Batalha Centro de Cinema: 1ª Temporada (dezembro 2022 – julho 2023)
A reabertura do Cinema Batalha, há muito tempo aguardada pelos portuenses, está agendada para o dia 9 de dezembro de 2022, homenageando a história do espaço, simultaneamente inserindo-o na contemporaneidade, assumindo-se como um Centro de Cinema, sob a Direção Artística de Guilherme Blanc. Com a missão de promover o conhecimento e a fruição cultural através do Cinema e da Imagem em Movimento, irá ter uma programação regular, tendo em consideração as temáticas dominantes do pensamento atual, convergindo diferentes linguagens cinematográficas e práticas artísticas, a história do cinema português e o diálogo com o público e entidades da cidade. O Batalha Centro de Cinema colmata uma lacuna no Porto, não só no que diz respeito à fruição de várias cinematografias, mas também de diferentes expressões no âmbito das imagens em movimento, contribuindo para o debate, reflexão e descoberta do cinema nacional e internacional, mas também realizado no território onde está inserido.
Tendo como objetivo exibir continuamente formas e géneros fílmicos antigos e contemporâneos, enquadrando-os no pensamento e práticas artísticas atuais, o BCC irá apresentar uma série de Ciclos Temáticos, bimensais, com temáticas distintas, promovendo a reflexão sobre noções sociais, culturais e políticas, dos quais destacamos o inaugural Políticas do Sci-Fi (dezembro – janeiro), com curadoria de Ana David e Guilherme Blanc, em que será exibido The Day the Earth Stood Still (1951) de Robert Wise, com entrada gratuita, marcando a reabertura do Cinema. Todavia, também poderemos acompanhar Domesticidade(s) (março), com curadoria de Alejandra Rosenberg Navarro e Ana David, El Futuro Ya No Está Aquí (maio), com curadoria de Guilherme Blanc e Virginia Pablos, assim como Contra-Fluxos (julho), com curadoria de Almudena Escobar López e Margarida Mendes.
Um dos eixos principais da programação são os Focos e Retrospetivas. Ciclos dedicados à filmografia de realizadores e artistas de várias nacionalidades e épocas, que irá proporcionar uma visão mais consistente, elaborada e refletida acerca da obra de cineastas, fundamental para o entendimento da sua linguagem, singularidade e noções fílmicas. Deste conjunto, salientamos, durante os meses de dezembro e janeiro, a mais completa retrospetiva apresentada em Portugal da cineasta francesa Claire Denis, curiosamente com duas longas-metragens estreadas este ano e uma filmografia com mais de cinco décadas, que reflete sobre a cultura colonial europeia. Ainda em dezembro, ficaremos a conhecer obras da artista visual polaca Agnieszka Polska, com temáticas que versam desde a extinção humana, à memória, à tecnologia, ou ao desastre ecológico, através da produção de imagens em movimento distintas. E ao longo de 2023, os focos mais aguardados irão incidir nos cineastas portugueses, nomeadamente em André Gil Mata (fevereiro), com retrospetiva integral, estreia de O Pátio do Carrasco (2023) e lançamento de edição sobre o autor, em Luísa Homem (abril – maio), e Basil da Cunha (junho), com a exibição de um filme-concerto sobre o Bairro da Reboleira. Não obstante ressalvar a retrospetiva de Lorenza Mazzetti (maio), cineasta italiana cofundadora do movimento Free Cinema.
Ao mesmo tempo, o BCC também enfatiza as criações cinematográficas coletivas. Em janeiro, ao longo de quatro dias, o coletivo COUSIN, criado em 2018, por artistas e cineastas descendentes de povos indígenas norte-americanos, irá apresentar um conjunto de projetos fílmicos e performativos, num cruzamento entre o cinema de artista, a ficção e o documentário. Em março irá estar em exibição a obra restaurada do Yugantar Film Colletive, primeiro grupo de cinema indiano criado e formado por mulheres nos anos 1980. E por último, em julho, iremos ter a oportunidade de ver filmes realizados pelo coletivo Zanzibar, criado durante o ano de 1968 em Paris, constituído por jovens artistas e realizadores, como Philippe Garrel, com o propósito de fomentar a realização de projetos cinematográficos de vanguarda.
O olhar e o questionamento sobre a cinematografia nacional irá ser contínuo e perpétuo, primeiramente com a programação anual Seleção Nacional, em que serão apresentados filmes de vários géneros, durações, formatos e épocas, potenciando o pensamento, valorização e divulgação do património fílmico português, com curadoria de Daniel Ribas e Paulo Cunha. E as Matinés do Cineclube, recuperando a relação do Batalha com o Cineclube do Porto, que desde os anos 1940 e durante décadas organizou matinés no Cinema, numa programação dedicada a momentos fundamentais da instituição de charneira.
