcia durante a conferência de imprensa realizada a 9 de março de 2023.
[2] As próximas Assembleias de Pensamento terão lugar a 20 de maio no Palácio Franchetti, Veneza; 3 de junho no espaço gnration em Braga; a 2 de setembro na fábrica da cerveja em Faro, e a 7 de outubro em Porto Santo, na escola da PORTA33.