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(Im)Materiality

Exposição coletiva, com obras de 35 artistas, patente no Espaço Expositivo do Centro de Artes de Águeda, (IM)MATERIALITY é uma abordagem, em três instâncias, das noções de materialidade e de imaterialidade, na busca por um estado de apneia, uma zona cinzenta entre o que, de determinado modo, é e não é. Curadoria de Graça Rodrigues, Sónia Ribeiro, Katherine Sirois, Lourenço Egreja e Diogo Bento; textos de Katherine Sirois, Graça Rodrigues e Francisca Vaz; direção artística e produção de This is not a White Cube Gallery.

Numa primeira análise, antes do momento preambular no qual somos confrontados com a obra Trail 4, de Patrick Bongoy, colocada no foyer de acesso ao espaço expositivo, surge a importância de sublinhar esta invasão de uma entidade que se afirma não ser um cubo branco, na acessão museológica da expressão, na galeria cubo branco do Centro de Artes de Águeda. Este pensamento, em colaboração com as temáticas expostas e até mesmo com a origem dos artistas representados, cria uma narrativa que não deve ser descartada e que não é meramente semântica. O white cube deve ser invadido, para seu próprio bem.

O conceito curatorial prende-se na ideia de que a noção de plástica (ou plastikós, em grego antigo) serve de noção central e reconciliadora entre os conceitos de materialidade e imaterialidade, no campo da arte. De certo modo, é-nos transmitido no texto da folha de sala, com autoria de Katherine Sirois, de que entre o material do qual uma obra de arte é feita (o seu genoma, se quisermos) e entre a ação simultaneamente visível e invisível que a transforma no que ela virá a ser (uma espécie de fenótipo, mantendo a linha de raciocínio), existe a noção de plastikós, agregadora, em simultâneo, do gesto que transforma e do pensamento, que porventura o elevará, na sua dimensão espiritual ou emocional. Assim, partimos para o projeto expositivo que se vê dividido em três núcleos que contribuem para o explanar do conceito que nos é trazido pelo gesto curatorial:

O Corpo e a Terra, no qual as obras abordam a relação do eu, com a terra e com tudo o que nela é visível e perecível. Talvez o mundano.

Plasmic e Plastikós (entre a materialidade e a imaterialidade), o espaço de interrupção. Da procura por um lugar de contemplação em pleno estádio transitório.

O Espírito e o Céu, onde os trabalhos expostos procuram a transmissão do invisível.

A obra de arte jamais se subjugará aos signos que transportamos no olhar. Com este conjunto de obras percebemos que a noção de plastikós é, talvez, a nossa breve possibilidade de tocar (literalmente) o sublime, de dar corpo às imagens plásmicas, conceito de Barnett Newman que também suporta teoricamente esta exposição. O processo involuntário de deslembrança da matéria é também o abrir da porta a estas imagens, pois, no final das contas, no inevitável recurso à memória e aos outros referenciais etéreos que nos compõem, tudo é e não é.

Com trabalhos de Ana Silva, António Faria, Barbara Wildenboer, Bete Marques, Cássio Markowski, Dagmar Van Weeghel, Domingos Loureiro, Ery Claver, Hennie Meyer, João Dias, João Jacinto, Katharien de Villiers, Kimathi Mafafo, Kudzanai Chiurai, Gonçalo Mabunda, Luís Damião, Manuela Pimentel, Marion Boehm, Nadia Raaths, Nelo Teixeira, Nicole Rafiki, Patrick Bongoy, Paulo Climachauska, Pedro Pires, Pedro Valdez Cardoso, Raquel Belli, Remofiloe Mayisela, René Tavares, Saïdou Dicko, Sidonie Hadoux, Sofia Yala, Stephané E. Conradie, Susana Cereja, Vanessa Barragão e Vivien Kohler.

(IM)MATERIALITY está patente até dia 15 de janeiro de 2023.

Daniel Madeira (Coimbra, 1992) é licenciado em Estudos Artísticos pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e mestre em Estudos Curatoriais pelo Colégio das Artes da mesma universidade. Coordenou, entre 2018 e 2021, o Espaço Expositivo e o Projeto Educativo do Centro de Artes de Águeda. Atualmente, colabora com o Círculo de Artes Plásticas de Coimbra (CAPC).

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