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Histórias Enraizadas de Uriel Orlow

Uriel Orlow é um artista suíço, residente em Lisboa, que tem vindo a desenvolver um trabalho intenso em torno da natureza, e do universo da botânica.

Ao contrário de muitos artistas, que se debruçam de forma contemplativa sobre a natureza das plantas, no seu estado passivo, Orlow faz-nos ver o outro lado das plantas, e revela-nos como podem ser também agentes dinâmicos, e atuar no meio ambiente, modificando de forma decisiva o próprio curso da natureza.

Orlow utiliza meios multidisciplinares para nos divulgar, através de uma pesquisa sistemática, o que as plantas podem fornecer e desencadear. Na exposição Histórias Enraizadas, patente na Casa da Cerca, em Almada, pode ver-se uma ampla instalação vídeo, Up, Up, Up (2021). Uma bióloga, de nome Sonja Wipf, surge no vídeo, no meio de uma paisagem arrebatante, a observar os solos presentes nos cumes dos Alpes Suíços, em Piz Linard e Gorihorn. Procura espécies autóctones – pequenas e delicadas plantas que ainda restem e que detenham um conhecimento milenar do lugar, e de como sobreviver em tão frio e agreste clima. A bióloga descobre, com desagrado, que, com o tempo, e por causa do aquecimento global, as espécies naturais vão desaparecendo, e vão sendo substituídas por outras que sobem em altitude, estas últimas encontradas, anteriormente, nos pontos mais baixos da paisagem. São, no fundo, as plantas que comunicam o estado global do planeta.

Orlow transporta-nos para um entendimento da natureza que se afasta de uma ideia do homem enquanto centro das coisas, e por isso superior aos outros seres vivos. Vê as plantas como aliadas do homem, a ocupar um lugar primordial, no sentido em que podem, através do seu comportamento, dar ao homem o conhecimento derradeiro para que este encontre um meio de se regular e conectar com a natureza, assim como recuperar as suas riquezas e saberes. Está em causa a sobrevivência das espécies, e é nas plantas que podem residir as respostas, colocando a natureza na posição de fornecer a sabedoria que os homens não querem escutar, mas que os pode salvar.

Urge, por isso, a inversão da perspectiva de referência, no ecocentrismo – que retira o homem do centro,[1] e o coloca em relação objetiva com o mundo, e não numa conexão que se funda no antropocentrismo, ou no seu olhar subjetivo, ou ainda interesseiro.

Orlow também nos sensibiliza para a dimensão colonial inflectida sobre as plantas, e de como o homem, no alto do seu estado de superioridade decide o destino das outras espécies.

Para Orlow urge olhar com óculos verdes.

Importante também é observar a instalação vídeo Dedication. Orlow demonstra, através de várias telas retangulares, dispostas de modo irregular sobre o solo da galeria, os sistemas simbióticos que se estabelecem entre raízes e fungos[2], e que permanecem invisíveis ao olho humano. Sistemas radiculares subterrâneos que tornam possível o câmbio de nutrientes e permitem que as árvores comuniquem entre si[3].

Histórias Enraizadas de Uriel Orlow na Galeria Principal da Casa da Cerca – Centro de Arte Contemporânea até 5 de março.

 

 

 

 

[1] Maria do Céu Patrão Neves e Viriato Soromelho-Marques, em “A consciência do Mundo”, Ética Aplicada –Ambiente. Edições 70. Pág. 14 – 15.

[2] Conforme surge explicado na legenda da instalação da exposição “Histórias Enraizadas”, patente na Casa da Cerca

[3] Ibidem.

Carla Carbone nasceu em Lisboa, 1971. Estudou Desenho no Ar.co e Design de Equipamento na Faculdade de Belas Artes de Lisboa. Completou o Mestrado em Ensino das Artes Visuais. Escreve sobre Design desde 1999, primeiro no Semanário O Independente, depois em edições como o Anuário de Design, revista arq.a, DIF, Parq. Algumas participações em edições como a FRAME, Diário Digital, Wrongwrong, e na coleção de designers portugueses, editada pelo jornal Público. Colaborou com ilustrações para o Fanzine Flanzine e revista Gerador. (fotografia: Eurico Lino Vale)

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