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Laranjas de Luís Paulo Costa na Fundação Carmona e Costa

Luís Paulo Costa trabalha a pintura como eco de algo que já existe, pinta sobre imagens captadas fotograficamente, por necessidade e como tentativa de compreender melhor as coisas, ou talvez o mundo, como há uns tempos nos confidenciou a propósito da sua exposição individual Eco | Echo based on a true story na Galeria Cristina Guerra em 2019.

Pinta imagens ou objetos que lhe despoletam particular interesse devido a aspetos meramente pictóricos ou de composição. Laranja, tratando-se de uma palavra polissémica e, portanto, com dois significados distintos – a cor e o fruto, é necessariamente um desses objetos.

Laranjas é assim o título do projeto desenvolvido pelo artista como reação ao Espaço Artes Decorativas da Fundação Carmona e Costa. A formalidade deste espaço onde se encontram reunidas as peças da coleção de porcelanas da China e faianças portuguesas contrasta com a informalidade da réplica das cascas de cinco laranjas feitas em bronze e pintadas nas suas cores originais colocadas no chão das várias salas.

No canto de uma das galerias encontramos o fruto, laranja, intacto, também ele em bronze e pintado mimeticamente relativamente ao seu original. Pinturas tridimensionais que materializam o fruto contido na palavra Laranja. Já à entrada da exposição, um tríptico esclarece o outro significado da palavra, a cor. A imagem de uma laranja é pintada sem cor representando apenas formalmente o fruto, sendo que ao seu lado se adivinham dois tons laranja desse fruto.

O humor com que Luís Paulo Costa trabalha a palavra Laranja através da pintura rapidamente nos invade, uma vez que o ruído das cascas de laranja dispostas no chão em alcatifa do espaço museológico cuja formalidade impera, cria desconforto e choque a quem entra na galeria. Parece que acidentalmente as cascas foram deixadas por alguém mais distraído. O impulso é para as apanhar e depositar no lixo, mas rapidamente somos surpreendidos pelo peso e temperatura do bronze de que são feitas apercebendo-nos que não se tratam de cascas de laranja.

Um exercício de pintura onde o objeto ou a palavra Laranja são revisitados de diferentes formas, inteira ou descascada, bidimensional ou tridimensional e através de diferentes suportes – pequenas esculturas em bronze ou pinturas, numa tentativa de compreender ou interpretar ambos os significados que lhe são intrínsecos. Um trabalho de pintura que questiona a própria disciplina da pintura através de experiências acerca das várias dimensões que a constituem.

Laranjas de Luís Paulo Costa poderá ser vista até 19 de fevereiro na Fundação Carmona e Costa em Lisboa.

 

Joana Duarte (Lisboa, 1988), arquiteta e curadora, vive e trabalha em Lisboa. Concluiu o mestrado integrado em arquitetura na Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa em 2011, frequentou a Technical University of Eindhoven na Holanda e efetuou o estágio profissional em Xangai, China. Colaborou com vários arquitetos e artistas nacionais e internacionais desenvolvendo uma prática entre arquitetura e arte. Em 2018, funda atelier próprio, conclui a pós-graduação em curadoria de arte na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e começa a colaborar com a revista Umbigo.

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