Echoes of Nature de Manuela Marques no MNAC – Museu Nacional de Arte Contemporânea
Echoes of Nature é uma exposição que se encontra patente no MNAC – Museu Nacional de Arte Contemporânea, evocativa do percurso mais recente da artista e fotógrafa Manuela Marques.
Grande parte dos trabalhos representados, agora no museu, estão compreendidos, temporalmente, entre 2018 e 2022.
Echoes of Nature, apresenta no seu núcleo, a observação do meio natural, mas de modo plural, como refere a curadora Emília Tavares, no texto de sala: “nas suas variadas facetas, colocando em diálogo discursos científicos, percepcionais e estéticos”.
Os lugares de referência, palco da observação da artista, abrangem tanto a paisagem presente em territórios continentais, como Portugal e França, quanto territórios insulares, nomeadamente o arquipélago dos Açores.
Nas várias salas da exposição podem ser observadas, as seguintes obras: na primeira sala, Porteuse 3, 2022, e Extraction 1-5, 2022; nas salas seguintes: Sismique, 2019, Dans L’oeil du cyclone 1, 2022; Topographies 1 – 9, 2022; Porteur 2, 2019; La mesure du Soleil, 2022; Onde 2; Onde 3, 2022; Passage 2, 2022; Réplique 3, 2022; Explosion 1, 2022; Bombe 1, 2018; Surface sensible 1- 6, 2019; Réplique 1, 2022; Réfraction, 2022; e Fusions, um vídeo também de 2022.
As imagens fotográficas que brotam das obras de Marques não parecem resumir-se a uma simples reprodução de formas naturais, mas antes, partem das mesmas para assim assumirem novas identidades e domínios que não os da mera representação. Antes aparentam, por isso, serem meios para chegar a uma existência mais autónoma da própria cultura fotográfica.
Surface Sensible é um desses exemplos. Convoca-nos a um patamar mais profundo, em toda a sua obra, o de um novo palco de significações. Não só transmuta, as formas orgânicas e geológicas, do seu seio natural, como as exalta por meio do brilho de cores volúveis e aquáticas. O seu efeito diáfano é um banquete de cor, oferecido aos nossos olhos, mas também um confronto, talvez, entre o natural e o artificial, o real e o ilusório, o encantador e o cru. O certo é que somos embalados pela melodia das formas/mantos (que cobrem), ou ondulam em torno do que imaginamos serem configurações orgânicas(?) Ou antes substâncias perecíveis(?).
Este trabalho, do qual não podemos dissociar uma relação telúrica, e algo embrionária com a matéria, encontramos os efeitos da transitoriedade, os vestígios do acaso, o vago sopro do indiscernível.
Também apreendemos a curva, a propriedade do que é reticulado, a própria mancha, o vestígio, a sombra. O fluxo da matéria aquosa. Alheado da regra, porém, em oposição a ela, reside então, enquanto sugestão, enquanto contraponto.
O olhar discerne sobre as propriedades das imagens, vê-as como alusões a uma ideia já tomada da história, a uma ideia de romantismo. Mas claro que esse juízo é feito de múltiplos exercícios, inúmeras tentativas, anteriormente realizadas. Era Merleau-Ponty quem dizia que “a visão não aprende senão vendo, não aprende senão consigo mesma”.
De uma forma extensível, a arte também é obediente à sua história, ao que vê sobre ela. atravessa-a, e desloca as suas propriedades para o plano presente, como em Point de Fuite, a última obra exposta no espaço, em Echoes of Nature. Uma paisagem natural sumptuosa cobre toda a fotografia. Ao passo que, no fundo, uma figura enigmática, virada de costas, contempla toda essa magnificência.
Podemos ainda mimetizar este ato contemplativo, focando-nos no deleite da obra Dans L’oeil du cyclone 1, ou demorando o olhar em Fusions, e as suas permanentes variações.
Echoes of Nature está patente até dia 29 de janeiro.