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Prémio Novos Artistas Fundação EDP no MAAT

Adriana Proganó, Andreia Santana, Bruno Zhu, Maria Trabulo, René Tavares e Rita Ferreira são os finalistas da 14ª edição do Prémio Novos Artistas Fundação EDP que contou com mais de 700 candidaturas. O trabalho dos seis artistas encontra-se reunido no MAAT numa exposição coletiva que conta com a curadoria de Luís Silva, Luísa Santos e Sara Antónia Matos.

Seguindo o percurso expositivo, Maria Trabulo (Porto, 1989) apresenta Fragile Stones, uma instalação que recria os espaços e dispositivos de exposição do museu de Raqqa e do Syrian Heritage Archive, destruídos entre 2013 e 2017 durante a ocupação da cidade pelo Estado Islâmico. O facto de nenhuma das peças desaparecidas ser representada, mas sim os espaços e os dispositivos onde estavam expostas, metaforiza a ausência de um legado cultural irrecuperável.

Adriana Proganó (Lucerna, 1992), explora os limites da disciplina da pintura através de Little Brats. Uma instalação onde as personagens que normalmente habitam as suas pinturas abandonam a bidimensionalidade da tela e invadem o espaço do museu ganhando corpo, tornando-se esculturas que carregam camadas de tinta, que abandonam o espaço confinado e branco onde estavam expostas (remetendo para o conceito de white cubeintroduzido por Brian O’Doherty) e irreverentemente começam a invadir e inclusivamente a destruir o museu. Uma reflexão não apenas acerca da pintura enquanto disciplina, mas também acerca do papel dos espaços para a arte e do impacto que têm nas peças neles expostas.

Rita Ferreira (Óbidos, 1991) propõe um herbário habitável que parte do livro “Plants of the Gods” acerca do uso de plantas alucinogénias e rituais xamânicos em diferentes partes do mundo. Double-Blind comporta uma série de pinturas sobre papel de grandes dimensões dessas mesmas plantas, penduradas numa estrutura metálica que permite vislumbrar a sua frente e o seu verso enquanto percorremos o espaço e somos “engolidos” pelas imagens que Rita Ferreira escolhe mostrar-nos e pelo “white noise” que escutamos em simultâneo. Uma instalação imersiva que nos transporta para uma espécie de transe ou para um estado de espírito que poderá também ser proporcionado pelas plantas aqui representadas.

Andreia Santana (Lisboa, 1991) apresenta uma série de trabalhos em ferro, bronze e vidro. Estruturas híbridas que lembram conchas, carapaças, escamas, feridas, fósseis e remetem para estratégias de sobrevivência animal tais como a camuflagem ou a mudança de pele ou ainda táticas de sedução/proteção femininas tais como a ocultação ou a revelação de zonas do corpo. A combinação entre o ferro, elemento resistente, e o vidro, elemento frágil, poderá levantar questões relacionadas com a vida e com a morte e o quão próximos, ambos os estados poderão estar, já que os dois materiais reagem ao calor sendo o ferro permanentemente mutável ao contrário do vidro que uma vez moldado, jamais poderá ser alterado.

Bruno Zhu (Porto, 1991) apresenta Vida, uma instalação onde, como é hábito no seu trabalho, revela o valor simbólico, político, social e económico dos objetos que nos rodeiam, associando memórias e tempos distintos de quatro gerações da sua família recorrendo às figuras da sua irmã mais nova, mãe e avó (de origem chinesa). Uma modelo decapitada desfila numa passerelle onde são colocados objetos que representam as várias gerações, tais como quatro cd’s de música, um de música tradicional chinesa, um de música pop chinesa, um de Christina Aguilera e outro de Ariana Grande. Dois grandes relógios Patek Philippe assinalam o tempo em sentido horário e anti-horário, da 1h às 12h e das 13h às 24h. Toda a instalação é branca tornando neutros e uniformes todos os assuntos que os vários objetos sugerem.

Por fim, René Tavares (São Tomé, 1983), apresenta o projeto Estado Novo do Atlântico refletindo, como é recorrente na sua obra, a sua própria experiência de deslocamento e reassentamento moderno no contexto pós-colonial. O conjunto de três obras, Carruagem lusa e Piá mú, Olha para mim e Wash station, incitam a uma reflexão acerca do passado colonial, do presente e do que poderá ser um futuro pós-colonial.

Perante esta primeira seleção de artistas, o júri presidido por Vera Pinto Pereira (presidente da Fundação EDP) e composto por Amanda Carneiro (curadora), Luísa Cunha (artista), Marcio Doctors (crítico de arte e curador), Ana Rito (artista, curadora e investigadora) e Miguel Coutinho (administrador executivo e diretor geral da Fundação EDP), decidiu por unanimidade atribuir o Prémio Novos Artistas Fundação EDP 2022 a Adriana Proganó referindo que “o trabalho apresentado pela artista destacou-se pela ousadia ao produzir algo inédito dentro da sua própria trajetória, em diálogo com os temas e as linguagens a que se tem dedicado (…) a singularidade desta proposta, que, aliando ironia e humor à critica institucional, apresenta um olhar renovado da prática da pintura e do seu prolongamento no campo do objeto”. Foi ainda concedida uma Menção Honrosa a Bruno Zhu.

Segundo o Júri, os trabalhos apresentados espelham muitas das preocupações de uma geração, tais como questões de género ou o pós-colonialismo, através de uma grande diversidade de suportes, materiais e narrativas. A mostra assinala o espírito do momento atual na arte.

A exposição Prémio Novos Artistas Fundação EDP poderá ser vista até 6 de fevereiro no MAAT em Lisboa.

Joana Duarte (Lisboa, 1988), arquiteta e curadora, vive e trabalha em Lisboa. Concluiu o mestrado integrado em arquitetura na Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa em 2011, frequentou a Technical University of Eindhoven na Holanda e efetuou o estágio profissional em Xangai, China. Colaborou com vários arquitetos e artistas nacionais e internacionais desenvolvendo uma prática entre arquitetura e arte. Em 2018, funda atelier próprio, conclui a pós-graduação em curadoria de arte na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e começa a colaborar com a revista Umbigo.

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