Do que consta das sessões Especiais!, destacamos Towards the Last Movies (abril), em que iremos ter a chance de assistir aos últimos filmes vistos por celebridades, com curadoria de Stanley Schtinter. Igualmente, O Novos Encontros do Cinema Português, referência à Semana de Estudos sobre o Novo Cinema Português, evento decisivo que ocorreu em 1967, organizado pelo Cineclube do Porto com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian e da Câmara Municipal do Porto, tendo em perspetiva as políticas de financiamento da produção cinematográfica e que em junho irá trazer a debate a Produção, Distribuição e Exibição, Crítica e Educação, num evento dedicado à indústria do cinema.
O BCC, para além das sessões regulares de cinema, também irá apresentar outras expressões relacionadas com as imagens em movimento, num ciclo anual de exposições e instalações, das quais enfatizamos Premium Connect de Tabita Rezaire, patente de dezembro a janeiro, em que a artista questiona a exploração colonial, através da cena de descodificação em The Matrix; Croma, o sono de Pedro Huet, de fevereiro a abril, em que vários tipos de imagens, relacionadas com a história de um sonho, derivam de uma jarra imbuída em chroma-key; e Escondidas na caverna que forjamos umas das outras, patente de maio a julho, partindo de um convite a Alice dos Reis e a Pedro Neves Marques para desenvolverem um projeto expositivo com a poeta americana CAConrad. Paralelamente, haverá palestras, conversas e debates, como A Minha História de Cinema #1, em que iremos ter a ocasião de conhecer Trinh T. Minh-há (Vietnam), Manthia Diawara (Mali), ou Byung-Chul Han (Coreia do Sul). Ressalvando o filme-concerto Os Faroleiros, a partir do restauro do filme mudo português, com uma nova composição sonora de Daniel Moreira, interpretada ao vivo pelo quarteto de cordas The Arditti Quartet.
Acresce à programação central, o ciclo Luas Novas enfatizando filmes realizados por jovens cineastas, a inclusão de Festivais e Mostras de cinema da cidade, como o Porto Femme, o BEAST, ou o Porto/Post/Doc, assim como sessões da Filmaporto – film commission e atividades com o Laboratório de Cinema da Torre. Simultaneamente, a sessões dirigidas a Famílias e a Escolas, desejamos salientar, Cinema ao Redor, em que o Batalha se propõe a promover a partilha e o lazer fora da sala de cinema, pelo meio da formação de grupos, cursos e oficinas para adultos e crianças, nomeadamente o Clube de Leitura, o Curso de Crítica de Cinema, o Workshop de Sci-Fi: Ferramentas de Delírio, ou Batalhawood, desenvolvido em colaboração com os vizinhos de raízes no Bangladesh. Por último, importa referir a publicação de textos críticos e edições sobre a programação, não descorando a biblioteca, a filmoteca e a livraria dedicadas ao cinema e à imagem em movimento, assim como a Cafeteria & Bar.
O Cinema Batalha inaugurado em 1947 manteve a sua atividade cinematográfica durante mais de 50 anos tornando-se numa das salas de exibição de filmes mais icónica do Porto. Quem não se lembra da expressão idiomática portuense vai no Batalha para dizer que algo é tão incredível que se assemelha a um filme. Todavia, e apesar de ter havido uma tentativa de manter o espaço com atividades culturais, em 2006 encerra e em 2010 encontra-se devoluto. No entanto, em 2017 a Câmara Municipal do Porto estabelece um acordo com os proprietários, a Família Neves Real, encarregando-se da gestão por 25 anos. Deste modo, o Batalha reabre com projeto de reabilitação dos arquitetos Alexandre Alves Costa e Sérgio Fernandez, a partir do risco original de Artur Andrade. Fruto da renovação do edifício foram descobertos e restaurados dois frescos de Júlio Pomar, murais alusivos à Festa de São João, censurados pela PIDE em 1948 e ocultados por várias camadas de tinta, que agora podem ser vistos.
Na próxima temporada desejamos ver uma maior abertura a um público geral, sobretudo aos da geração que tiveram a oportunidade de conhecer o Batalha, assim como assistir a uma programação de exposições e instalações mais ambiciosa e a um maior número de ciclos de cinema experimental e de artista, históricos e contemporâneos, sobretudo nacionais. Contudo, a reabertura do BCC irá possibilitar o visionamento de filmes de diferentes cinematografias, épocas e géneros, com uma curadoria bastante eclética que valoriza a reflexão, o debate e a problematização de questões não só relacionadas com a teoria do cinema, mas também com a atualidade. Do mesmo modo, o acesso a uma biblioteca e livraria dedicada ao cinema e à imagem em movimento, assim como a uma filmoteca destinada a preservar o património fílmico do Porto, irá preencher um vazio na cidade, que sempre teve uma forte ligação com a arte cinematográfica desde os seus primórdios.
O Batalha Centro de Cinema inaugura a 9 de dezembro de 2022.