Ginny on Frederick: de Loja de Sanduíches a Galeria de Arte
Freddie Powell está a abanar o panorama artístico Londrino. Numa sexta-feira não tão regular, dirijo-me ao Barbican, saindo na estação de metro de Farringdon e parando pouco tempo depois, numa rua despretensiosa. Escondido à vista de todos encontra-se o Sunset II Sandwich Bar: “Hot & Cold Food to Take Away”, tendo acabado de almoçar, a placa por cima da porta não me parece muito apelativa, no entanto, não estou aqui para olhar para comida mas sim para arte. Entre a loucura da Semana do Frieze, o Freddie tem a gentileza de me deixar roubar um pouco do seu tempo e fazer-lhe algumas perguntas.
No 91-93 Charterhouse St vive a Ginny on Frederick, uma loja de sanduíches transformada em galeria de arte. O espaço é composto por uma porta e aproximadamente 10 metros quadrados. “Penso que costumava vender Paninis. Infelizmente, nunca comi um sanduíche daqui, tinha horários ligeiramente estranhos por causa do mercado de carne em frente. E, é pequeno, por isso ainda estou confuso sobre onde cozinhavam, mas adoraria falar com quem abriu a Sunset”. Freddie disse-me que costumava viver perto e passar pelo espaço várias vezes antes mesmo de se aperceber que estava lá. A pobre Sandwich Shop fechou durante o confinamento, Freddie viu-a durante o Verão e reabriu Ginny on Frederick em Setembro de 2021.
Frederick – Abri um espaço chamado Ginny on Frederick porque era em Frederick Terrace em Haggerston. Era um espaço em arco, fiz uma exposição de grupo chamada Octopus e, três semanas mais tarde, aconteceu a pandemia.
A primeira tentativa de um espaço permanente foi deitada por terra pela COVID-19, mas Freddie está grato por isso, pois permitiu que as exposições e o programa continuassem a desenvolver-se no impasse do confinamento. No entanto, o projeto tem uma história mais longa, foi anteriormente chamado Ginny Projects e opera desde cerca de 2015.
Frederick – Sim, Ginny é o nome da minha mãe, diz com um sorriso orgulhoso. O nome surgiu por acaso na primeira exposição de Powell. “Fiz um espetáculo com a Alexandra Metcalf num quarto de hotel em Seekonk, Massachusetts. Era um hotel temático medieval, era tão estúpido!”, ri-se ele. “Mas o espetáculo foi incrível e depois alguém quis escrever sobre ele”, recorda-se com preocupação. Ainda não tendo nomeado o projeto, como um jovem licenciado ainda a descobrir o seu espaço, chamou-lhe Ginny porque o quarto de hotel tinha sido pago com o cartão de crédito da sua mãe.
Um empreendedor inato, Freddie diz-me que “se não te ofereceram uma exposição, faz uma no teu quarto”, esta atitude conduziu-o ao ponto em que se encontra agora. Uma das primeiras peças de arte que comprou estava exposta na sala de estar de outra pessoa, e uma das suas primeiras exposições envolvia tomar chá com a sua mãe. Ele procura o não convencional e o inovador, acreditando que é por isso que as pessoas se sentem atraídas pela Ginny on Frederick.
Depois de se formar na Rhode Island School of Design, Powell regressou a Londres, percorrendo o circuito da galeria em espaços como Union Pacific e White Cube, enquanto ainda “organizava dramaticamente projetos e muitas publicações”, o que o levou à New York Art Book Fair, à Paris Ass Book Fair e a muitos outros projetos independentes.
“As amizades rapidamente se tornam relações profissionais, que rapidamente se tornam redes de contactos e cenas emergentes”. Através de conexões em cadeia, desde um artista que partilhava um estúdio com outro, ao seu amigo que o visitava e ao amigo de um amigo que tinha uma prática interessante, cresceu o programa de Ginny on Frederick. Inicialmente centrado em artistas baseados em Londres – também devido à pandemia – e atualmente a expandir o seu círculo, planeando mostrar artistas de Viena, Paris ou Lisboa. “Agora que fizemos um ano de programação, consigo ver algumas linhas comuns, como uma performatividade interessante ou uma prática obsessiva ou vertentes curiosas”.
“Gosto muito que o espaço se transforme com o artista e o que eles querem fazer”. Abrangendo desde um motel, até um duche ou uma liquidação total, Ginny tem uma qualidade transformative, quase como uma site-specificity reversa. Como uma entidade independente, Freddie chama frequentemente Ginny pelo seu primeiro nome – ela tem a sua própria personalidade.
Atualmente, o espaço mostra a sua primeira exposição coletiva, Civil Twilight, que inclui obras de Guendalina Cerruti, Sam Cottington, Evangeline Ling, Hamish Pearch, Gal Schindler, Mary Stephenson e Michelle Uckotter. “Crepúsculo Civil é este tempo específico que existe entre o pôr do sol e quando escurece, o período em que ainda está claro”, um tempo de potencial.
O programa é normalmente planeado com seis meses de antecedência, estando já em conversas iniciais para o final de 2023. Está planeada uma série de artistas entusiasmantes para o novo ano, ele descreve-me parte do programa enquanto eu respondo com “uhhhs” e “ahhhhs”, parando-o quando ele menciona Jaime Welsh. O artista nascido em Lisboa, baseado em Londres, vai expor na Primavera, uma exposição que certamente não irei perder.
“Ginny tem sido uma galeria comercial desde o primeiro dia, o que tem sido ótimo, o apoio tem sido capaz de a manter em funcionamento. A Ginny tem muitas cabeças, é por isso que posso estar aqui e fazer exposições ambiciosas. E continuando assim, vamos ver o que acontece a seguir…”. Freddie Powell está a abanar o panorama artístico Londrino. Tudo o que temos de fazer é prestar atenção.